domingo, 5 de março de 2017


Memórinteligência Rancorosa

 

                            No mesmo livro de Asimov, p. 218 a 221, há essas passagens:

·        P. 218: “O homem tem inteligência para guardar rancor. O derrotado, lembrando-se da ameaça às suas chances de sobrevivência, pode empenhar-se em matar o vencedor à traição, ou por emboscada, ou reunindo um grupo de amigos fiéis se duvidar de sua própria força. E o derrotado continuará a luta, não para obtenção de um bem imediato, nem por qualquer melhoria em sua chance de sobrevivência, mas meramente por causa da raiva ante o dano que sofreu. Possivelmente o ser humano é a única espécie que mata por vingança (ou para evitar vingança, já que os mortos não contam histórias nem armam emboscadas). Não é que os seres humanos sejam piores que outros animais, mas é que são mais inteligentes e têm memória suficientemente extensa e específica para dar sentido ao conceito de vingança”, negritos e coloridos meus.

Há várias interpretações erradas aí.

Os seres humanos têm memória E inteligência E controle para guardar rancor e isso se estendeu nas PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e nos AMBIENTES (municípios/cidades, estados, nações e mundos) como “tomar as dores”. Os conjuntos partilham seus sentimentos e razões, pois não somos mais apenas indivíduos, fomos muito além, nossas memórias e inteligências e controles se estenderam tremendamente. E há um bem imediato, o alívio da raiva, que tem valor de sobrevivência na luta por aptidão, ou a raiva enquanto mecanismo neuroquímico não continuaria a existir e a ser impulsionada. Não é verdade que os mortos não contam histórias nem armam emboscadas, porque armam mesmo, como Sun Tzu ainda faz com A Arte da Guerra, como a gente lê nos livros de história e de geografia. Os mortos falam continuamente conosco, através de suas memórias, inteligências e controles deixados para nós, por meio da língua e dos escritos, dos filmes, dos retratos, dos desenhos, das fotografias e de cada uma das tecnartes. E nós somos AO MESMO TEMPO melhores e piores que os animais, nosso cone de soma zero foi se dilatando incomparavelmente além.

·        p.221: “Contudo, a análise, embora deprimente, talvez não seja de todo convincente. A belicosidade (não) é o único fator a ser considerado em seres humanos. Há também um elemento de cooperação e até mesmo de generosidade. Se a inteligência de um ser humano lhe possibilita lembrar-se de injustiças e agir para vingar-se, ela também lhe torna possível simpatizar com os sentimentos dos outros, compreender e esquecer. Mesmo com um coração completamente duro, um ser humano pode cultivar, por motivos puramente egoístas, as vantagens da cooperação”.

Veja, é melhor pensarmos que a soma é realmente zero, ou próximo disso um infinitésimo. Nós nos damos importância demais, os conjuntos. Isso é da racionalidade e qualquer racional no universo vai partilhar da linha, um pouco mais à esquerda ou um pouco mais à direita, mas haverá sempre um PARENTESCO RACIONAL. É da racionalidade, não é só da humanidade. Se há belicosidade, há também generosidade e partilhamento, pois tanto uma quanto as outras têm valor de sobrevivência.

Como uma ofensa poderia ser esquecida? Os EUA esqueceram as Torres Gêmeas do WTC, que caíram em 11 de setembro de 2001? Os iraquianos esquecerão a invasão? SE tudo fosse esquecido o tempo todo os ofensores não viveriam batendo nos outros? Por outro lado, é como aconselhou Cristo: é da grandeza, que poucos têm, dar a outra face, para zerar o processo.

A MIC (memória, inteligência, controle) humana pode ser rancorosa, mas ela perdoa também.

Vitória, segunda-feira, 28 de julho de 2003.

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