Memórinteligência
Rancorosa
No mesmo livro de
Asimov, p. 218 a 221, há essas passagens:
·
P.
218: “O homem
tem inteligência para guardar rancor. O derrotado, lembrando-se da
ameaça às suas chances de sobrevivência, pode empenhar-se em matar o vencedor à
traição, ou por emboscada, ou reunindo um grupo de amigos fiéis se duvidar de
sua própria força. E o derrotado continuará a luta, não para obtenção de um bem
imediato, nem por qualquer melhoria em sua chance de sobrevivência,
mas meramente por causa da raiva ante o dano que sofreu. Possivelmente o ser
humano é a única espécie que mata por vingança (ou para evitar vingança, já que os mortos
não contam histórias nem armam emboscadas). Não é que os seres humanos sejam piores que
outros animais, mas é que são mais inteligentes e têm memória suficientemente
extensa e específica para dar sentido ao conceito de vingança”,
negritos e coloridos meus.
Há várias interpretações erradas aí.
Os seres humanos têm memória E
inteligência E controle para guardar rancor e isso se estendeu nas PESSOAS
(indivíduos, famílias, grupos e empresas) e nos AMBIENTES (municípios/cidades,
estados, nações e mundos) como “tomar as dores”. Os conjuntos partilham seus
sentimentos e razões, pois não somos mais apenas indivíduos, fomos muito além,
nossas memórias e inteligências e controles se estenderam tremendamente. E há
um bem imediato, o alívio da raiva, que tem valor de sobrevivência na luta por
aptidão, ou a raiva enquanto mecanismo neuroquímico não continuaria a existir e
a ser impulsionada. Não é verdade que os mortos não contam histórias nem armam
emboscadas, porque armam mesmo, como Sun Tzu ainda faz com A Arte da Guerra,
como a gente lê nos livros de história e de geografia. Os mortos falam
continuamente conosco, através de suas memórias, inteligências e controles
deixados para nós, por meio da língua e dos escritos, dos filmes, dos retratos,
dos desenhos, das fotografias e de cada uma das tecnartes. E nós somos AO MESMO
TEMPO melhores e piores que os animais, nosso cone de soma zero foi se
dilatando incomparavelmente além.
·
p.221:
“Contudo, a análise, embora deprimente, talvez não seja de todo convincente. A
belicosidade (não) é o único fator a ser considerado em seres humanos. Há
também um elemento de cooperação e até mesmo de generosidade. Se a inteligência
de um ser humano lhe possibilita lembrar-se de injustiças e agir para
vingar-se, ela também lhe torna possível simpatizar com os sentimentos dos
outros, compreender e esquecer. Mesmo com um coração completamente
duro, um ser humano pode cultivar, por motivos puramente egoístas, as vantagens
da cooperação”.
Veja, é melhor pensarmos que a soma é
realmente zero, ou próximo disso um infinitésimo. Nós nos damos importância
demais, os conjuntos. Isso é da racionalidade e qualquer racional no universo
vai partilhar da linha, um pouco mais à esquerda ou um pouco mais à direita,
mas haverá sempre um PARENTESCO RACIONAL. É da racionalidade, não é só da
humanidade. Se há belicosidade, há também generosidade e partilhamento, pois
tanto uma quanto as outras têm valor de sobrevivência.
Como uma ofensa poderia ser esquecida?
Os EUA esqueceram as Torres Gêmeas do WTC, que caíram em 11 de setembro de
2001? Os iraquianos esquecerão a invasão? SE tudo fosse esquecido o tempo todo
os ofensores não viveriam batendo nos outros? Por outro lado, é como aconselhou
Cristo: é da grandeza, que poucos têm, dar a outra face, para zerar o processo.
A MIC (memória, inteligência,
controle) humana pode ser rancorosa, mas ela perdoa também.
Vitória, segunda-feira, 28 de julho de
2003.
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