terça-feira, 31 de janeiro de 2017


Os Atores da Fortuna

 

                            Quando olhei para o mundo vi uma quantidade de gente (quase todos e quase cada um) voltada para a acumulação, todo gênero dela. Acumulação de fama por artistas e políticos, acumulação de poder pelos governantes, acumulação de fortunas pelos empresários e os corruptos do Estado, acumulação de glória, acumulação disso e daquilo, acumulação, ajuntamento, amontoamento, concentração, armazenamento, empilhamento, acumulação.

                            Quase todos querem ser elite, parece. Quase todos, menos os santos, querem projeção, distinção, separação, proeminência.

                            Bilhões, zilhões de pessoas procurando aparecer. Eu não quis, achei chato demais repetir os gestos de tantos na busca da fortuna, inclusive a do tipo do TER: carros, casas, apartamentos, terras, ações e todo o resto. Que tipo de vida pode ser esta? No entanto, é fascinante para tantos! Os gestos todos muito repetitivos, muito semelhantes, quase iguais, mudando o que deve ser mudado. Se tirássemos uma figura humana e colocássemos outra quase não seria sentida a diferença. E os atores da fortuna não percebem que a peça do teatro da vida é sempre muito parecida. Quase todos acham que estão fazendo diferença.

                            Somos empurrados a ser engenheiros, dentistas, filósofos ou o que seja. Esse é o jogo, essa é a determinação. Chegando da infância como de uma estação remota onde estivemos de férias, na adolescência vem a pressão da escolha por encaixe na Rede Psicológica, no Banco de Caracteres, no Guarda-Roupa das Almas, onde estão alinhadas as 6,5 mil profissões, cada um se lançando sofregamente àquela expressão, procurando a todo custo subir mais um degrau. Só de pensar fico angustiado! Que sufoco! As pessoas se entretém com as obrigações do dia-a-dia, resolvendo os problemas verdadeiros que surgem ou inventando-os quando estão ausentes, infernizando as vidas uns dos outros, dificultando ao máximo, mas em todo caso perseguindo uma série de metas fantásticas. Não há uma análise, competente ou incompetente, dos problemas verdadeiros e dos pseudoproblemas, que as pessoas inventam para passar o tempo, para preencher os dias. Olhando as nossas vidas quanto lixo podemos ver!

                            E ficam aí esses bilhões lutando por dinheiro, por uma série de emblemas que carregam no peito como medalhas de generais, aquele monte de retratinhos da riqueza que vão pesando e curvando as pessoas. Que triste!

                            Vitória, quinta-feira, 06 de fevereiro de 2003.

Nenhum comentário:

Postar um comentário