Projetando um Novo Vestibular
Muitas
vezes os alunos não conseguem pegar bem as matérias, mesmos nas melhores
escolas, com os professores mais cuidadosos; sempre pairam dúvidas. Ademais, há
alguns professores melhores que outros, de pedagogia mais apurada, de dicção
melhor, com mais recursos. E não há ninguém que possa fazer ao vivo melhor que
poderia fazer com tempo muito mais longo, com mais espaço, com mais recursos
humanos e outros.
Um
laboratório cinematográfico, como o da Globo e outros, recursos de modelação
computacional, pesquisa & desenvolvimento teórico & prático, a busca
das universidades, pilhérias, brincadeiras, piadas, documentários, refilmagens,
todo tipo de ajuda poderiam compor as mais primorosas aulas para terceiros
anistas do segundo grau, quer dizer, vestibulandos. Dúzias e até centenas de
profissionais enquadrando cada segundo.
Como
são 210 dias letivos por ano e há cinco aulas por dia, cada uma de cinquenta
minutos, 210 x 5 x 50 = 52,5 mil minutos/ano; em horas 875 aulas/ano. Digamos
800 num programa padrão comprimido para matemática, física, química, língua
(inglês, francês, espanhol), português, biologia, geografia, história – mais
para umas que para outras. Com sobrecarga ou alternativas nos pontos
unanimemente difíceis, sabendo-se por pesquisas. A Globo já tem o Telecurso
primeiro e segundo graus, que é gratuito, e já publica em papel, de modo que
compor um novo sistema não deve ser difícil.
Segundo
o Almanaque
Abril 2000 o número de alunos matriculados no ensino médio foi de 7,8
milhões em 1999, enquanto o AA 2002 diz que em 2001 foi de 8,4 milhões,
crescimento de 7,7 % em dois anos, taxa muito alta. Do total de 1999 vemos que
a rede particular tinha 1,2 milhão, 16 %, enquanto a rede pública ficou com 6,6
milhões, 84 %. Entretanto, as escolas particulares ficaram com 75,3 % das vagas
do vestibular, três quartos do total. Sendo a relação pública/particular 84/16
= 5 quanto a frequentadores do segundo grau, os que passam aos terceiro grau
ficam na relação de 1/3, então a relação é negativa em relação ao estudo nas
públicas na base de 15/1 (5 x 3). Como as privadas tinham (na suposição de que
sejam três terços, um para cada ano do segundo grau) 0,4 milhão em 1999 e 75 %
passaram, suas ficaram sendo cerca de 300 mil vagas. Se a faculdade for feita
em quatro anos, o 1,545 milhão de vagas de 1999 em todo o ensino superior
dividido por quatro nos daria cerca de 390 mil vagas/ano, o que quer dizer que
menos de 100 mil vagas pertencem por direito torto aos filhos do proletariado.
Esses
dados precisam ser apurados por pesquisadores com convenientes bancos de dados,
mas já nos permitem ter uma ideia da coisa. Agora, se existem aqueles 6,6/3 =
2,2 milhões de estudantes a cada terceiro ano tentando o vestibular vindos das
escolas públicas e só 100 mil vão passar, a relação é 2.200/100 = 22/1, o que
quer dizer que pais aflitos, para melhorar as condições de seus filhos, quererão
alugar as fitas ou DVD ou CD-ROM, ao que os pais das classes médias alta e
baixa, e os ricos desejarão com ainda maior força. Os médio-altos e ricos
alugarão por si, as prefeituras e estados para os das públicas.
Lembremos
que são 800 aulas, cada uma a 3,5 (para fita) ou 4,5 (para DVD) reais, no
total, no ES, 2,8 a 3,6 mil reais POR ALUNO, e são milhões no país todo, fora
os que já saíram das escolas e continuam tentando. Isso poderia ser muito
apurado, mas não tenho os dados e eles são apenas parcialmente apresentados
pelos almanaques.
Se
tomarmos 10 % das 800 fitas como sendo as matérias mais visadas (é preciso estudar
com a Curva de Gauss – consulte-se estatísticos), 80 x 400 mil vagas (agora já
são 500 mil em 2002) x 4 reais por fita = em torno de 130 milhões por ano, na
mais pessimista das hipóteses. Na realidade, contando que várias pessoas estão
fora das escolas e continuam tentando, que talvez 50 % das aulas interessem e
em algumas cidades é mais que quatro reais, podemos ter valores razoáveis que
chegariam a 20 vezes isso por ano.
É
só uma avaliação grosseira, é preciso apurá-la.
Alguém
faça isso.
E
eu não sei quanto custa preparar uma fita dessas, nem os demais detalhes. Em
todo caso parece um grande negócio. Sem falar que de três em três anos, como
faz a Microsoft, seria possível renová-las tipo Aula 1.0, etc. Como o Colégio
Vetor fez na década dos 1970 ao renovar os cursinhos, a Globo (ou outras) pode
(m) transformar totalmente de agora em diante a questão do ensino em casa.
Pode
(m) reunir os melhores especialistas, todas as tecnartes, recursos maravilhosos
que não estavam disponíveis há 30 anos, uma rede de vendas em bancas de
revistas, em lojas e outros lugares, os avanços pedagógicos, um suporte,
expectativa de crescimento (com grande cuidado, sem começar com nada de muito
aparatoso, como a segunda viagem de Colombo). É preciso prever um horizonte de
quatro anos para os retornos e ganhos palpáveis a partir de dez anos.
Mas
isso pode se espalhar no mundo inteiro, que é 40 vezes o Brasil, de modo que as
rendas podem ir de cinco a 100 bilhões de reais por ano. Claro que o otimismo
multiplicador não serve senão para perder os afoitos, mas que é uma mina
potencial isso lá é mesmo.
Vitória, quarta-feira, 25 de setembro de
2002.
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