quinta-feira, 29 de dezembro de 2016


ADRN e Psicologia

 

                            No livro Os Dragões do Éden, Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1980, Carl Sagan coloca, p. 13, uma figura sem nome e número, no qual no eixo horizontal ou dos X põe o “número de bits de informação” e no eixo vertical ou dos Y a “época de aparecimento (anos atrás) ”.

                            De tal figura extrairei o quadro seguinte:

FORMA DE EVOLUÇÃO                                                                                        LIMITE EM BITS

Informação genética (nos pares de nucleotídeos de

ADN por célula haploide)                                                                                          1010

Informação cerebral                                                                                                   1013

Informação cultural extra somática humana (bibliotecas etc.)                            N.D.

 

                            O ADRN possibilita a construção do cérebro, que é a base sobre a qual as pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) criam nos ambientes (municípios/cidades, estados, nações e mundo) a informação-controle cultural. Veja que da informação genética à informação cerebral há um salto de mil vezes. Como os seres humanos somos cerca de seis bilhões e há todos os objetos e gravações (em papel, em fitas, em CD’s, de toda forma), naturalmente isso exponencializa ainda mais.

                            Ademais, porque o ser humano soube construir formas e conceitos, ou imagens e estruturas, formestruturas, incorporou a seu projeto os fungos, as plantas, os animais que trabalham para nós, isto é, bastante de todo o ADRN planetário (resta muito, ainda). De modo que todo o ADRN da Terra tem por fora uma capa psicológica que o envolve e explora, além de explorar a si mesma.

                            Entrementes, a base é uma só, é o mapa geral do ADRN, sobre o qual pode-se ou não construir. Agora, desejando construir, não há outro. Por assim dizer, usamos no enxerto da árvore de complexidades humanas o mesmo cavalo vegetal ou vital de sempre. A informação de base é a mesma.

                            Se formos criar algo de realmente diferente, devemos construir uma nova base. Só que não sabemos como fazê-lo, não só por não conhecermos a raiz como também porque não existe um segundo exemplo, algo de divergente que nos faça visualizar novos caminhos. Só temos um exemplo, nenhum outro. Só a Vida geral na Terra.

                            Não há como fazer variações psicológicas que destoem. São sempre aquelas que a base permite. Por exemplo, construindo sob gravidade não dá para estender muito as possibilidades dos arcos, como seria o caso no espaço com gravidade tendendo ao mínimo universal da radiação de fundo.

                            Você vê? Por mais que façamos vamos ser sempre Psicologia do ADRN terrestre, com as imitações inerentes. Um outro exemplo seria que, por não termos asas, nunca iremos realmente entender os pássaros, o que eles sentem em suas almas pequeninas do que seja voar, planar nos céus. Ou somos impulsionados em aviões ou vamos encapsulados em planadores, asas deltas, ultraleves. Não dá para saber o que o ar passando na pelagem, o sol, o frio ou calor, outras percepções proporcionam aos voadores. Só se o cérebro de um pássaro enviasse as sensações diretamente a um cérebro humano, fundidos os dois por qual processo tecnocientífico não se sabe. E, na medida em que liquidamos os animais, plantas e fungos, vamos perdendo para sempre a capacidade de sentir como eles, de ver como eles, de perceber como eles várias facetas deste mundo que nunca conheceremos do modo como eles conhecem.

                            Ou seja, por ser o ADRN de cada ser uma INSERÇÃO psicológica, uma janela de percepção, o ser humano não pode sair da sua, por mais vasta que seja. Embora agora a informação genética e a informação cerebral sejam os primos pobres da cultura universal humana, ainda há lá tudo o que não vemos, não cheiramos, não degustamos, não palpamos, não ouvimos de modo diferente.

                            Vitória, quinta-feira, 03 de outubro de 2002.

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