quarta-feira, 28 de dezembro de 2016


Diz Gabriel

 

                            Diz Gabriel, meu filho de 16 anos, agora estudando o 3º ano do 2º grau, pré-vestibular, que as pessoas bonitas ou que cuidam muito de si ou que têm os sentidos muito desenvolvidos não se voltam para o uso da inteligência, o que faz muito sentido, é lógico.

                            Se a gente pensar bem o que ele diz os sentidos muito aguçados, por exemplo, exigem que a pessoa se oriente para o paladar ou gosto, o olfato, a visão, a audição e o tato. A superexigência desses sentidos obstrui o uso da inteligência, que todos têm. A opção de vida de tais indivíduos orienta-os para um sobreuso das memórias, que ele chama de BASE DE MEMÓRIA, ou seja, o substrato que temos para a paginação de nossas existências.

                            Por outro lado, vejamos as pessoas que cuidam muito de si mesmas, que se sobrevalorizam, que excedem a média de tempo gasta com os cuidados do corpo: empregando tanto tempo em observações contínuas das roupas, dos calçados, das pinturas, dos penteados, de tudo, quanto haveria de sobrar para pensar com afinco e detalhadamente?

                            E quanto às mulheres bonitas e aos homens bem-apessoados? Estas e estes devem cuidar sempre, cotidianamente, de seus corpos. Segundo Van Damme o corpo é o seu templo, e é certo pensar que ele reza no altar de si todos os dias, indo ao fisiculturismo. Quanto tempo sobraria para meditação? Contando por dia (não no caso dele, que é ator e trabalha três ou quatro meses por ano) oito horas de trabalho, duas para viagens, duas para alimentação e higiene, mais as conversas com os amigos, o sexo, quanto sobra num ano inteiro? E já sendo bonitas as mulheres encontram fácil colocação na vida, como agregadas de algo ou de alguém. Não devem cavar sua existência.

                            Portanto, e aqui sou eu dizendo, se segue que essas pessoas não se voltam para a aplicação de suas inteligências. O amor de si não permite que elas saiam ao mundo e resolvam amplos problemas, só aqueles diminutos ligados ao EU ou EGO. Nos termos dele, não ampliam suas bases de memória, de onde a inteligência nada pode sacar.

                            Ora, como Filosofia vem do grego e quer dizer FILOS = GOSTAR e SOFOS = SABER ou pensar, gostar de saber, filósofo é quem gosta de pensar. Como Gabriel gosta de pensar, creio que posso dizer que mesmo nessa tenra idade ele é um filósofo.

                            Pois, diz Gabriel, generalizando, que as pessoas belas ou que têm os sentidos aguçados ou que se valorizam demais não vêem o mundo, só vêem a si mesmas. No fundo suas bases de memória para maior aptidão ou habilidade nunca crescem o suficiente, e por isso, digo eu, elas não se constituem em grandes valores para a humanidade. São, por assim dizer, um atraso de vida, e devem ser arrastadas (mas têm um valor de sobrevivência, é lógico) o tempo todo.

                            Com isso Gabriel descobriu um teste prático de QI, Quociente de Inteligência manifestada (não a que existe, mas a que é apresentada ao mundo pelos egoístas – e de passagem podemos saber quem são os egoístas que não ficarão na geo-história), a QI (m), para distinguir da QIM que já postulei. Quando se tratar de contratação de pessoas para uso de inteligência, basta observar os hábitos; é melhor pegar os desleixados, os não-belos, os de sentidos atrofiados.

                            Embora, é claro, existam as belas e os bem-apessoados que desistem de sua beleza por amor ao próximo.
                            Vitória, terça-feira, 03 de setembro de 2002.

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