quarta-feira, 11 de janeiro de 2017


Previsão do Futuro

 

                            As pessoas vivem procurando saber como será o futuro.

                            Além do que já foi dito de saber antecipadamente da própria morte (se for distante, as pessoas ficarão provisóriamente satisfeitas; se for próxima, aterrorizadas; mas o distante se torna progressivamente perto e virá o pavor, de qualquer modo – ninguém julga que aproveitou suficientemente a vida), há algo de MUITO MAIS terrificante.

                           Suponha que o pessoal do início dos anos 1980, quando a AIDS começou, soubesse do coquetel de drogas que não cura a doença, mas prolonga o tempo de vida: como essa gente ficaria sabendo que poucos anos depois de suas mortes a mistura a ser inventada poderia prolongar suas existências? Pior ainda, suponha que a morte (que é doença degenerativa) seja definitivamente afastada apenas alguns meses depois da morte de centenas de milhões (morrem vários milhões por ano). Essas pessoas ficariam satisfeitas? Mais ainda, a morte é uma contenção, é uma pedagogia da convivência humana, porque se alguém soubesse dela poderia perpetrar os piores atos, à mercê da morte iminente.

                            Pense como você ficaria ao saber que sua esposa iria morrer dentro de alguns meses, inapelavelmente. Você se debateria, você praguejaria, mas inevitavelmente ela estaria caminhando para a morte. Imagine que você visse que ela morreria de avião, com certeza você não a deixaria embarcar de modo algum; vai que cai um avião sobre a sua casa, onde naquele dia especial ela está trancada.

                            Enfim, ao contrário do que pensariam alguns, conhecer o futuro é terrível, até porque ele pode se realizar de modo distinto do que deduzimos do aviso, como acontece com as minhas visões. É ruim demais. Longe está de ser uma benção. É mais uma tortura, um castigo.

                            Vitória, quinta-feira, 28 de novembro de 2002.

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