Ultrapassando a Humanidade
No livro de Juan
Enriquez, O Futuro e Você (como a genética está mudando sua vida, seu
trabalho e seu dinheiro), São Paulo, Negócio, 2002, p. 105, ele diz: “O aumento da potência
dos computadores faz supor que... Em torno de 2010, um computador deverá ter a
mesma capacidade de processamento que um cérebro humano. E, se você é um
adolescente, na época que tiver alguns netos (digamos, em 2048) ... Esses
jovens terão à disposição o equivalente a um PC de US$ 1.000... Com a capacidade
de processamento igual a todos os cérebros humanos dos Estados Unidos”. De
2000, que é quando o livro foi escrito, o que também nos faz pensar que há
certo alarde na capacidade de os americanos pensarem.
E,
mais abaixo: “(Essas tendências levaram a um debate público entre duas grandes
mentes: Ray Kurzweil do MIT, autor do livro The Age of Spiritual Machines: When
Computers Exceed Human Intelligence [A era das máquinas espiritualizadas:
quando os computadores excederem a inteligência humana], e o CEO de tecnologia
da Sun Microsystems, Bill Joy, que escreveu um ensaio muito pessimista para a
revista Wired, sob o título: ‘Why the Future Does Not Need Us’ [Porque o futuro
não precisa de nós]. Se esse assuntos interessam a você, esses artigos são
geniais)”.
Como
diz o povo, vamos organizar a zona.
Em
primeiro lugar, não foi um PC, o Deep Blue (azul profundo), que derrotou
Kasparov, e sim um conjunto de programadores humanos e a alta velocidade de
processamento. Nem jogaram sequer no mesmo plano, porquanto Kasparov é ao mesmo
tempo digital e analógico, enquanto o DB é principalmente digital, com as
analogias saindo das mentes de seus programadores.
Então,
pouco adiantará ter capacidade de processamento maior que o ser humano - isso
NÃO é, nem de longe, inteligência, assim como os livros de uma biblioteca, que
contêm muito mais inteligência de seus autores que qualquer ser humano poderia
mesmo agora sonhar em produzir ou possuir, não constituem senão memória. Já
falei até cansar da tríade memória, inteligência e controle, vá ler o modelo.
Depois,
os seres humanos já fomos ultrapassados.
Veja
as pessoas: a família é o ultrapassamento do indivíduo, o grupo da família, a
empresa do grupo. E cada ambiente é mais alto que qualquer pessoa ali dentro
(pois ela é parte dele): o município/cidade ultrapassa a empresa, o estado ao
m/c, a nação ao estado, o mundo à nação.
Agora,
é certo, como já falei também, que o crescimento exponencial da
memorinteligência-e-controle dos robôs (computadores dinâmicos), dos computadores
(robôs estáticos), dos ciborgues (em que a mente humana predomina) e dos
andróides (em que a mente informacional predomina) vá ultrapassar o indivíduo
humano em breve. Entrementes, a luta é pela sobrevivência do mais apto, do mais
hábil, para ver quem recebe futuro, quem deixa mensagem para diante. O ser
humano não está acabado, ele evoluirá junto com os demais seres de carbono,
promovendo uma fusão com os seres de metal.
A
humanidade está sendo ultrapassada na medida em que existe um metaprojeto que
vai mais longe, que usa o ser humano como ponte até o super-humano, do mesmo
modo como o Neanderthal foi ultrapassado. Ficou para trás. Devemos chorar por
ele? Seria melhor se tivesse sobrevivido? É claro que há um sentimento de
perda: ah!, como seria bom se os dinossauros tivessem sobrevivido. Acontece que
eles eram enormes e se estivessem aqui nós não estaríamos. É bucólico,
pastoril, ingênuo, é engraçadinho, mas não é aceitável. Devemos continuar com
nossas quatro mil doenças, nossa ignorância, nossa incivilidade, nossas
fraquezas todas? Quem deseja o carro não de 50 anos atrás, mas do ano passado?
Passou, acabou, não há volta, não.
E
assim será também será com a humanidade.
Como
projeto racional é preferível uma formiga ou um ser humano? E entre um ser
humano e um ser novo com mil, dez mil vezes a nossa capacidade de ver o
universo, o que escolheríamos?
Vitória, quarta-feira, 04 de setembro de
2002.
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