Geometria dos Números
No
modelo despontaram coisas surpreendentes demais, cuja linha tão extraordinária
eu nunca poderia, provavelmente, ter perseguido se não fosse essa mirada mais
ampla.
Por
exemplo, as réguas são pedaços de madeira ou de metal, ou do que for, que
comparamos com os objetos menores ou maiores. Acontece que elas são
geométricas, não algébricas, sendo algébrico apenas o processo de memorização.
Peguemos uma régua de um metro, que está dividida em 1000 partes de um mm, 100
de um cm, 10 de um dm. Todas essas são réguas também, incorporadas na maior.
Portanto, há num metro mil réguas de um mm. Por outro lado, podemos colocar mil
réguas de um metro para fazer o quilômetro.
Qualquer
régua é uma flecha, um vetor, um espaço de comparação, uma linha. Então, não só
isso, há também réguas pontuais (o ponto), réguas lineares (a reta), réguas
planas (a superfície – digamos, espaços milimetrados) e réguas espaciais (um
volume comparador qualquer). Pelo fato de usarmos geralmente as linhas não nos
damos conta dos demais. Mas eles estão lá e podem ser usados.
Se
dissermos: eis aqui um metro e 38 cm, estamos usando as quatro réguas embutidas
em uma. Quando multiplicamos num retângulo um lado de 10 por outro de 15 para
obter 150, estamos usando a régua plana a partir da linear. E assim por diante.
Só colocamos os números para memorizar. De fato, as réguas não são algébricas,
são geométricas.
No
entanto, mais espantoso é perceber que vemos flechas, sendo os pontos
inapreensíveis. Porque, desde o início, os pontos são, por definição, sem
dimensão. Como poderíamos vê-los, então? Não os vemos, vemos flechas e ângulos,
coisas geométricas. Quando olhamos uma superfície abrangemos os ângulos e as
flechas, pelas ondulações apreensíveis. Isso quer dizer, de imediato, que se
uma coisa fosse completamente plana não a veríamos, como um espelho
perfeitamente polido, a menos que ele refletisse alguma imagem. Se não houvesse
qualquer imagem refletida jamais perceberíamos um espelho, por nele faltarem os
ângulos e as flechas, quer dizer, dimensão geométrica.
Como
todo mundo eu pensava que víamos a superfície por seus pontos. E o modelo
mostrou também que nos deixamos enganar pelas contínuas medições (geométricas)
que fazemos a todo instante, com o auxílio do sistema externinterno de visão.Pois
o mundo é fractal em certa ordem de grandeza, quer dizer, até a menor das
dimensões, a distância de Planck, 10-35m. Ninguém vai ficar
observando bem de pertinho para determinar até o décimo ou centésimo de mm que
somos capazes de enxergar – em todo caso, um segundo de arco.
O
modelo mostrou o mundo como algo de surpreendente e não apenas distante do
pensar do senso comum como também do pensar dos que se dedicam a buscar o
conhecimento.
Temos
números (algébricos, digitais), temos flechas ou ângulos (geométricas,
analógicas) e devemos ter numerângulos geoalgébricos digitanalógicos. Quem
poderia pensar numa coisa dessas?
Vitória,
quinta-feira, 19 de setembro de 2002.
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