domingo, 29 de janeiro de 2017


Filhos da Grécia


 

                            A Grécia antiga, de 1200 a.C. a 200 d.C, digamos, por esses mil e quatrocentos anos gerou algo de único que afetou o porvir de toda a humanidade – os gregos, primitivos que eram, ousaram pegar a Natureza extraordinariamente complexa pelo rabo da Lógica geral – eles ousaram pensar para des-cobrir os supostos “segredos” da Natureza.

                            Diferentemente do programa experimental que vem rolando desde 1453 (para fazer coincidir com a Queda de Constantinopla), os gregos trataram diretamente da Lógica e da Dialética, o que veio dar nas demandas bizantinas posteriores, os bizantinismos, a sobreafirmação das potências L/D. A linha deles, pelo excesso de pensamento, que passou a dar-se no vazio das respostas naturais, estava fadada ao fracasso. Felizmente o Ocidente não herdou apenas a impotência grega, neste particular.

                            De onde veio essa capacidade de experimentar? Nos romanos-italianos não foi, porque eles existiam e deram origem ao Império Romano do Oriente, em Constantinopla, que sabemos estar na origem da vagueação ou digressão bizantina. Os romanos orientais, que preferiam depois de certo tempo chamar-se gregos, congelaram-se numa sociedade fantasticamente cristalizada, com o imperador e a nobreza em cima e o resto em baixo, à maneira oriental.

                            A experimentação veio dos arianos do Norte, os nórdicos, os que desceram das estepes, os bárbaros, que ao rechear o idealismo grego de materialismo tornaram a lógica-dialética, a dialógica operacional, operativa sobre o real, mesmo, em vez de somente uma elucubração que a nada levava de relevante para a vida cotidiana dos povos. Como já mostrei foi Cristo quem desfez o fosso entre povo e elites.

                            Entretanto, como se reuniram o pensar, que é teórico, que é de origem grega, com o experimentar (que, como vimos, é bárbaro)? Eles se fundiram na Idade Média, enquanto tempo, e na Europa ocidental, enquanto espaço. O experimentar veio das aldeias alemãs, bretãs (Franca e Inglaterra), italianas, espanholas, nórdicas. O pensar veio da Grécia e de Roma. A MOTIVAÇÃO para doar veio dos judeus e da Bíblia, a investigação social hebraica. Feliz reunião. Sem o experimentar do Norte os gregos teriam dado tremendos saltos no vazio; sem o pensar do Sul os nórdicos avançariam milímetro a milímetro, tão lentamente que as ânsias não seriam respondidas em tempo hábil. Sem o ímpeto para reunir elites e povo, primeiro dos judeus, depois mais fortemente de Jesus, de nada adiantaria reunir pensar com experimentar em pensexperimentação, pois não haveria motivo para construir.

                            Felicíssima reunião.

                            Primeiro vieram os judeus, desde 1800 antes de Cristo com Abraão, depois os gregos, desde 1200 a.C., a seguir os bárbaros desde o ano zero. A reunião dessas três linhas fez aparecer o Ocidente superprodutivo. A aventura bizantina foi um desvio desde logo fadado ao congelamento, à cristalização.

                            Há que pesquisar essas três linhas, mas de tudo fica patente que o Ocidente é filho da Grécia. Mãe-razão elegante e pai bárbaro, casados por Deus, creio, para produzir um filho superpotente, o Ocidente. Com que propósito é que difícil responder.

                            Vitória, domingo, 02 de fevereiro de 2003.

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