quinta-feira, 29 de dezembro de 2016


Ultrapassando a Humanidade

 

                            No livro de Juan Enriquez, O Futuro e Você (como a genética está mudando sua vida, seu trabalho e seu dinheiro), São Paulo, Negócio, 2002, p. 105, ele diz: “O aumento da potência dos computadores faz supor que... Em torno de 2010, um computador deverá ter a mesma capacidade de processamento que um cérebro humano. E, se você é um adolescente, na época que tiver alguns netos (digamos, em 2048) ... Esses jovens terão à disposição o equivalente a um PC de US$ 1.000... Com a capacidade de processamento igual a todos os cérebros humanos dos Estados Unidos”. De 2000, que é quando o livro foi escrito, o que também nos faz pensar que há certo alarde na capacidade de os americanos pensarem.

                            E, mais abaixo: “(Essas tendências levaram a um debate público entre duas grandes mentes: Ray Kurzweil do MIT, autor do livro The Age of Spiritual Machines: When Computers Exceed Human Intelligence [A era das máquinas espiritualizadas: quando os computadores excederem a inteligência humana], e o CEO de tecnologia da Sun Microsystems, Bill Joy, que escreveu um ensaio muito pessimista para a revista Wired, sob o título: ‘Why the Future Does Not Need Us’ [Porque o futuro não precisa de nós]. Se esse assuntos interessam a você, esses artigos são geniais)”.

                            Como diz o povo, vamos organizar a zona.

                            Em primeiro lugar, não foi um PC, o Deep Blue (azul profundo), que derrotou Kasparov, e sim um conjunto de programadores humanos e a alta velocidade de processamento. Nem jogaram sequer no mesmo plano, porquanto Kasparov é ao mesmo tempo digital e analógico, enquanto o DB é principalmente digital, com as analogias saindo das mentes de seus programadores.

                            Então, pouco adiantará ter capacidade de processamento maior que o ser humano - isso NÃO é, nem de longe, inteligência, assim como os livros de uma biblioteca, que contêm muito mais inteligência de seus autores que qualquer ser humano poderia mesmo agora sonhar em produzir ou possuir, não constituem senão memória. Já falei até cansar da tríade memória, inteligência e controle, vá ler o modelo.

                            Depois, os seres humanos já fomos ultrapassados.

                            Veja as pessoas: a família é o ultrapassamento do indivíduo, o grupo da família, a empresa do grupo. E cada ambiente é mais alto que qualquer pessoa ali dentro (pois ela é parte dele): o município/cidade ultrapassa a empresa, o estado ao m/c, a nação ao estado, o mundo à nação.

                            Agora, é certo, como já falei também, que o crescimento exponencial da memorinteligência-e-controle dos robôs (computadores dinâmicos), dos computadores (robôs estáticos), dos ciborgues (em que a mente humana predomina) e dos andróides (em que a mente informacional predomina) vá ultrapassar o indivíduo humano em breve. Entrementes, a luta é pela sobrevivência do mais apto, do mais hábil, para ver quem recebe futuro, quem deixa mensagem para diante. O ser humano não está acabado, ele evoluirá junto com os demais seres de carbono, promovendo uma fusão com os seres de metal.

                            A humanidade está sendo ultrapassada na medida em que existe um metaprojeto que vai mais longe, que usa o ser humano como ponte até o super-humano, do mesmo modo como o Neanderthal foi ultrapassado. Ficou para trás. Devemos chorar por ele? Seria melhor se tivesse sobrevivido? É claro que há um sentimento de perda: ah!, como seria bom se os dinossauros tivessem sobrevivido. Acontece que eles eram enormes e se estivessem aqui nós não estaríamos. É bucólico, pastoril, ingênuo, é engraçadinho, mas não é aceitável. Devemos continuar com nossas quatro mil doenças, nossa ignorância, nossa incivilidade, nossas fraquezas todas? Quem deseja o carro não de 50 anos atrás, mas do ano passado? Passou, acabou, não há volta, não.

                            E assim será também será com a humanidade.

                            Como projeto racional é preferível uma formiga ou um ser humano? E entre um ser humano e um ser novo com mil, dez mil vezes a nossa capacidade de ver o universo, o que escolheríamos?
                            Vitória, quarta-feira, 04 de setembro de 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário