Bomba Atômica
Seria um filme
comum, com um enredo consistente, bastante atrativo, sobre uma cidadezinha do
interior (dos EUA, por exemplo), pacata e tranqüila, com a vidinha ordinária de
sempre, porém com um enredo que realmente significasse algo. Uma linha de
desenvolvimento real e consistente, assistível por si só. No final, sem mais
nem menos cairia uma bomba atômica e MATARIA OS SENTIMENTOS E AS RAZÕES DE
TODOS. Acabaria com as PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e o
ambiente municipal/urbano, todas as criaturas com as quais você tivesse se
identificado no decorrer da trama.
Porque as bombas
sempre caem NOS OUTROS, nas distantes personalidades com as quais a gente não
se identifica. Como no livro Inverno
Nuclear, de Carl Sagan e outros, ou no filme O Dia Seguinte, que fala da devastação APÓS a queda dos artefatos.
Neste caso não mostraria o que já foi contemplado, as conseqüências, mas
colocaria nas mentes das pessoas o FIM, THE END. Cada um que imaginasse por si.
Os espectadores pensariam
então em seus distritos, bairros, cidades, estados, nação e mundo. Pensariam em
irmãos e irmãs, em pais e mães, em avôs e avós, em cavalos, bois, cachorros,
gatos e demais animais de criação ou estimação, em suas construções, no
rompimento dos laços de amizade e de amor, em tudo que prezam. Tal filme faria
mais pelo fim definitivo das guerras que qualquer outro, exceto O Dia Seguinte.
Pequenas coisas,
gestos mínimos, projetos anulados, tudo que se pode pensar e fazer, todo o
futuro local hipoteticamente cancelado. Não grandes e longínquas confabulações
de poderosos governantes em telefones vermelhos, mas a coisa corriqueira,
trivial, do pequeno ser.
Vitória, domingo, 09
de fevereiro de 2003.
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