quinta-feira, 29 de dezembro de 2016


A Escola de Filosofia

 

                            No livro de Giovanni Reale e Dario Antiseri, História da Filosofia, vol. II, São Paulo, Paulinas, 1990, p. 857, ao falar de Caetano Filangieri (napolitano, 1752 a 1788, 36 anos entre datas), os autores colocam: “Caetano Filangieri: as leis, racionais e universais, devem se adaptar ‘ao estado da nação que as recebe’”, e é quanto basta para falarmos de escolas de Filosofia e, aliás, de tudo.

                            O Conhecimento alto (Magia, Teologia, Filosofia e Ciência), o Conhecimento baixo (Arte, Religião, Ideologia e Técnica) e a Matemática deveriam ser assim. Através de Filangieri: 1) ensinar leis racionais e universais; 2) adaptados ao estado da nação que os recebe.

                            Isso quer dizer que a filosofia da Escola de Filosofia Brasileira deveria ser FILOSOFIA BRASILEIRA, isto é adaptada ao estado brasileiro que a recebe, assim como os outros modos de conhecimento todos. Como os brasileiros são negros vindos da África, brancos vindos da Europa, vermelhos que já estavam aqui e amarelos vindos da Ásia, a Filosofia Brasileira deveria ser negra/branca/vermelha/amarela. Pela estatística, deveria ser 50 % branca, 6 % negra e 44 % mestiça, o que não é, é predominantemente interessada na Europa.

Deveria estudar as cinco regiões (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste). Cuidar de investigar as cinco classes do labor (operários, intelectuais, financistas, militares e burocratas) e não a uma ou duas.

                            Em resumo: QUAIS SÃO AS CONDIÇÕES DO BRASIL?            Quais são as condições do ES? Quais são as condições de Vitória? As do Brasil, do ES, de Vitória são de 20 % de ricos e médios-altos e 80 % de pobres e miseráveis; então, só por coerência, deveria estudar preferencialmente, na base de 4/1, os problemas e as soluções propostas para os pobres e miseráveis. As condições do Brasil são as do primeiro e as do segundo mundos? Se não são, porque só estudamos a eles?

Como estamos com a maior parte de nosso território entre o Equador e o Trópico de Capricórnio, que passa sobre São Paulo (23,5º S), somos tropicais, e deveríamos ter uma FILOSOFIA TROPICAL e uma ESCOLA DE FILOSOFIA TROPICAL, o que não temos.

Como temos favelas, se 80 % ou mais das residências não têm rede de saneamento de esgoto, e uma quantidade indeterminada delas não possui água tratada, se o atendimento hospitalar é ruim, se a saúde é periclitante, se as condições de vida são horríveis, nossa filosofia deveria refletir tudo isso e refletir sobre tudo isso, o que não faz, envergonha-se de fazer.

Se a mídia daqui mira só o estrangeiro, a filosofia daqui deveria investigar a questão; se copiamos tudo que vem de fora, idem.

Pois o termo filo-sofia quer dizer, em grego, GOSTAR-DE-SABER, e todos gostamos (ou gostaríamos, se deixassem) de saber mais sobre tudo. Gostaríamos de investigar, se as lideranças, os políticos, os governantes se voltassem para tal. Não se voltam, porque têm vergonha de nós, porque têm vergonha de si mesmos.

Assim sendo, se a Filosofia em geral deve ser adaptar ao estado da nação que a recebe, e a filosofia brasileira deve se adaptar ao estado do Brasil atual e futuro, então a Escola de Filosofia Brasileira deve propor, deve ensinar, deve investigar a fundo essa CONDIÇÃO DE SER brasileiro e essa CONDIÇÃO DE ESTAR brasileiro.

A Filosofia é universal, mas a filosofia brasileira é, por definição, brasileira. Não adianta nada dizer-se pluralista e cosmopolita sem ser também nacional, estadual, municipal/urbano. Não nos impede de sermos cidadãos do planeta sermos brasileiros, capixabas, linharenses. Quem não assume sua fração não está assumindo seu todo sem alienação. A Escola de Filosofia tanto deve ser local quanto universal.

Filangieri foi ao ponto certo.
Vitória, sexta-feira, 04 de outubro de 2002.

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