Tupiniquins
Por
um tipo de resistência qualquer à presença corporal e mental do estrangeiro no
Brasil, desde 1500, deram de nos chamar de civilização tupiniquim, um orgulho,
uma tolice às avessas.
Não
somos tupiniquins, nem tupinambás, nem gês, nem só indígenas de qualquer tribo.
Não somos negros africanos, nem brancos europeus, nem amarelos asiáticos. A
dificuldade dessa gente é aceitar que sejamos aquele povo mestiço novo de Darci
Ribeiro. A dificuldade maior é aceitar a novidade, que não tem parecença ou
semelhança com nada anterior, que tem realmente no âmago uma novidade que
precisa se afirmar totalmente.
É
fácil regredir.
É
fácil retornar à segurança do passado, que já é grandemente (mas não
totalmente) conhecido.
É
fácil optar pelo conforto do já sabido, em vez de caminhar para o futuro, para
o desconhecido, para nossa auto-afirmação. Não queremos estar acima, porém
também não queremos estar abaixo.
Esse
nativismo é inoportuno, porque o futuro não é tupiniquim. Tupiniquem? É o Brasil como um todo que está
caminhando para frente, que deseja, que necessita participar da luta pela
sobrevivência do presente mais apto. Afirmar só os negros é deixar de fora os
brancos, os amarelos e os vermelhos. E assim para cada afirmação solitária.
Mas,
afirmar a totalidade da brasilidade é levar todos e cada um. A invenção desse
futuro total, que é quadripartite, essa é MUITO MAIS difícil, verdadeiramente
obra de gigantes. Afirmar só os tupiniquins, ainda por cima uma de todas as
tribos, é voltar à tribalidade, é excluir a Ásia, a África, a Europa, é apostar
na trivialidade, na banalidade, numa qualquer partição em nome da revolta
contra o estrangeiro. Pois, veja, os tupiniquins eram estrangeiros também, de
12 mil anos atrás, esses que sucederam os de 15 mil anos atrás, e quem sabe
mais quantos.
A
grande luta – como se vê, conosco mesmo, como disse Milton Nascimento – é para
aceitar a grandeza de aceitar a todos.
Vitória,
quinta-feira, 19 de setembro de 2002.
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