Independência do Pensamento
O
que poderíamos chamar assim? E quão independentes podemos ser? Em relação a
quê?
Em
relação aos mundos, sendo eles quatro, independentes seriam os dois primeiros
(em 220 nações quatro grupos de 55), dependentes os dois últimos, por
definição. O primeiro, totalmente independente, o segundo de independência
relativa. O terceiro, dependente menor, o último totalmente dependente. Com
relação às 55 nações do primeiro grupo poderíamos pensar do mesmo modo, e assim
sucessivamente.
Com
relação ao Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia,
Ciência/Técnica e Matemática), sempre a linha-de-frente da pesquisa &
desenvolvimento teórico & prático. Portanto, nove modos, duas linhas de
P&D P&T, os quartis (25 %) superiores. Nestes, o baixo, o médio e o
alto conhecimento. No alto o inferior, o médio e o superior, altíssimo
conhecimento.
Nas
6,5 mil profissões também a linha-de-frente do fazer.
Ou
seja, aqueles que não pensam o que os demais estão pensando, que não são
dependentes do pensar alheio, que ao iniciar qualquer atividade não se
perguntam: “o que fulano ou beltrano estará fazendo ou pensando?”. Não há guia
para o independente. Isso é que é independência, não-dependência: a
inexistência de linhas de dependência, de aprisionamento, de correlação, de
ligação a próximo ou remoto fazer ou pensar, ato ou inteligência, forma ou
estrutura, imagem ou conceito.
Quando
pensamos num tecnartista independente, por exemplo, um arquiteto, queremos falar
de um que vai por si mesmo, que não é reflexo de ninguém, que está inventando
rumos novos, que pensa o futuro, não o passado.
Você
sabe muito bem que a grandessíssima maioria da humanidade, quase todos, pensam
o passado, repetem o que já foi feito. Todos esses são, por princípio, por
definição, dependentes, condicionados, subordinados, submissos, dóceis,
ligados, conectados, compromissados. Estamos buscando os independentes, os
incondicionados, os insubordinados, os insubmissos, os indóceis, os desligados,
os desconectados, os descompromissados.
Onde
está a Psicologia insubmissa?
Onde
as figuras ou psicanálises desligadas, os objetivos ou psico-sínteses
independentes de alheia aprovação, as produções ou economias incondicionadas,
as organizações ou sociologias insubordinadas, os espaçotempos ou geo-histórias
desconectadas dos comandos alienígenas? Onde as agropecuárias/extrativismos que
não se dobram, as indústrias rebeldes, os comércios descolados, os serviços
despregados, os bancos independentes?
Quão
independentes podemos ser?
Pois
tudo é questão de grau. Um louco é independente dos modelos humanos de
comportamento, é uma psicologia ou alma que se desgarrou, que não pactua,
exceto pela língua (através da qual, por sinal, pode ser trazido de volta à
prisão, sabendo-se como). Um débil mental está ainda mais longe de intervenção
humana. De um animal nos separam não apenas o ADRN, mas a língua e toda a
cultura relativamente avançadíssima da humanidade capitalista de terceira onda.
Dentro desta, quão independentes podemos ser? Primeiro, a independência é
dolorosa, não é para qualquer um, é preciso ter uma formidável resistência
interna, tolerar a solidão e a exclusão socioeconômica, até o ostracismo
cultural. Segundo que a independência, sendo graduada, é um aprendizado de
profundidades.
Finalmente,
numa abordagem mínima, de espaçotempo tão pequeno, o que é realmente a
independência de pensamento? De início há a independência, da qual poderíamos
falar horas. Depois, há o pensamento. Só por ser pensamento já é dependência,
porque só se pode pensar dentro de marcos-do-pensar, isto é, com língua, que é
envoltório socioeconômico. Vendo assim, não há verdadeira independência, desde
quando há pensamento, e pensamento é sempre dependência. Se trata de uma
contradição em termos. SÓ UM pode ser absolutamente independente, Deus, que se
descola verdadeiramente de tudo. Mas, quando Deus opta por criar o universo,
ele opta por conceder a graça da liberdade, com o quê se torna dependente da
continuidade de sua Criação. Fora esse um, todos os demais são dependentes,
todos são RELATIVOS A ALGO. Desde quando há a mesma matéria, mesma energia,
mesma informação, mesma memória, mesma inteligência e mesmo controle ou
comunicação, há dependência. Vemos que a dependência, como a pobreza, é absoluta,
enquanto a independência, como a riqueza, é relativa. Podemos dizer que se é
rico de tal ou qual independência (relativa ao marco ou zero de definição).
Deste
modo, somos dependentes.
Em
que grau é que devemos decidir.
Devemos
fazer um PROJETO DE INDEPENDÊNCIA, ou seja, escolher quão alto iremos, em
termos de dependência. Como não pode haver verdadeira independência, exceto
para um, o que fazemos mesmo é construir ESCOLAS DA DEPENDÊNCIA, com pedagogias
da dependência. Por vezes dependência mais ou menos ilustrada, mais ou menos
iluminada (pois, lembre-se, só há UM ILUMINANTE, o infinito, ∞, o resto é
satélite do centro).
Como
conclusão, há o fato inelutável de que toda proclamação de independência é
sobretudo uma afirmação de ignorância, ou de arrogância.
Vitória,
quinta-feira, 03 de outubro de 2002.
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