Os Atores da Fortuna
Quando olhei para o
mundo vi uma quantidade de gente (quase todos e quase cada um) voltada para a
acumulação, todo gênero dela. Acumulação de fama por artistas e políticos,
acumulação de poder pelos governantes, acumulação de fortunas pelos empresários
e os corruptos do Estado, acumulação de glória, acumulação disso e daquilo,
acumulação, ajuntamento, amontoamento, concentração, armazenamento,
empilhamento, acumulação.
Quase todos querem
ser elite, parece. Quase todos, menos os santos, querem projeção, distinção,
separação, proeminência.
Bilhões, zilhões de
pessoas procurando aparecer. Eu não quis, achei chato demais repetir os gestos
de tantos na busca da fortuna, inclusive a do tipo do TER: carros, casas,
apartamentos, terras, ações e todo o resto. Que tipo de vida pode ser esta? No
entanto, é fascinante para tantos! Os gestos todos muito repetitivos, muito
semelhantes, quase iguais, mudando o que deve ser mudado. Se tirássemos uma
figura humana e colocássemos outra quase não seria sentida a diferença. E os
atores da fortuna não percebem que a peça do teatro da vida é sempre muito
parecida. Quase todos acham que estão fazendo diferença.
Somos empurrados a
ser engenheiros, dentistas, filósofos ou o que seja. Esse é o jogo, essa é a
determinação. Chegando da infância como de uma estação remota onde estivemos de
férias, na adolescência vem a pressão da escolha por encaixe na Rede
Psicológica, no Banco de Caracteres, no Guarda-Roupa das Almas, onde estão
alinhadas as 6,5 mil profissões, cada um se lançando sofregamente àquela
expressão, procurando a todo custo subir mais um degrau. Só de pensar fico
angustiado! Que sufoco! As pessoas se entretém com as obrigações do dia-a-dia,
resolvendo os problemas verdadeiros que surgem ou inventando-os quando estão
ausentes, infernizando as vidas uns dos outros, dificultando ao máximo, mas em
todo caso perseguindo uma série de metas fantásticas. Não há uma análise,
competente ou incompetente, dos problemas verdadeiros e dos pseudoproblemas,
que as pessoas inventam para passar o tempo, para preencher os dias. Olhando as
nossas vidas quanto lixo podemos ver!
E ficam aí esses
bilhões lutando por dinheiro, por uma série de emblemas que carregam no peito
como medalhas de generais, aquele monte de retratinhos da riqueza que vão
pesando e curvando as pessoas. Que triste!
Vitória,
quinta-feira, 06 de fevereiro de 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário