Pressões
Sobre o Terceiro e Quarto Mundos
Veja que o mundo
romano de dois mil anos atrás não era aquele de máxima expressão dos nórdicos,
dos anglo-saxões e de todos os povos caucasianos que das estepes avançaram em
sucessivas levas até o confronto com a barreira do Mediterrâneo, o que veio a
constituir o primeiro limite da expansão branca-européia.
Foi
preciso que dois mil anos se passassem, que os gregos e os romanos se juntassem
na civilização greco-romana, depois acrescentada da raiz judaica, com os
favores orientais, pelo bem e pelo mal, mais uma quantidade de embates até que
os caucasianos tivessem sua chance de se expressarem.
Do
mesmo modo hoje, se dividirmos o mundo de cerca de 220 nações em quatro grupos
de 55 cada como A, B, C e D, como se fossem as classes do TER (ricos,
médios-altos, pobres e miseráveis) – primeiro, segundo, terceiro e quarto
mundos -, veja que tremendas pressões se exercem sobre a rabeira universal, os
que estão na retaguarda como subdesenvolvidos ou, como diz a bobagem do
“politicamente correto”, os Novos Países Industrializados ou Países em Processo
de Industrialização, como se isso fosse necessariamente bom, a industrialização
e a aculturação imitadora do centro.
Assim,
a pressão pior que é exercida sobre o M3 e o M4 é essa de replicar o que é
supostamente bom e adequado, o que está dado como certo no M1 e M2 e está mesmo
muito longe de sê-lo. Teria sido melhor os ricos e médios-altos de hoje
contentarem-se em ser escravos dos romanos? Não deveriam eles ter-se revoltado?
Como SIM para eles, SIM para esses que são agora escravos dos da frente. A
pressão é dupla: 1) sobre as elites E3 e E4 no sentido de imitação do centro, e
2) sobre o povo P3 e P4 de reprovação dos gestos, das palavras, das crenças
“erradas”. O que é transferido é um sentimento agudo de “inadequação”, de
“imperfeição”. Ora, esse sentimento de despropósito da vida é justamente o que
angustia mais, o que leva às revoltas e à libertação posterior. Os que “não têm
vida própria” e que desejam tê-la devem inventar um modo só seu de viver, e de
ser, e de estar.
Vitória,
quarta-feira, 22 de janeiro de 2003.
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