segunda-feira, 30 de janeiro de 2017


Bomba Atômica

 

                            Seria um filme comum, com um enredo consistente, bastante atrativo, sobre uma cidadezinha do interior (dos EUA, por exemplo), pacata e tranqüila, com a vidinha ordinária de sempre, porém com um enredo que realmente significasse algo. Uma linha de desenvolvimento real e consistente, assistível por si só. No final, sem mais nem menos cairia uma bomba atômica e MATARIA OS SENTIMENTOS E AS RAZÕES DE TODOS. Acabaria com as PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e o ambiente municipal/urbano, todas as criaturas com as quais você tivesse se identificado no decorrer da trama.

                            Porque as bombas sempre caem NOS OUTROS, nas distantes personalidades com as quais a gente não se identifica. Como no livro Inverno Nuclear, de Carl Sagan e outros, ou no filme O Dia Seguinte, que fala da devastação APÓS a queda dos artefatos. Neste caso não mostraria o que já foi contemplado, as conseqüências, mas colocaria nas mentes das pessoas o FIM, THE END. Cada um que imaginasse por si.

                            Os espectadores pensariam então em seus distritos, bairros, cidades, estados, nação e mundo. Pensariam em irmãos e irmãs, em pais e mães, em avôs e avós, em cavalos, bois, cachorros, gatos e demais animais de criação ou estimação, em suas construções, no rompimento dos laços de amizade e de amor, em tudo que prezam. Tal filme faria mais pelo fim definitivo das guerras que qualquer outro, exceto O Dia Seguinte.

                            Pequenas coisas, gestos mínimos, projetos anulados, tudo que se pode pensar e fazer, todo o futuro local hipoteticamente cancelado. Não grandes e longínquas confabulações de poderosos governantes em telefones vermelhos, mas a coisa corriqueira, trivial, do pequeno ser.

                            Vitória, domingo, 09 de fevereiro de 2003.

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