Matemáticas Pura e
Aplicada
A matemática “pura”
seria aquela que não tem aplicação, senão a mera busca pelo prazer do
descobrimento, enquanto a “aplicada” seria o contrário, aquela que serve às
técnicas e ciências, ou outras áreas do conhecimento.
Mas a matemática
pura fatalmente se torna aplicada um dia, e toda matemática aplicada de hoje
não tinha uso antigamente, de modo que a distinção é inócua, e porisso mesmo
irritante, ferindo o Princípio de Ocam da não-criação de categorias
desnecessárias de definição.
Os matemáticos
“puros”, estando na linha de frente da criação, zombam de seus parceiros
“aplicados”, porque estes estariam lidando com a plebe rude e selvagem, com os
ignorantes. Estes outros acham aqueles tremendos esnobes, uma falsa elite cheia
de faniquitos e ares de superioridade. É a mesma rixa que existe entre
cientistas e técnicos, ou entre os pesquisadores teóricos e os laboratoristas.
Não existe
matemática “impura”, da qual a “pura” fosse o oposto, nem “inaplicada”, da qual
a “aplicada” fosse o contrário. Porisso os nomes não fazem sentido.
Mas nós podemos
falar em frente de onda da criação, e em operadores da criação, aqueles que
estão procurando aplicações práticas para a teoria recém-descoberta. Ou em
teóricos e práticos. Mas, como esses nomes já são usados em outras seções do
conhecimento, é melhor definir precisamente essas duas categorias novas, para
diferenciar sem malícia e conotações de valor dois grupos que trabalham em
distintos pontos da mesma flecha, uns à frente e outros atrás, mas todos
buscando o mesmo alvo.
Daí teríamos os
CRIADORES e os OPERADORES.
Os matemáticos criadores têm várias
alturas, desde os grandes até os pequenos, desde os definidores de áreas
totalmente novas, até os que vão atrás detalhando os quadrinhos do grande
cenário.
Os criadores grandes
são reconhecidamente poucos, não passam de 100 em toda a história humana
escrita. Os pequenos são milhares, criando por ano 100 mil teoremas, cuja
compreensão holística ou generalizante depende justamente dos maiorais.
Os matemáticos operadores também se
dividem em grandes e pequenos, e trabalham em várias seções do Conhecimento
geral, naquilo que chamei de partidos do conhecimento, especialmente na Ciência
e na Técnica. E entre grandes e pequenos medeia uma quantidade enorme de
outros.
Pois bem, agora
temos conceitos úteis.
Os criadores estão
na ponta da flecha, avançando para o desconhecido, arrancando as matemáticas da
Matemática, transformando o potencial no real, que servirá à espécie humana. Os
operadores também cumprem uma tarefa importantíssima, pois vão na outra ponta
transferindo o conhecimento recém-adquirido às pessoas que não tem identidade
com a matéria. Eles estudam o que foi criado e tornam-no inteligível às massas.
Embora o outro trabalho seja fundamental, pois sem descoberta não pode haver
aplicação, a dedicação desses operadores é de extrema importância, pois sem
eles o mundo não se matematizaria, ficaria sempre trabalhando em níveis
baixíssimos de compreensão e eficácia.
Com esses novos conceitos
nós já ficamos sabendo do que estamos falando, ou seja, alguém criar, lá na
frente, e alguém operar a transferência aos não-matemáticos. A coisa deixa o
misticismo do “puro” e do “aplicado” para cair em categorias sem quaisquer
conotações de valor, que levam sempre a julgamentos desfavoráveis e rastros de
ódio.
Vitória, quarta-feira,
10 de abril de 2002.
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