sexta-feira, 30 de dezembro de 2016


Espalhamento Espacial

 

                            As pessoas que lidam com a ficção tecnológica (já disse que quem faz ficção científica são os cientistas) projetam futuros em que os seres humanos ocupam rapidamente os planetas e avançam para as estrelas. Mesmo que possamos migrar até as estrelas num prazo muito mais breve (como sugeri), COLONIZAÇÃO É OUTRA COISA. É muito mais demorada, leva séculos e milênios.

                            E isso em ambientes conhecidos e muito semelhantes, em que o suporte biológico/p.2 é tolerante para com a vida humana, e não em lugares hostis, com outras conformações da Bandeira Elementar (ar, água, terra/solo e fogo/energia, e no centro Vida alienígena, e, temor dos temores, Vida-racional alienígena). Veja que a colonização do Brasil, desde a descoberta em 22 de abril de 1500, já fez 500 anos e ainda há espaços enormes não colonizados (e que devem continuar assim, para proteção do ecopatrimônio).

                            Agora, olhe a Bandeira Elementar de Marte, da Lua, de Vênus, de Mercúrio, dos satélites dos jupiterianos. Pior de tudo, do vazio espacial. Note que são outros poços gravitacionais, diferentes do 1,00 G da Terra (na Lua, como sabemos, é 0,16 G). Há água em toda parte, mas pouca, exceto em Europa, que é um oceano gelado. E ar, hem? E Vida, hem? E Vida-racional, que é mais preciosa, hem?

                            As pessoas são muito afoitas e escondem dos outros e de si os detalhes, na pressa do convencimento alheio. Só agora (e felizmente), depois de (2002 – 1957) = 45 anos desde o Sputnik, é que as empresas privadas estão se lançando à colonização inicial da Lua, a partir de 2005.

                            E quanto à terra/solo?

                            Como a fórmula da superfície da esfera é 4π r2 e a porção 4π é uma constante, k, que dividida pela superfície de cada planeta referido à Terra tornar-se um, resta o quadrado da divisão de um raio pelo outro. A superfície da esfera ideal da Terra é de 510 milhões de km2.

                            SUPERFÍCIE DOS OBJETOS (106 km2)

                            (Entre parêntesis Terra = 1,00)

                            Mercúrio                                      74,8                  0,15

                            Vênus                                          460,0                   0,89

                            Terra                                             514,7                  1,00

                            Lua                                                 38,0                  0,07

                            Marte                                           144,8                  0,28

                            Olhe, no entanto, que 2/3 da Terra são constituídos por água, restando 170 milhões de quilômetros quadrados. Nos outros objetos a superfície é toda livre, embora em Vênus o planeta inteiro seja coberto por uma nuvem só, com temperaturas de 450 graus centígrados. Entrementes, tomando apenas a superfície útil da Terra, fazendo-a igual a um, temos uma nova tabela:

                            TERRA = 1,00

 

                            Mercúrio                        44 %

                            Vênus                            271 %

                            Lua                                  22 %

                            Marte                              85 %

                           

                            O ser humano, depois de milênios, em ambientes superfavoráveis relativamente, não colonizou senão uns 40 milhões de km2, digamos ¼ do total das terras emersas, a mesma superfície da Lua, metade de Mercúrio, coisa de 30 % da de Marte e um oitavo da de Vênus.

                            E isso são quatro objetos, que precisam ser terraformados por eco-arquiengenharia, de modo a acomodar as possibilidades humanas. Sem falar em 70 satélites, milhões de meteoritos, bilhões de cometas, inesgotável espaço vazio, e isso só no sistema solar, que é uma coisinha de nada, de 0,5 ano-luz de diâmetro. Há espaçotempo de milhares de anos para a aventura humana e pós-humana.

                            Além disso, pense nas variações de temperatura, desde os 300º K até perto de 0º K no espaço (três kelvin, na realidade, é a temperatura da radiação de fundo). Em resumo, a coisa não acontecerá no horizonte de 30 anos. Serão centenas e milhares de anos. Há que espalhar todos os enquadramentos do modelo. Por exemplo, pessoas: indivíduos, famílias, grupos e empresas marcianas. Em ambientes: municípios/cidades, estados, nações e mundos (marciano, digamos). Como construir dois milhões de bairros e distritos (que é minha estimativa para a Terra) em Marte, ou em Vênus, ou na Lua ou em Mercúrio, em CATPG (condições anormais de temperatura, pressão e gravidade)? Que empresas se desenvolverão lá? Qual a nova psicologia (psicanálise ou figuras venusianas; psico-síntese ou objetivos lunares; economias ou produções marcianas; sociologias ou organizações mercurianas; geo-história ou espaçotempo do vazio do SS) capaz de enfrentar esses espaçotempos hostis?

                            Ninguém faz esse tipo de sintanálise a sério, em longo prazo, para sustentar as construções de ficção. Ninguém investiga com um grupo de pesquisadores & de desenvolvedores teóricos & práticos os trilhões de derivações dialógicas desse novo futuro. Se as coisas já são complexas na Terra relativamente primitiva de agoraqui, como será nesse futuro fantasticamente mais complicado de depois?

                            Então, quando esses caras mostram o pseudofuturo ficcional eu rio por dentro, mas assisto, porque ajuda a esvaziar a mente, cansada talvez de pensar coisas menos absurdas.

                            Vitória, quarta-feira, 25 de setembro de 2002.

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