domingo, 29 de janeiro de 2017


O Matador

 

                            A câmera vem do espaço, chega à Terra, uma cidade qualquer, um estádio, gritaria, alegria, um homem comemora com a família, tudo é felicidade, gols, o estádio vibra. Retorno (flash back) ao passado, o homem é vendedor, fica muitos dias fora. Realmente vende, produz resultados para a empresa, mas é um assassino contratado envolto em várias peripécias, tendo uma longa folha de “serviços”. A vida aventurosa dele é contada. No fim a câmara volta a ele, completamente integrado na comunidade, sem qualquer remorso, perfeitamente bem com tudo, com dinheiro no bolso, mulher bonita, filhos saudáveis e belos, os dentes brilham. A câmara vai embora e desce um pedaço, indicando que vai pegar outro qualquer, daí o filme piloto dá lugar à série.

                            Impunidade, perfeita cobertura, é um cidadão comuníssimo, totalmente vulgar e sem identificação, que bebe e faz churrasco com os amigos, vai à igreja aos domingos, produz junto com o coletivo e apesar disso é um matador que senta ao seu lado. Quantas transgressões estão acontecendo sob nossas barbas?

                            Outro filme pode ser sobre discussão num sinal. Ou é outro (a) matador (a) ou um empresário terrível, muito poderoso, que guarda rancor, se apresentando de bermuda num carro relativamente simples e velho. E assim podem ser mostradas várias situações para prevenir as pessoas e diminuir os conflitos sociais, indicando como as coisas mais corriqueiras podem ser na verdade complicadas.

                            Isso pode se basear em relatos, os chamados ”fatos reais”, como diz a imprensa na pressuposição de que existam fatos irreais (existem mesmo, os governos estão sempre os produzindo, pelo menos no ES). Podem ser consultadas as páginas policiais dos jornais e as assentadas das delegacias.

                            Vitória, domingo, 26 de janeiro de 2003.

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