Norte e Sul
No modelo que
durante nove anos escrevi surgiram coisas estranhas, por exemplo, os pares de
opostos/complementares. Um deles é norte e sul. Você pode encontrá-los nos
antônimos, mas listas de dipolos não são dicionários de antônimos, porque os
pólos, tese e antítese, e o terceiro que é sua solução sintética, são motores
autônomos, e não meros reflexos uns dos outros.
Deve-se entender,
desde logo, que os pares não são mais que divergências provisórias, enquanto
estamos tentando compreender o mundo, momento em que convergem na solução.
Só como ilustração,
estudemos esse dipolo em particular.
Ora, acima de todo
norte há um outro norte. Linhares fica ao norte de Vitória, mas São Mateus fica
ao norte de Linhares, que fica ao sul de São Mateus. Então há um norte que é AO
MESMO TEMPO norte e sul. Isso vai se repetir indefinidamente, para todos os
pontos do planeta, menos dois, o inverso se dando ao sul.
Pois Cachoeiro fica
ao sul de Vitória, mas Mimoso do Sul fica ao sul de Cachoeiro, que fica ao
norte de Mimoso. Então há um sul que é SIMULTANEAMENTE sul e norte. No
hemisfério norte como no hemisfério sul essas “confusões” vão se repetir. Todo
norte é concomitantemente sul, e vice versa.
Entrementes, como eu
disse, há dois pontos em que isso não acontece. São o Pólo Norte e o Pólo Sul.
Não há norte acima do PN nem sul abaixo do PS. Contudo, ali se passam outras
esquisitices. Veja que há os paralelos, as circunferências cada vez menores ou
maiores, conforme vejamos, perpendiculares ao eixo da Terra, e os meridianos,
as linhas imaginárias que vão de um Pólo ao outro.
Como herdamos dos
sumerianos a notação de base 60, medimos os ângulos desse modo como 360º
(graus), cada um com 60’ (minutos) e 60” (segundos), daí 360 x 60 x 60 =
1.296.000” de arco. Podemos dizer que, segundo esse modo de medir, o Pólo Norte
está cercado de 1,3 milhão de direções do sul, que do outro lado se fundem num
sul único. Na verdade são infinitos, e inversamente no Pólo Sul.
Então, de um único
norte nascem infinitos sul, e vice versa.
Paradoxos aparecem
quando definições erradas são dadas, de modo que poderíamos minorar as
dificuldades dizendo que NORTE é um sentido, e não um lugar. Diríamos que
Linhares FICA AO NORTE, quer dizer, no sentido do norte, e não NO NORTE, pois
se trataria de um espaço, o que não pode ser.
Mas, veja, deve ser
sentido, e não direção, porque de outro modo do único Pólo Norte emergiriam
infinitas direções sul, e isso não pode estar certo. Pois se você estivesse num
meridiano e eu em outro, qual seria a direção sul correta? A sua, ou a minha,
ou a de qualquer outro?
Acontece que sentido
é um vetor, uma flecha que começa e termina. Não existe vetor curvo. Além do
quê a Terra está inclinada 23,5º em relação à eclíptica, o plano em que gira em
torno do Sol. Esse vetor que indicasse o Norte verdadeiro não serviria para
outros planetas, além de tangenciar continuamente a Terra.
Mais ainda, o Pólo
Norte da Terra não pode ser o Norte verdadeiro, porque se tornaria absoluto, e
o nosso planeta o centro do universo, sem falar nas relatividades culturais de
uns chamarem o norte de sul e vice-versa.
A coisa melhoraria
se usássemos aqueles círculos de que falei, os paralelos, que seriam então
simultaneamente norte-e-sul, nortessul.
Um novo modo de ver a que deveríamos nos acostumar. Você não precisaria pregar
uma bandeirinha e dizer: aqui é norte, e convencer os outros disso. Todo lugar
seria nortessul, e quando disséssemos norte, saberíamos que estaríamos usando a
propriedade norte de nortessul, uma metade do todo. Pode parecer uma mudança
pequena, mas tem enorme significado para a união das criaturas. E vimos que,
para a Terra, há norte e sul relativos e há Norte e Sul absolutos, que por sua
vez não servem fora da Terra.
Então nós vemos que
uma coisa de que estávamos completamente seguros foge-nos às mãos, e pode
render muitas discussões e debates acirrados. Foi isso que o modelo fez:
mostrou-nos que os extremos polares são temporários, e devem ser usados com
brandura por ambos os lados, porque é na fusão que encontraremos a solução.
E assim é para todos
os pares de opostos complementares, por exemplo, homem e mulher, que na
realidade constituem um ser único, o homulher, par fundamental da Criação, em
seu próprio nível. Mas isso é outra história.
Vitória,
sexta-feira, 11 de janeiro de 2002.
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