terça-feira, 27 de dezembro de 2016


Vida nos Cometas

 

                            Com a hipótese da Panspermia (vida em toda parte), “hipótese proposta em 1906 pelo físico e químico Svante Arrhenius (1859-1927), segundo a qual a vida deve existir no espaço em forma de esporos, sendo transplantada de um corpo celeste a outro por meio da radiação de pressão”, p. 602 do livro de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1987, temos a idéia de que a Vida surgiu fora da Terra.

                            Bom, vamos raciocinar.

                            A Bandeira Elementar (ar, água, terra/solo e fogo/energia) tem em seu centro a Vida, e no centro do centro a Vida-racional. Onde há mais de cada um? Não adianta ter muito de um e nada de outro, como a Lua ou Marte; para ser vivo, planeta, um mundo deve ter proporções elevadas de cada um. Júpiter é imenso, mas tem grandes quantidades de hidrogênio e nenhuma superfície que se possa tomar como tal. E assim por diante. Por outro lado, todo satélite que tenha ar e água e alguma superfície com metais e minerais em geral, recebendo energia do Sol ou das tempestades eletromagnéticas planetárias, poderá desenvolver algum gênero de vida.

                            Por quê devemos imaginar que no frio inacreditável do espaço distante do Sol, com temperaturas que estão apenas algumas dezenas de graus acima do zero absoluto, vai surgir vida? Com qual energia? Não seria mais simples supor que ela vá aparecer nos satélites jupiterianos, em Marte, na Terra, na Lua, em Vênus e em Mercúrio? Para quê essas idéias estranhas, procurando no espaço profundo o que pode estar aqui no nosso quintal?

                            É mais fácil pensar que a vida surja sempre nos planetas e vá para o espaço através da ejeção de material por meteoritos e cometas incidentes, do que pensar que nas condições adversas do espaço vazio os tijolos vão se combinar para produzir a casa ao acaso, sem qualquer mecanismo de travamento de retorno, como que uma válvula koestleriana, que ele chamou hólon.

                            E mais difícil ainda é o cometa, porque pelo menos o espaço existe em volta da Terra e até bem próximo do Sol, com muito calor, neste caso, ao passo que os cometas estão na Nuvem de Oort, a 0,5 ano-luz, metade de 365,25 x 24 x 3.600 x 300.000 km; cometas que só vem ao Sol, quando vem, de éon em éon.

                            Nós devemos pensar na Vida como uma árvore de probabilidades, que dizer, de encruzilhadas, percorrendo as pirâmides do modelo. Quanto mais energia mais chance haverá de os tijolos se chocarem para combinarem dois a dois e permanecerem unidos. Mas a energia não deve ser tão intensa que formado o par ele seja imediatamente desfeito, ou de outro modo damos um passo adiante e outro atrás. Depois de formados os pares, devemos ter quádruplas, mas com aquela válvula K, de tal modo que os níveis superiores não sejam rebentados logo a seguir, crescendo a composição em complexidade. E assim por diante, subindo a Escada geral, até os níveis superiores de organização.

                            Como é que as JUNÇÕES COMPLEXANTES (chamemos assim) se darão, na ausência de energia? A probabilidade de não aparecer a Vida seria tão alta que nem a existência de um bilhão de universos seria suficiente.

                            Portanto, de um lado temos a Bandeira Elementar em estrita combinação, na FAIXA DE MINIMAX PROBABILIDADE, em relativa proteção, excluído o bombardeio original que no princípio ajudou. Por aí podemos ver que é um encadeamento tremendo. Como é que ele poderia se dar no vazio ou nos cometas? É possível surgir algo de relevante numa ilha minúscula, mas a chance maior estará nos grandes continentes. O ser humano poderia perfeitamente ter surgido numa ilha qualquer, mas apareceu na África, que é enorme.

                            SE a vida tivesse emergido num minúsculo pedregulho espacial necessitaria não de um bilhão (a Terra aglomerou-se há 4,6 bilhões de anos e a primeira vida encontrada data de apenas 0,8 bilhão de anos depois, há 3,8 bilhões de anos) de anos, mas de dezenas de bilhões. Porque surgiria, mergulharia no torpor da falta de energia, viria ao Sol, esquentaria, desenvolveria mais um pouco, cairia no sono novamente, etc.

                            Pode ser provável, mas não é razoável.

                            O que parece mais certo é que ela tenha surgido nos planetas mesmo, onde ela se encontra agora.

                            Vitória, terça-feira, 20 de agosto de 2002.

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