terça-feira, 27 de dezembro de 2016


Um Cérebro em Computador

 

                            Diz Michio Kaku em seu livro Visões do Futuro (como a ciência revolucionará o século XXI), Rio de Janeiro, Rocco, 2001, p. 120: “Para Herbert Simon, que ganhou um prêmio Nobel de economia, mas também é especialista em inteligência artificial, pensar é pouco mais que as regras que os programadores inserem em seus robôs. ‘Será que o pensamento humano é apenas heurístico? ’, pergunta Simon. ‘Eu diria que sim, é’”, grifo meu.

                            Olhemos um liquidificador. Ele tem regras incorporadas: 1) as de construção do copo e da carcaça, da base; 2) ao entrar eletricidade o rotor faz girar as hélices na base do copo e ela tritura os materiais no interior dele. São regras, foram inseridas; então o liquidificador pensa? Evidentemente Simon está errado.

                            Como já ficou dito tantas vezes no modelo, a chamada IA, Inteligência Artificial, não existe, só a MA, Memória Artificial, e esta desde quando alguém gravou pela primeira vez um sinal fora de si mesmo, lá com os macacos e antes ainda. Não existindo em conjunto memória e inteligência artificiais, não existe controle artificial, portanto não há corpomente artificial.

                            As regras não podem ser gravadas, ou não vai haver autonomia, que é o livre arbítrio, a livre decisão nas encruzilhadas. Não há o que chamei de gerador de autoprogramas, GAP, o ser não pode decidir sozinho.

                            A heurística, arte de inventar ou de fazer descobertas, segundo o Houaiss eletrônico, é só um nome para encobrir o desconhecimento. A consciência de si é algo muito mais profundo, largo, extenso, incomparavelmente além do que já fizemos até agora, que foi basicamente negar ou afirmar a possibilidade, e não mostrá-la prática ou teoricamente.

                            Mais abaixo Kaku diz: “(...) a consciência é algo efêmero, espalhado sobre muitas estruturas do cérebro”.

                            Se é “efêmero” (no HE, que dura um dia, que é passageiro), como é que eu e todos nos lembramos da infância e de muitas coisas decorridas faz tempo? Como nos lembramos de dias, de meses, de anos no passado? A consciência não dura um dia, o que dura pouco é a memória, que é só parte da consciência. Lembro-me do meu pai, que morreu em 13 de outubro de 1978, quase 24 anos atrás. Segue-se que Kaku também está errado.

                            E adiante ele diz, mesma página: “Outros acreditam que as várias partes do cérebro geram simultaneamente diferentes ‘pensamentos’ que competem entre si pela atenção do cérebro. Somente um pensamento então ‘vence’ esta competição. A consciência, neste sentido, não é contínua, mas apenas a sucessão dos pensamentos que vencem esta disputa”.

                            A ser assim eu não poderia estar escrevendo esta página, PORQUE vários pensamentos iriam emergindo na tela da minha consciência e eu me dirigiria ora a um ora a outro, e assim sucessivamente, numa balbúrdia danada, ao passo que posso, querendo apenas, desejando apenas, continuamente centrar-me numa linha de pensamento.

                            Do outro lado está o extremo polar oposto/complementar, os tais “novos misterianos”, que dizem não ser possível construir consciência artificial. Ora, o que somos nós, senão consciência artificial? E já era desde a primeira ameba.

                            Certo está Heinz Pagels, físico, que disse (citado na p. 121): “’(...) você tem de projetar e construir, não apenas falar sobre suas fantasias filosóficas’. Em outras palavras, o único meio de resolver a questão é construir uma máquina pensante”.

                            E ainda, na mesma página: “Muitos críticos da IA, como John Searle, admitem que os robôs um dia poderão simular pensamento com sucesso, mas continuarão inconscientes de que estão pensando”.

                            Veja, CONSCIÊNCIA é a mesmíssima coisa que pensar. Eles não irão “simular pensamento”, pensarão mesmo! E tendo pensado estarão plenamente conscientes do que pensaram. Con-sciência é estar ciente de si, ter conhecimento de si, identificar-se como um eu. E pensar é isso também, igualzinho, sem tirar nem por.

                            Não só os computadores irão pensar, como o farão muito em breve, porque basta juntar os pólos opostos/complementares, analógico ou pareado, e digital ou seqüenciado. Feito isto, eis o cérebro em computador, eis o pensamento artificial. E preparem-se, eles evoluirão muito mais rápido que nós, assim como os seres humanos evoluímos, pela coletivização (das pessoas: indivíduos, famílias, grupos e empresas; dos ambientes: municípios/cidades, estados, nações e mundo) crescente muito mais rápido que a vida-racional pregressa.

                            Vitória, quarta-feira, 28 de agosto de 2002.

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