sábado, 31 de dezembro de 2016


Os Saltos da Natureza

 

                            Como dizem que a Natureza detesta o vácuo, e já provei que não é em geral verdade, também afirmam que a Natureza não dá saltos, o que também não é verdade, em geral. Pois, veja, na protonébula, na nuvem primitiva de onde se originou o Sol, havia um momento em que ele não existia como estrela radiante e outro em que sim, existia plenamente.

                            Não só a Natureza dá salto, como ficou provado uma vez, como dá inúmeros saltos. Aliás, sempre dá saltos. Há evolução e há revolução no dicionário, dois conceitos opostos-e-complementares. Tais palavras estão lá, então constituem desenho-de-mundo, condição inelutável dele.

                            Ora, há um momento em que os pequenos acréscimos de tijolos, de esquadrias, de janelas e portas, de piso, de reboco, de pintura, de telhas, de acabamento resultam na casa completa, com o “habite-se” ou alvará de moradia, emitido pelo Corpo de Bombeiros e a Prefeitura Municipal, quando ela então pode ser habitada e deixa de ser construção, processo, para ser objeto de uso. Houve um rompimento nítido. Tal rompimento ou quebra assinala verdadeiramente o salto revolucionário. Houve o salto. E é assim sempre. Onde houver evolução a contraparte é a revolução ou salto. Onde as quantidades forem sendo compostas logo em seguir poderá emergir o nível ou patamar mais alto, distintivo, diferente. Como que não? Está lá, podemos ver, como diz nosso amigo, G.

                            Não há jeito de recusar a compreensão de que a Natureza dá efetivamente saltos, e muitos, e sempre. Para onde quer que olhemos, ela dá saltos sempre. Acumulou um tanto ela salta. É assim que a micropirâmide e a mesopirâmide foram compostas, e será ainda trabalhado o substrato da macropirâmide. Se segue que aqueles que fizeram tal afirmação estavam errados. O que queriam efetivamente dizer, que a gente reconhece como válido, a ponto de aceitar toda a afirmação?

                            É que a Natureza não faz coisas perdulariamente, sem propósito, sem ser com máximo rendimento econômico. Se deve passar entre A e B escolherá o menor caminho, a reta de menor esforço (que pode nem ser uma reta, mesmo). Dar saltos ela dá, já o vimos; só não faz doideiras, saltando a torto e a direito. Dá o salto de mínimo esforço, de máximo rendimento, em minimax, máximo com o mínimo.

                            Vitória, sexta-feira, 04 de outubro de 2002.

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