terça-feira, 27 de dezembro de 2016


A Felicidade das Crianças

 

                            Escrevi alhures noutras palavras que o bebê é o mais apto de todos os que lutam pela sobrevivência, usando tanto os artifícios plenamente honestos quanto os completamente desonestos, entre eles a mentira, os subterfúgios, a competição acirrada por posse e domínio, etc.

                            Bom, agoraqui é preciso investigar uma outra faceta, a saber, responder a esta pergunta: quanto do que aplicamos na felicidade das crianças vemos como investimentos de alto arrastamento socioeconômico ou como investimento em nossa própria felicidade?

                            Os americanos e os europeus, e depois por cópia e iniciativa própria os japoneses cristianizados, foram os que responderam mais por e foram mais longe nesses investimentos. E ainda é muito pouco, pois não há, digamos, um Ministério da Infância. Há uma quantidade de departamentos dispersos promovendo uma série de alocações de recursos humanos e materiais, mas não algo de focado, inteiramente dirigido a esses cidadãos (de pleno direito).

                            Naturalmente quase toda tristeza vem de sermos adultos, ao passo que quase toda alegria vem de sermos crianças ainda os que já velhos continuam de alma leve e sorridente.A garantia de que o mundo não se perca em violências inauditas vem quase só do que aplicamos na abertura de nossas mentes recém nascidas, de quanto o funil da Criação se abre em aspirações de ser e estar, e de ter também, mas um ter não-centrado em possessividades.

                            Quanto riem as crianças?

                            Quanto festejam?

                            Por esses índices poderemos saber se uma civilização está se encaminhando para a ditadura ou para a liberdade, para a tirania ou a democracia participativa. Há alguma secretaria no governo do ES dedicada a olhar pelas crianças exclusivamente? Não há; daí deduzimos que viver no ES não é tão bom quanto poderia ser. Se as crianças são abandonadas tudo de melhor que a humanidade tem e pode ter está mergulhando na indignidade do tratamento subumano. É porisso que o futuro do Brasil que abandonou suas crianças nas décadas dos 1970, dos 1980 e dos 1990 só pode ser algo de muito difícil, senão trágico.

                            Onde no Brasil as tecnartes (da visão: dança, moda, pintura, desenho, fotografia, poesia, prosa, etc.; da audição: música, discurso, etc.; do paladar: comida, bebida, pasta, tempero, etc.; do olfato: perfumaria, etc.; do tato, sentido central: cinema, teatro, esculturação, paisagismo/jardinagem, decoração, tapeçaria, urbanismo, arquiengenharia, etc.) festejam as crianças? Muito pouco, não é? Pouco demais, o que me faz estremecer. Que tipo de maldade profunda nos fez abandonar nossas crianças?

                            O investimento mais proveitoso em liberação, em nacionalidade, não é militar de defesa das fronteiras, não é de produçãorganização governempresarial, não é em educação sequer, não é em hospitalização, não é nada disso, embora tudo seja necessário; o fundamental é a felicidade das crianças. Disso virá tudo mais, no futuro. E crianças significam muitas praças, muitas festas.

                            Ora, há o investimento interno (que é pessoal: dos indivíduos, das famílias, dos grupos e das empresas) e o investimento externo (que é dos ambientes: dos municípios/cidades, dos estados, das nações, do mundo) nas crianças. O II que fique a cargo das pessoas, e deve ser grande. O IE, a cargo dos governos (executivos, legislativos, judiciários), deixa muito a desejar. Onde estão as praças, onde gente treinada para vigiar e defender as crianças, onde as festas, onde as diversões nas férias, onde o brilho?

                            Não vejo nada disso.

                            Onde estará o bom futuro se não há lá crianças felizes, só adultos amargurados?

                            Vitória, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

Nenhum comentário:

Postar um comentário