O Que Não Mata Engorda
Na
realidade Nietzsche disse que “o que não me mata me fortalece”, uma indicação
dos processos da evolução, a tradução direta do povo tornando-se “o que não
mata engorda”, um conselho para beber e comer todo tipo de coisa, na expectativa
de selecionar aquelas que robustecem a pessoa. São duas compreensões distintas.
Entrementes,
veja só, no ditame do filósofo podemos identificar dois caminhos:
1)
A
trilha da evolução para fortalecer as espécies submetendo-as a pressões
infindáveis, colocando-nos à beira da morte para selecionar a habilidade ou
aptidão dos vivos;
2)
Uma
recomendação política: o único modo de deter um opositor realmente é matando-o.
Acontece que
há, mais que um plano, um espaçotempo dialógico, lógica monal direta e dialética
dual relacional dos pares de opostos/complementares, formando ciclos, que são
em ondas os desenhos de círculos. Contudo, podemos tomá-lo por um plano, vendo
setas ou tensores dialógicos de baixo para cima e de cima para baixo
ondulando-o, numas eras mais e noutras menos (isso também constitui um ciclo,
um metaciclo). Então, o próprio ato de matar o opositor, para terminar a
oposição, acaba por fortalecê-lo (a).
De maneira
que deveríamos dizer apenas: “o que não mata fortalece”, ou apenas “tudo
fortalece”. Mas isso seria apenas parte da verdade, porque a soma é zero, a
parte de cima sendo em módulo igual à de baixo, somando-se em zero as flechas
de um e outro lado. Além disso, os produtos fazem iguais a um, a unidade, isto
é, se há grandes ondas durante um tempo curto, nenhuma aparecerá durante um
tempo longo, ou seja, Ax = bY, no geral. Daí deduzirmos que as adversidades não
fortalecem apenas, elas enfraquecem também. Fortalecem quando há uma curva
ascendente de fortalecimento e a partir de um máximo começa o decréscimo. De
onde podemos concluir que não há razão absoluta na afirmação de Nietzsche.
Pode
acontecer perfeitamente que num paroxismo de brio nos jactemos de nossa força,
com tal afirmação, como pode acontecer com os muito jovens ou com quem esteja
sofrendo pressões insistentes e ainda esteja resistindo.
Deveríamos
entender que o que não mata fortalece a Natureza? De modo algum, pois dentro do
sim estão muitos nãos pequeninos, que vão se tornar o contrário depois. Vi num
canal Discovery a expansão humana nas regiões desérticas dos EUA; as plantações
que favorecem (portanto, não matam) a humanidade acabam por dizimar os bichos
que as águias comem – assim, o que fortalece a humanidade enfraquece os animais
herbívoros, matando-os, isso não deixando sobreviver as águias que já existem e
impedindo novos nascimentos. Isto, por sua vez, é um enfraquecimento do mundo
humano, pois já não haverá a beleza da diversidade.
A nova
compreensão do modelo nos diz que o que não nos mata tanto nos fortalece quanto
nos enfraquece. Ou, no dizer do povo, o que não mata pode engordar – mas a
gordura é um sério problema, a obesidade, causa de tantos outros problemas.
Vitória, quinta-feira, 12
de setembro de 2002.
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