Para muito
compactamente significar o Brasil e tudo que nele vemos de errado, Gabriel fala
de uma carroça atolada na lama, o que seria um bom título para um livro: CARROÇA ATOLADA, O Brasil que Não Deu Certo.
Alguém ou até mesmo
um grupo-tarefa (pode ser encomenda dos governempresas, que devem saber
enfrentar os problemas como condição mínima para encontrar as soluções) deveria
construir o livro, buscando não apenas as notícias de corrupção de funcionários
públicos; as “caixinhas” ou desvios de verbas por políticos do Legislativo,
pelos governantes do Executivo e pelos juizes do Judiciário; as obras
faraônicas; o “caixa dois” das empresas, ou seja, a corrupção endêmica da
sonegação fiscal e a negação geral de informações; as proteções de mercado que
subjugaram os brasileiros por décadas em favor de minorias privilegiadíssimas;
os empréstimos desnecessários ou de aplicação duvidosa que os governos fazem a
juros altíssimos para beneficiar os sistemas bancários interno e externo; enfim,
tudo de errado que há nessa grande pátria desalmada e des-amada, como disse
Cazuza.
Aquela coisa que não
anda, cujas rodas estão fincadas no barro mole, na lama, em tudo que é podre e
vicioso, em tudo que é engano e demência, em todo tipo de atraso e malícia, em
toda condição de infelicidade humana para 80 % dos habitantes, um índice
altíssimo de insatisfação. Aquela coisa amarrada, que não vai para frente por
mais que façamos força, que está sobrecarregada de coisas que foram
encomendadas por outros povelites ou nações ou culturas, além do peso morto
próprio das elites superexploradoras locais, as burguesias indecentes daqui.
Uma carroça supercarregada de inutilidades monstruosas que o povo não pediu nem
quis, mas se esforça para levar assim mesmo como burro de carga da felicidade
alheia.
Resulta que os
brasileiros somos os animais de tração dessa coisa pesada, atrasada, rangente e
atolada no lodaçal da ineficiência. Admira que reclamemos?
Vitória, sábado, 01
de novembro de 2003.
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