A Felicidade das Crianças
Escrevi
alhures noutras palavras que o bebê é o mais apto de todos os que lutam pela
sobrevivência, usando tanto os artifícios plenamente honestos quanto os
completamente desonestos, entre eles a mentira, os subterfúgios, a competição
acirrada por posse e domínio, etc.
Bom,
agoraqui é preciso investigar uma outra faceta, a saber, responder a esta
pergunta: quanto do que aplicamos na felicidade das crianças vemos como
investimentos de alto arrastamento socioeconômico ou como investimento em nossa
própria felicidade?
Os
americanos e os europeus, e depois por cópia e iniciativa própria os japoneses
cristianizados, foram os que responderam mais por e foram mais longe nesses
investimentos. E ainda é muito pouco, pois não há, digamos, um Ministério da
Infância. Há uma quantidade de departamentos dispersos promovendo uma série
de alocações de recursos humanos e materiais, mas não algo de focado,
inteiramente dirigido a esses cidadãos (de pleno direito).
Naturalmente
quase toda tristeza vem de sermos adultos, ao passo que quase toda alegria vem
de sermos crianças ainda os que já velhos continuam de alma leve e sorridente.A
garantia de que o mundo não se perca em violências inauditas vem quase só do
que aplicamos na abertura de nossas mentes recém nascidas, de quanto o funil da
Criação se abre em aspirações de ser e estar, e de ter também, mas um ter
não-centrado em possessividades.
Quanto
riem as crianças?
Quanto
festejam?
Por
esses índices poderemos saber se uma civilização está se encaminhando para a
ditadura ou para a liberdade, para a tirania ou a democracia participativa. Há
alguma secretaria no governo do ES dedicada a olhar pelas crianças
exclusivamente? Não há; daí deduzimos que viver no ES não é tão bom quanto
poderia ser. Se as crianças são abandonadas tudo de melhor que a humanidade tem
e pode ter está mergulhando na indignidade do tratamento subumano. É porisso
que o futuro do Brasil que abandonou suas crianças nas décadas dos 1970, dos
1980 e dos 1990 só pode ser algo de muito difícil, senão trágico.
Onde
no Brasil as tecnartes (da visão: dança, moda, pintura, desenho,
fotografia, poesia, prosa, etc.; da audição: música, discurso, etc.; do paladar:
comida, bebida, pasta, tempero, etc.; do olfato: perfumaria, etc.; do tato,
sentido central: cinema, teatro, esculturação, paisagismo/jardinagem,
decoração, tapeçaria, urbanismo, arquiengenharia, etc.) festejam as crianças?
Muito pouco, não é? Pouco demais, o que me faz estremecer. Que tipo de maldade
profunda nos fez abandonar nossas crianças?
O
investimento mais proveitoso em liberação, em nacionalidade, não é militar de
defesa das fronteiras, não é de produçãorganização governempresarial, não é em
educação sequer, não é em hospitalização, não é nada disso, embora tudo seja
necessário; o fundamental é a felicidade das crianças. Disso virá tudo mais, no
futuro. E crianças significam muitas praças, muitas festas.
Ora,
há o investimento interno (que é pessoal: dos indivíduos, das famílias,
dos grupos e das empresas) e o investimento externo (que é dos
ambientes: dos municípios/cidades, dos estados, das nações, do mundo) nas
crianças. O II que fique a cargo das pessoas, e deve ser grande. O IE, a cargo
dos governos (executivos, legislativos, judiciários), deixa muito a desejar.
Onde estão as praças, onde gente treinada para vigiar e defender as crianças,
onde as festas, onde as diversões nas férias, onde o brilho?
Não
vejo nada disso.
Onde
estará o bom futuro se não há lá crianças felizes, só adultos amargurados?
Vitória,
quinta-feira, 05 de setembro de 2002
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