Espalhamento Espacial
As
pessoas que lidam com a ficção tecnológica (já disse que quem faz ficção
científica são os cientistas) projetam futuros em que os seres humanos ocupam
rapidamente os planetas e avançam para as estrelas. Mesmo que possamos migrar
até as estrelas num prazo muito mais breve (como sugeri), COLONIZAÇÃO É OUTRA
COISA. É muito mais demorada, leva séculos e milênios.
E
isso em ambientes conhecidos e muito semelhantes, em que o suporte
biológico/p.2 é tolerante para com a vida humana, e não em lugares hostis, com
outras conformações da Bandeira Elementar (ar, água, terra/solo e fogo/energia,
e no centro Vida alienígena, e, temor dos temores, Vida-racional alienígena).
Veja que a colonização do Brasil, desde a descoberta em 22 de abril de 1500, já
fez 500 anos e ainda há espaços enormes não colonizados (e que devem continuar
assim, para proteção do ecopatrimônio).
Agora,
olhe a Bandeira Elementar de Marte, da Lua, de Vênus, de Mercúrio, dos
satélites dos jupiterianos. Pior de tudo, do vazio espacial. Note que são
outros poços gravitacionais, diferentes do 1,00 G da Terra (na Lua, como
sabemos, é 0,16 G). Há água em toda parte, mas pouca, exceto em Europa, que é
um oceano gelado. E ar, hem? E Vida, hem? E Vida-racional, que é mais preciosa,
hem?
As
pessoas são muito afoitas e escondem dos outros e de si os detalhes, na pressa
do convencimento alheio. Só agora (e felizmente), depois de (2002 – 1957) = 45
anos desde o Sputnik, é que as empresas privadas estão se lançando à
colonização inicial da Lua, a partir de 2005.
E
quanto à terra/solo?
Como
a fórmula da superfície da esfera é 4π r2 e a porção 4π é uma
constante, k, que dividida pela superfície de cada planeta referido à Terra
tornar-se um, resta o quadrado da divisão de um raio pelo outro. A superfície
da esfera ideal da Terra é de 510 milhões de km2.
SUPERFÍCIE
DOS OBJETOS (106 km2)
(Entre
parêntesis Terra = 1,00)
Mercúrio 74,8
0,15
Vênus 460,0 0,89
Terra 514,7 1,00
Lua 38,0
0,07
Marte 144,8 0,28
Olhe,
no entanto, que 2/3 da Terra são constituídos por água, restando 170 milhões de
quilômetros quadrados. Nos outros objetos a superfície é toda livre, embora em
Vênus o planeta inteiro seja coberto por uma nuvem só, com temperaturas de 450
graus centígrados. Entrementes, tomando apenas a superfície útil da Terra,
fazendo-a igual a um, temos uma nova tabela:
TERRA
= 1,00
Mercúrio 44 %
Vênus
271 %
Lua 22 %
Marte 85 %
O
ser humano, depois de milênios, em ambientes superfavoráveis relativamente, não
colonizou senão uns 40 milhões de km2, digamos ¼ do total das terras
emersas, a mesma superfície da Lua, metade de Mercúrio, coisa de 30 % da de
Marte e um oitavo da de Vênus.
E
isso são quatro objetos, que precisam ser terraformados por
eco-arquiengenharia, de modo a acomodar as possibilidades humanas. Sem falar em
70 satélites, milhões de meteoritos, bilhões de cometas, inesgotável espaço
vazio, e isso só no sistema solar, que é uma coisinha de nada, de 0,5 ano-luz
de diâmetro. Há espaçotempo de milhares de anos para a aventura humana e
pós-humana.
Além
disso, pense nas variações de temperatura, desde os 300º K até perto de 0º K no
espaço (três kelvin, na realidade, é a temperatura da radiação de fundo). Em
resumo, a coisa não acontecerá no horizonte de 30 anos. Serão centenas e
milhares de anos. Há que espalhar todos os enquadramentos do modelo. Por
exemplo, pessoas: indivíduos, famílias, grupos e empresas marcianas. Em
ambientes: municípios/cidades, estados, nações e mundos (marciano, digamos).
Como construir dois milhões de bairros e distritos (que é minha estimativa para
a Terra) em Marte, ou em Vênus, ou na Lua ou em Mercúrio, em CATPG (condições
anormais de temperatura, pressão e gravidade)? Que empresas se desenvolverão
lá? Qual a nova psicologia (psicanálise ou figuras venusianas; psico-síntese ou
objetivos lunares; economias ou produções marcianas; sociologias ou
organizações mercurianas; geo-história ou espaçotempo do vazio do SS) capaz de
enfrentar esses espaçotempos hostis?
Ninguém
faz esse tipo de sintanálise a sério, em longo prazo, para sustentar as
construções de ficção. Ninguém investiga com um grupo de pesquisadores & de
desenvolvedores teóricos & práticos os trilhões de derivações dialógicas
desse novo futuro. Se as coisas já são complexas na Terra relativamente
primitiva de agoraqui, como será nesse futuro fantasticamente mais complicado
de depois?
Então,
quando esses caras mostram o pseudofuturo ficcional eu rio por dentro, mas
assisto, porque ajuda a esvaziar a mente, cansada talvez de pensar coisas menos
absurdas.
Vitória,
quarta-feira, 25 de setembro de 2002.
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