quarta-feira, 28 de dezembro de 2016


Liberdade é o Oposto de Igualdade

 

                            No livro de Jean-Jacques Chevalier, As Grandes Obras Políticas de Maquiavel a Nossos Dias, 4ª edição, Rio de Janeiro, Agir, 1989, p. 255, capítulo III, ‘A Democracia na América’, de Aléxis de Tocqueville (1835-1840), falando de Tocqueville, ele diz: “Os Estados Unidos, por um concurso particular de circunstâncias, por efeito também de uma legislação sobre as sucessões que passou por toda parte o ‘seu nível’, oferecem, em 1830, o tipo mais impressionante de estado social igualitário. ‘Os homens ali se mostram mais iguais pela riqueza e pela inteligência ou, por outras palavras, mais igualmente fortes do que em qualquer outro país do mundo e do que em qualquer outro século relembrado pela história’. É poderosa paixão a da igualdade, mais poderosa no coração humano que a da liberdade”, e mais abaixo: “tanto mais quanto os bens por ela proporcionados só aparecem com o tempo, enquanto os da igualdade se fazem sentir imediatamente: ‘A liberdade política dá, de quando em quando, a certo número de cidadãos sublimes prazeres. – A igualdade oferece diariamente uma multidão de pequenos gozos a cada homem’”.        

                            Ora, eu não havia pensado ainda que igualdade e liberdade fossem o contrário. DEPOIS DISSO, fiz as traduções na Rede Cognata, obtendo, logicamente, igualdade = 0/G = T e liberdade = 0/T = G, pelo que são real e totalmente opostas, só conciliáveis, como par de opostos/complementares, pela justa feição ou respeito a ambas no centro. Que grande surpresa e que grande susto, porque sempre pensei que liberdade e igualdade fossem uma e a mesma coisa. São, mas só após a compreensão e a fusão.

                            Isso é em tudo surpreendente, mas depois que compreendemos podemos ver que a liberdade das elites deve ser equivalente em tamanho ou módulo à liberdade do povo, ou, em termos da nova notação que estou adotando, não somente a soma é zero como o produto é um, quer dizer, ∑ = 0 e Π = 1, isto é, Ax = bY (se A é grande, x é pequeno, e se b é pequeno, Y é grande). Muita igualdade para o povo quererá sempre dizer pequena liberdade para as elites, significando que estas não se interessarão pela nação ou povelite ou cultura. Não desenvolverão patentes, marcas, modelos de utilidade, direitos autorais, programas, algoritmos. Não criarão novas coisas, o mundo continuará sempre velho e decadente, como o estado soviético foi, de linhas retas e duras, sem molejo, sem o traquejo, sem a maleabilidade que o teria salvado, sem resistência pela inteligência. Por outro lado, sem igualdade haverá o desinteresse popular, aquela prostração de não ver futuro, como no Brasil. Só em países da Europa, ou nos EUA e Japão, e noutros que estão emergindo, onde são conciliadas as duas preferências, podem as nações ou culturas ou povelites prosperar.

                            A nação mais eficiente é, em cada ponto, linha, plano ou espaçotempo aquela que saiba conciliar melhor a soma T + G = ∑ ou T.G = Π, em resumo, as somas e produtos de igualdade = T e liberdade = G. Se o povo pretender liberdade demais as elites recusar-se-ão a participar com suas inteligências, e se for o contrário, se as elites insistirem em liberdade desbragada, à custa da decência popular, o povo não trabalhará a contento – sempre de mau humor, tenso, distraído, desatento, inconformado.

                            Você há de convir que é MUITO MAIS interessante desenhar nesse equilíbrio precário do que nas folgas do passado. Qualquer um pode governempresariar em igualdade total ou em liberdade total, sobreagradando ao povo ou às elites, respectivamente. O difícil mesmo é levar a ambos a bom porto, dentro da segurança do Estado geral.

                            É fácil demais dar tudo às elites, suprimindo tributos que elas paguem (nunca desejam fazer isso), ou destroçando as leis de contenção, deixando a baderna assumir os destinos humanos, sem qualquer margem de negociação que detenha a impudicícia. Liberalismo, o excesso de liberdade, ou igualitarismo, os dois “ismos”, essas duas doutrinas ou sobreafirmações do info-controle mais apto ou hábil, essas doenças psicológicas humanas dos extremos, são quedas da capacidade de governempresariar, são desvios, são sintomas de insuficiência crescente.

                            Excesso de liberdade, liberalismo, leva à licenciosidade, como quando as elites querem tudo para si, sem respeito ao povo, como no Brasil. Excesso de igualdade leva à inércia civilizatória, à paralisação da criatividade, quando distribuição da riqueza fosse tão perfeita que as diferenças fossem suprimidas totalmente, como se pretendeu fazer na URSS, na China, em outros países. O melhor mesmo é o Caminho de Duas Vias, da China atual.

                            Nenhum excesso pode levar senão à ruína.

                            Vitória, quarta-feira, 11 de setembro de 2002.

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