Liberdade é o Oposto de Igualdade
No
livro de Jean-Jacques Chevalier, As Grandes Obras Políticas de Maquiavel a
Nossos Dias, 4ª edição, Rio de Janeiro, Agir, 1989, p. 255, capítulo III, ‘A
Democracia na América’, de Aléxis de Tocqueville (1835-1840), falando de
Tocqueville, ele diz: “Os Estados Unidos, por um concurso particular de
circunstâncias, por efeito também de uma legislação sobre as sucessões que
passou por toda parte o ‘seu nível’, oferecem, em 1830, o tipo mais
impressionante de estado social igualitário. ‘Os homens ali se mostram mais
iguais pela riqueza e pela inteligência ou, por outras palavras, mais
igualmente fortes do que em qualquer outro país do mundo e do que em qualquer
outro século relembrado pela história’. É poderosa paixão a da igualdade, mais
poderosa no coração humano que a da liberdade”, e mais abaixo: “tanto mais
quanto os bens por ela proporcionados só aparecem com o tempo, enquanto os da
igualdade se fazem sentir imediatamente: ‘A liberdade política dá, de quando em
quando, a certo número de cidadãos sublimes prazeres. – A igualdade oferece
diariamente uma multidão de pequenos gozos a cada homem’”.
Ora,
eu não havia pensado ainda que igualdade e liberdade fossem o contrário. DEPOIS
DISSO, fiz as traduções na Rede Cognata, obtendo, logicamente, igualdade = 0/G
= T e liberdade = 0/T = G, pelo que são real e totalmente opostas, só
conciliáveis, como par de opostos/complementares, pela justa feição ou respeito
a ambas no centro. Que grande surpresa e que grande susto, porque sempre pensei
que liberdade e igualdade fossem uma e a mesma coisa. São, mas só após a
compreensão e a fusão.
Isso
é em tudo surpreendente, mas depois que compreendemos podemos ver que a
liberdade das elites deve ser equivalente em tamanho ou módulo à liberdade do
povo, ou, em termos da nova notação que estou adotando, não somente a soma é
zero como o produto é um, quer dizer, ∑ = 0 e Π = 1, isto é, Ax = bY (se A é
grande, x é pequeno, e se b é pequeno, Y é grande). Muita igualdade para o povo
quererá sempre dizer pequena liberdade para as elites, significando que estas
não se interessarão pela nação ou povelite ou cultura. Não desenvolverão
patentes, marcas, modelos de utilidade, direitos autorais, programas,
algoritmos. Não criarão novas coisas, o mundo continuará sempre velho e
decadente, como o estado soviético foi, de linhas retas e duras, sem molejo,
sem o traquejo, sem a maleabilidade que o teria salvado, sem resistência pela
inteligência. Por outro lado, sem igualdade haverá o desinteresse popular,
aquela prostração de não ver futuro, como no Brasil. Só em países da Europa, ou
nos EUA e Japão, e noutros que estão emergindo, onde são conciliadas as duas
preferências, podem as nações ou culturas ou povelites prosperar.
A
nação mais eficiente é, em cada ponto, linha, plano ou espaçotempo aquela que
saiba conciliar melhor a soma T + G = ∑ ou T.G = Π, em resumo, as somas e produtos
de igualdade = T e liberdade = G. Se o povo pretender liberdade demais as
elites recusar-se-ão a participar com suas inteligências, e se for o contrário,
se as elites insistirem em liberdade desbragada, à custa da decência popular, o
povo não trabalhará a contento – sempre de mau humor, tenso, distraído,
desatento, inconformado.
Você
há de convir que é MUITO MAIS interessante desenhar nesse equilíbrio precário
do que nas folgas do passado. Qualquer um pode governempresariar em igualdade
total ou em liberdade total, sobreagradando ao povo ou às elites,
respectivamente. O difícil mesmo é levar a ambos a bom porto, dentro da
segurança do Estado geral.
É
fácil demais dar tudo às elites, suprimindo tributos que elas paguem (nunca
desejam fazer isso), ou destroçando as leis de contenção, deixando a baderna
assumir os destinos humanos, sem qualquer margem de negociação que detenha a
impudicícia. Liberalismo, o excesso de liberdade, ou igualitarismo, os dois
“ismos”, essas duas doutrinas ou sobreafirmações do info-controle mais apto ou
hábil, essas doenças psicológicas humanas dos extremos, são quedas da
capacidade de governempresariar, são desvios, são sintomas de insuficiência
crescente.
Excesso
de liberdade, liberalismo, leva à licenciosidade, como quando as elites querem
tudo para si, sem respeito ao povo, como no Brasil. Excesso de igualdade leva à
inércia civilizatória, à paralisação da criatividade, quando distribuição da
riqueza fosse tão perfeita que as diferenças fossem suprimidas totalmente, como
se pretendeu fazer na URSS, na China, em outros países. O melhor mesmo é o
Caminho de Duas Vias, da China atual.
Nenhum
excesso pode levar senão à ruína.
Vitória,
quarta-feira, 11 de setembro de 2002.
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