A Escola de Filosofia
No
livro de Giovanni Reale e Dario Antiseri, História da Filosofia, vol.
II, São Paulo, Paulinas, 1990, p. 857, ao falar de Caetano Filangieri
(napolitano, 1752 a 1788, 36 anos entre datas), os autores colocam: “Caetano
Filangieri: as leis, racionais e universais, devem se adaptar ‘ao estado da
nação que as recebe’”, e é quanto basta para falarmos de escolas de Filosofia
e, aliás, de tudo.
O
Conhecimento alto (Magia, Teologia, Filosofia e Ciência), o Conhecimento baixo
(Arte, Religião, Ideologia e Técnica) e a Matemática deveriam ser assim.
Através de Filangieri: 1) ensinar leis racionais e universais; 2) adaptados ao
estado da nação que os recebe.
Isso
quer dizer que a filosofia da Escola de Filosofia Brasileira deveria ser FILOSOFIA
BRASILEIRA, isto é adaptada ao estado brasileiro que a recebe, assim como os
outros modos de conhecimento todos. Como os brasileiros são negros vindos da
África, brancos vindos da Europa, vermelhos que já estavam aqui e amarelos
vindos da Ásia, a Filosofia Brasileira deveria ser
negra/branca/vermelha/amarela. Pela estatística, deveria ser 50 % branca, 6 %
negra e 44 % mestiça, o que não é, é predominantemente interessada na Europa.
Deveria
estudar as cinco regiões (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste). Cuidar
de investigar as cinco classes do labor (operários, intelectuais, financistas,
militares e burocratas) e não a uma ou duas.
Em
resumo: QUAIS SÃO AS CONDIÇÕES DO BRASIL?
Quais são as condições do ES? Quais são as condições de Vitória? As do Brasil,
do ES, de Vitória são de 20 % de ricos e médios-altos e 80 % de pobres e
miseráveis; então, só por coerência, deveria estudar preferencialmente, na base
de 4/1, os problemas e as soluções propostas para os pobres e miseráveis. As
condições do Brasil são as do primeiro e as do segundo mundos? Se não são,
porque só estudamos a eles?
Como estamos
com a maior parte de nosso território entre o Equador e o Trópico de
Capricórnio, que passa sobre São Paulo (23,5º S), somos tropicais, e deveríamos
ter uma FILOSOFIA TROPICAL e uma ESCOLA DE FILOSOFIA TROPICAL, o que não temos.
Como temos
favelas, se 80 % ou mais das residências não têm rede de saneamento de esgoto,
e uma quantidade indeterminada delas não possui água tratada, se o atendimento
hospitalar é ruim, se a saúde é periclitante, se as condições de vida são
horríveis, nossa filosofia deveria refletir tudo isso e refletir sobre tudo
isso, o que não faz, envergonha-se de fazer.
Se a mídia
daqui mira só o estrangeiro, a filosofia daqui deveria investigar a questão; se
copiamos tudo que vem de fora, idem.
Pois o termo
filo-sofia quer dizer, em grego, GOSTAR-DE-SABER, e todos gostamos (ou
gostaríamos, se deixassem) de saber mais sobre tudo. Gostaríamos de investigar,
se as lideranças, os políticos, os governantes se voltassem para tal. Não se
voltam, porque têm vergonha de nós, porque têm vergonha de si mesmos.
Assim sendo,
se a Filosofia em geral deve ser adaptar ao estado da nação que a recebe, e a
filosofia brasileira deve se adaptar ao estado do Brasil atual e futuro, então
a Escola de Filosofia Brasileira deve propor, deve ensinar, deve investigar a
fundo essa CONDIÇÃO DE SER brasileiro e essa CONDIÇÃO DE ESTAR brasileiro.
A Filosofia
é universal, mas a filosofia brasileira é, por definição, brasileira. Não
adianta nada dizer-se pluralista e cosmopolita sem ser também nacional,
estadual, municipal/urbano. Não nos impede de sermos cidadãos do planeta sermos
brasileiros, capixabas, linharenses. Quem não assume sua fração não está
assumindo seu todo sem alienação. A Escola de Filosofia tanto deve ser local
quanto universal.
Filangieri
foi ao ponto certo.
Vitória, sexta-feira, 04 de
outubro de 2002.
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