sábado, 31 de dezembro de 2016


Projetando um Novo Vestibular

 

                            Muitas vezes os alunos não conseguem pegar bem as matérias, mesmos nas melhores escolas, com os professores mais cuidadosos; sempre pairam dúvidas. Ademais, há alguns professores melhores que outros, de pedagogia mais apurada, de dicção melhor, com mais recursos. E não há ninguém que possa fazer ao vivo melhor que poderia fazer com tempo muito mais longo, com mais espaço, com mais recursos humanos e outros.

                            Um laboratório cinematográfico, como o da Globo e outros, recursos de modelação computacional, pesquisa & desenvolvimento teórico & prático, a busca das universidades, pilhérias, brincadeiras, piadas, documentários, refilmagens, todo tipo de ajuda poderiam compor as mais primorosas aulas para terceiros anistas do segundo grau, quer dizer, vestibulandos. Dúzias e até centenas de profissionais enquadrando cada segundo.

                            Como são 210 dias letivos por ano e há cinco aulas por dia, cada uma de cinquenta minutos, 210 x 5 x 50 = 52,5 mil minutos/ano; em horas 875 aulas/ano. Digamos 800 num programa padrão comprimido para matemática, física, química, língua (inglês, francês, espanhol), português, biologia, geografia, história – mais para umas que para outras. Com sobrecarga ou alternativas nos pontos unanimemente difíceis, sabendo-se por pesquisas. A Globo já tem o Telecurso primeiro e segundo graus, que é gratuito, e já publica em papel, de modo que compor um novo sistema não deve ser difícil.

                            Segundo o Almanaque Abril 2000 o número de alunos matriculados no ensino médio foi de 7,8 milhões em 1999, enquanto o AA 2002 diz que em 2001 foi de 8,4 milhões, crescimento de 7,7 % em dois anos, taxa muito alta. Do total de 1999 vemos que a rede particular tinha 1,2 milhão, 16 %, enquanto a rede pública ficou com 6,6 milhões, 84 %. Entretanto, as escolas particulares ficaram com 75,3 % das vagas do vestibular, três quartos do total. Sendo a relação pública/particular 84/16 = 5 quanto a frequentadores do segundo grau, os que passam aos terceiro grau ficam na relação de 1/3, então a relação é negativa em relação ao estudo nas públicas na base de 15/1 (5 x 3). Como as privadas tinham (na suposição de que sejam três terços, um para cada ano do segundo grau) 0,4 milhão em 1999 e 75 % passaram, suas ficaram sendo cerca de 300 mil vagas. Se a faculdade for feita em quatro anos, o 1,545 milhão de vagas de 1999 em todo o ensino superior dividido por quatro nos daria cerca de 390 mil vagas/ano, o que quer dizer que menos de 100 mil vagas pertencem por direito torto aos filhos do proletariado.

                            Esses dados precisam ser apurados por pesquisadores com convenientes bancos de dados, mas já nos permitem ter uma ideia da coisa. Agora, se existem aqueles 6,6/3 = 2,2 milhões de estudantes a cada terceiro ano tentando o vestibular vindos das escolas públicas e só 100 mil vão passar, a relação é 2.200/100 = 22/1, o que quer dizer que pais aflitos, para melhorar as condições de seus filhos, quererão alugar as fitas ou DVD ou CD-ROM, ao que os pais das classes médias alta e baixa, e os ricos desejarão com ainda maior força. Os médio-altos e ricos alugarão por si, as prefeituras e estados para os das públicas.

                            Lembremos que são 800 aulas, cada uma a 3,5 (para fita) ou 4,5 (para DVD) reais, no total, no ES, 2,8 a 3,6 mil reais POR ALUNO, e são milhões no país todo, fora os que já saíram das escolas e continuam tentando. Isso poderia ser muito apurado, mas não tenho os dados e eles são apenas parcialmente apresentados pelos almanaques.

                            Se tomarmos 10 % das 800 fitas como sendo as matérias mais visadas (é preciso estudar com a Curva de Gauss – consulte-se estatísticos), 80 x 400 mil vagas (agora já são 500 mil em 2002) x 4 reais por fita = em torno de 130 milhões por ano, na mais pessimista das hipóteses. Na realidade, contando que várias pessoas estão fora das escolas e continuam tentando, que talvez 50 % das aulas interessem e em algumas cidades é mais que quatro reais, podemos ter valores razoáveis que chegariam a 20 vezes isso por ano.

                            É só uma avaliação grosseira, é preciso apurá-la.

                            Alguém faça isso.

                            E eu não sei quanto custa preparar uma fita dessas, nem os demais detalhes. Em todo caso parece um grande negócio. Sem falar que de três em três anos, como faz a Microsoft, seria possível renová-las tipo Aula 1.0, etc. Como o Colégio Vetor fez na década dos 1970 ao renovar os cursinhos, a Globo (ou outras) pode (m) transformar totalmente de agora em diante a questão do ensino em casa.

                            Pode (m) reunir os melhores especialistas, todas as tecnartes, recursos maravilhosos que não estavam disponíveis há 30 anos, uma rede de vendas em bancas de revistas, em lojas e outros lugares, os avanços pedagógicos, um suporte, expectativa de crescimento (com grande cuidado, sem começar com nada de muito aparatoso, como a segunda viagem de Colombo). É preciso prever um horizonte de quatro anos para os retornos e ganhos palpáveis a partir de dez anos.

                            Mas isso pode se espalhar no mundo inteiro, que é 40 vezes o Brasil, de modo que as rendas podem ir de cinco a 100 bilhões de reais por ano. Claro que o otimismo multiplicador não serve senão para perder os afoitos, mas que é uma mina potencial isso lá é mesmo.
                            Vitória, quarta-feira, 25 de setembro de 2002.

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