sábado, 28 de janeiro de 2017


Bibliotecas Inaproveitadas

 

                            A gente vai às bibliotecas das cidades do interior e lá estão milhares de livros, cada um por si só uma riqueza, um patrimônio, a geo-história de uma vida, ou de parte dela, resultados de pesquisas, uma transição acumulativa. E lá estão eles, paradinhos, às vezes sujos e empoeirados, destroçados, arruinados, riscados. Quanta riqueza sem proveito!

                            Por outro lado, ninguém tentou ainda ver o Livro geral como uma mercadoria DE LEITURA, pois como bloco ele é vendido pelas editoras, que assim o vêem desde sempre. As editoras e livrarias pensam o livro individual como um objeto, que por acaso pode ser folheado, lendo-se as palavras e olhando-se as figuras antes da aquisição. Para você que compra, o livro traduz experiências e pensamentos, mas para o vendedor não passa de um retângulo, um volume (tanto que o chamam assim) a ser passado adiante.

                            Se você tivesse de vender O CONTEÚDO, o que faria?

                            Seria necessário propagandeá-lo.

                            Fazem propaganda do conteúdo de revistas, de televisões, da Internet, dos jornais, das rádios e outros meios, mas não dos livros. No que o Livro pode engrandecer as PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos, empresas) e AMBIENTES (municípios/cidades, estados, nações, mundo)? No quê as classes do TER (ricos, médios-altos, pobres e miseráveis) e as classes econômicas (agropecuaristas/extrativistas, industriais, comerciantes, dos serviços e bancários)? Enfim, que lucros podemos esperar da leitura? Que vantagens? Como o Livro nos faria crescer, prosperar? Como o leríamos por conta própria, por iniciativa própria, para melhorar de vida? Quando compramos uma camisa sabemos que ela vai nos proteger das intempéries, melhorar nossa aparência, atrair mais gente, mas quando compramos um livro o que ele vai fazer por nós? Nos distrair, nos ensinar uma técnica nova, o quê? Os editores não informam, esperando que a fama do Livro, por si só, baste. Agoraqui, porém, existe competição de muitos outros meios e muitas oportunidades, desde ir a bares, a centros de compras, a cinemas, ver TV em casa, passear na praia, conversar com os amigos por telefone, um milhão de oportunidades bem mais simples e diretas que vasculhar um livro por vezes com palavras difíceis.

                            O Livro deveria ser preparado para as idades (0-7, 8-14, 15-21, 22-28, etc.), para os interesses separados dos sexos (como em parte já é), para os mundos (são quatro), para as confissões culturais (a de fundo latino, digamos), as nações e suas línguas, a fracionalização contemporânea, o nível escolar, as classes econômicas, as bandeiras (DA PROTEÇÃO: lar, armazenamento, segurança, saúde, transportes; ELEMENTAR: ar, água, terra/solo, fogo/energia, no centro a Vida, no centro do centro a Vida-racional). Ele deve ser reprogramado visualmente e devemos adotar um código de cores para fácil identificação na capa e na lombada.

                            Por outro lado, os livros eletrônicos, como já disse no Livro 20, artigo A Prosperidade do Livro Eletrônico, podem trazer tremendas novidades, como o cruzamento de informações, atualização on-line de quadros e tabelas, de artigos, debates, círculos de interesses, contestações, saltos por hiperlink, dicionárienciclopédia incorporada, uma quantidade enorme de inovações.

                            A partir disso podemos pensar numa BIBLIOTECA VIRTUAL que admitisse leitura compartilhada, marcação dos textos, informação sobre outros interessados e várias alternativas - um poder que a humanidade ainda não adentrou, nem de longe, e que fará em algumas décadas o que séculos não fizeram. Entrementes, é preciso preparar as coisas para acontecer – elas não vão brotar espontaneamente, deve haver uma ÁRVORE DE POSSIBILIDADES conectadas, levando as pessoas pelas mãos.

                            Mormente, os livros DEVEM INDICAR PRECISAMENTE a que vieram, que lucros irão proporcionar. As pessoas não são bobas e num mundo competitivo como este, onde é preciso estar atento o tempo inteiro para não ser “perneado”, como diz o povo, empregar horas ou dias apenas a troco de “cultura geral” é não apenas inútil como prova de estupidez, exceto para os pesquisadores, que já sabem organizar seus pensamentos extrativos ANTES de ler tudo. O leitor assíduo, o pesquisador, só de saber o nome do autor, o título do livro, o índice, já sabe o que vai encontrar, se interessa ou não ler. A restante humanidade não é assim, longe disso.

                            Daí a necessidade de reprogramar totalmente a apresentação dos livros. A editora que fizer isso primeiro vai crescer tremendamente, lançando uma nova era do livro, antes mesmo do livro eletrônico emplacar definitivamente.

                            Vitória, domingo, 26 de janeiro de 2003.

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