quarta-feira, 28 de dezembro de 2016


O Que Não Mata Engorda

 

                            Na realidade Nietzsche disse que “o que não me mata me fortalece”, uma indicação dos processos da evolução, a tradução direta do povo tornando-se “o que não mata engorda”, um conselho para beber e comer todo tipo de coisa, na expectativa de selecionar aquelas que robustecem a pessoa. São duas compreensões distintas.

                            Entrementes, veja só, no ditame do filósofo podemos identificar dois caminhos:

1)          A trilha da evolução para fortalecer as espécies submetendo-as a pressões infindáveis, colocando-nos à beira da morte para selecionar a habilidade ou aptidão dos vivos;

2)         Uma recomendação política: o único modo de deter um opositor realmente é matando-o.

Acontece que há, mais que um plano, um espaçotempo dialógico, lógica monal direta e dialética dual relacional dos pares de opostos/complementares, formando ciclos, que são em ondas os desenhos de círculos. Contudo, podemos tomá-lo por um plano, vendo setas ou tensores dialógicos de baixo para cima e de cima para baixo ondulando-o, numas eras mais e noutras menos (isso também constitui um ciclo, um metaciclo). Então, o próprio ato de matar o opositor, para terminar a oposição, acaba por fortalecê-lo (a).

De maneira que deveríamos dizer apenas: “o que não mata fortalece”, ou apenas “tudo fortalece”. Mas isso seria apenas parte da verdade, porque a soma é zero, a parte de cima sendo em módulo igual à de baixo, somando-se em zero as flechas de um e outro lado. Além disso, os produtos fazem iguais a um, a unidade, isto é, se há grandes ondas durante um tempo curto, nenhuma aparecerá durante um tempo longo, ou seja, Ax = bY, no geral. Daí deduzirmos que as adversidades não fortalecem apenas, elas enfraquecem também. Fortalecem quando há uma curva ascendente de fortalecimento e a partir de um máximo começa o decréscimo. De onde podemos concluir que não há razão absoluta na afirmação de Nietzsche.

Pode acontecer perfeitamente que num paroxismo de brio nos jactemos de nossa força, com tal afirmação, como pode acontecer com os muito jovens ou com quem esteja sofrendo pressões insistentes e ainda esteja resistindo.

Deveríamos entender que o que não mata fortalece a Natureza? De modo algum, pois dentro do sim estão muitos nãos pequeninos, que vão se tornar o contrário depois. Vi num canal Discovery a expansão humana nas regiões desérticas dos EUA; as plantações que favorecem (portanto, não matam) a humanidade acabam por dizimar os bichos que as águias comem – assim, o que fortalece a humanidade enfraquece os animais herbívoros, matando-os, isso não deixando sobreviver as águias que já existem e impedindo novos nascimentos. Isto, por sua vez, é um enfraquecimento do mundo humano, pois já não haverá a beleza da diversidade.

A nova compreensão do modelo nos diz que o que não nos mata tanto nos fortalece quanto nos enfraquece. Ou, no dizer do povo, o que não mata pode engordar – mas a gordura é um sério problema, a obesidade, causa de tantos outros problemas.
Vitória, quinta-feira, 12 de setembro de 2002.

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