quinta-feira, 26 de janeiro de 2017


Oprimidos Linguisticamente


 

                            Paulo Freire deu o tom, dizendo que ao ensinar a língua aos analfabetos devemos mirar seus interesses mais profundos. Ora, quem deseja aprender língua estrangeira é o analfabeto mais total, pois não apenas não sabe as letras, não sabe nem os sons.

                            Como saber o que interessa a cada um senão fazendo enquetes ou pesquisas? Que interessa às psicanálises ou figuras, às psico-sínteses ou objetivos, às economias ou produções, às sociologias ou organizações, às geo-histórias ou espaçotempos, na Psicologia geral? Ou, em particular na Economia, aos agropecuaristas/extrativistas, aos das indústrias, aos do comércio, aos dos serviços, aos dos bancos? Que palavras PUXARIAM o interesse de cada um? Quais as palavras características do quarto, do terceiro, do segundo e do primeiro mundos? Que tendências do Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) geral capturam o imaginário de uns e outros? São interesses governamentais ou empresariais? Estaríamos ensinando a PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos ou empresas) ou a representantes AMBIENTAIS (municipais/urbanos, estaduais, nacionais ou mundiais)?

                            Como fracionarizar o Dicionário geral (de palavras) ou a Enciclopédia geral (de imagens) para tal ou qual segmento do aprendizado? Fala-se de audiovisual, mas qual áudio e qual visual? É aprendizado para estudo e trabalho ou para lazer?

                            Nada disso é perguntado a quem vai fazer línguas. Todos são tratados como se fossem um e o mesmo, uma tabula rasa. Como com os alopatas, não se faz perguntas, diferentemente dos homeopatas que tratam cada caso como diferente, indo fundo nas perguntas. Não são montados grupos de interesse, nem círculos de apoio lingüístico. Quase não se fala da cultura/nação enquanto programáquina produtivorganizativa, pelos seus limites tensionais, quer dizer, seu limítrofe trem de ondas de pesquisa & desenvolvimento teórica & prático, mais avançadas, ou tecnociências de ponta.

                            Não admira mesmo nada que poucos queiram investir seu tempo e dinheiro e que tantos desistam no meio do caminho, como eu mesmo fiz várias vezes. O atual ensino de línguas não é mesmo nada emocionante. Precisa ser completamente reprogramado.

                            Vitória, quinta-feira, 16 de janeiro de 2003.

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