segunda-feira, 30 de janeiro de 2017


A Velhice e a Eternidade

 

                            Lendo O Senhor dos Anéis e os demais livros de Tolkien, a gente depara com entes que vivem milhares de anos, os elfos, tipicamente nove mil anos, os astari e os valar vinte ou trinta mil, podendo chegar à centena de milhar ou mais. Os seres humanos, que vivem até uns 120 anos, quando muito, em geral metade dessa idade ou a quarta parte ou menos, suspiram por longevidade, que supostamente seria algo maravilhoso – o que, penso, não é verdade.

                            Alguns sonham em viver 150, 200, 300 anos.

                            E há aqueles que acreditam que se todos os seres humanos vivessem muito a Religião geral acabaria e com ela a crença em Deus ou, no caso dos indianos, em deuses (360 milhões por lá).

                            Não é garantido, isso, está longe de ser. É claro que inicialmente, com o fim das doenças e da morte prematura, veríamos realmente um declínio do movimento religioso, que depois seria intensificado até a apoplexia, penso eu.

                            E veja porque: quando chegarmos aos 200, 400 ou 800 anos ou o que for ficará cada vez mais patente o que é a eternidade e a imensidão desse não-finito que dizem ser Deus. O infinito e o eterno são grandes mesmo. 800 mil anos não está mais perto da eternidade que 80 anos. Pode parecer que sim, mas o infinito tem essa estranha propriedade de estar tão distante de 1080 quanto de 10, assim como somar 200 mil km/s a 200 mil km/s não passa de 300 mil km/s, o limite da velocidade da luz no vácuo. Não tem jeito. Perante a eternidade oito milhões de anos são tão insignificantes quanto oito anos.

                            Em lugar das pessoas ficarem MENOS reverentes elas ficarão mais, porque compreenderão melhor, terão mais tempo para pensar e desesperar-se. Como sempre, como dizem a dialética, o TAO e o modelo, mais pode conduzir à insatisfação, o contrário do que se deseja.

                            Vitória, sábado, 08 de fevereiro de 2003.

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