sexta-feira, 27 de janeiro de 2017


Pressões Sobre o Terceiro e Quarto Mundos


 

                            Veja que o mundo romano de dois mil anos atrás não era aquele de máxima expressão dos nórdicos, dos anglo-saxões e de todos os povos caucasianos que das estepes avançaram em sucessivas levas até o confronto com a barreira do Mediterrâneo, o que veio a constituir o primeiro limite da expansão branca-européia.

                            Foi preciso que dois mil anos se passassem, que os gregos e os romanos se juntassem na civilização greco-romana, depois acrescentada da raiz judaica, com os favores orientais, pelo bem e pelo mal, mais uma quantidade de embates até que os caucasianos tivessem sua chance de se expressarem.

                            Do mesmo modo hoje, se dividirmos o mundo de cerca de 220 nações em quatro grupos de 55 cada como A, B, C e D, como se fossem as classes do TER (ricos, médios-altos, pobres e miseráveis) – primeiro, segundo, terceiro e quarto mundos -, veja que tremendas pressões se exercem sobre a rabeira universal, os que estão na retaguarda como subdesenvolvidos ou, como diz a bobagem do “politicamente correto”, os Novos Países Industrializados ou Países em Processo de Industrialização, como se isso fosse necessariamente bom, a industrialização e a aculturação imitadora do centro.

                            Assim, a pressão pior que é exercida sobre o M3 e o M4 é essa de replicar o que é supostamente bom e adequado, o que está dado como certo no M1 e M2 e está mesmo muito longe de sê-lo. Teria sido melhor os ricos e médios-altos de hoje contentarem-se em ser escravos dos romanos? Não deveriam eles ter-se revoltado? Como SIM para eles, SIM para esses que são agora escravos dos da frente. A pressão é dupla: 1) sobre as elites E3 e E4 no sentido de imitação do centro, e 2) sobre o povo P3 e P4 de reprovação dos gestos, das palavras, das crenças “erradas”. O que é transferido é um sentimento agudo de “inadequação”, de “imperfeição”. Ora, esse sentimento de despropósito da vida é justamente o que angustia mais, o que leva às revoltas e à libertação posterior. Os que “não têm vida própria” e que desejam tê-la devem inventar um modo só seu de viver, e de ser, e de estar.

                            Vitória, quarta-feira, 22 de janeiro de 2003.

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