quinta-feira, 30 de março de 2017


Carroça Atolada

 

                            Para muito compactamente significar o Brasil e tudo que nele vemos de errado, Gabriel fala de uma carroça atolada na lama, o que seria um bom título para um livro: CARROÇA ATOLADA, O Brasil que Não Deu Certo.

                            Alguém ou até mesmo um grupo-tarefa (pode ser encomenda dos governempresas, que devem saber enfrentar os problemas como condição mínima para encontrar as soluções) deveria construir o livro, buscando não apenas as notícias de corrupção de funcionários públicos; as “caixinhas” ou desvios de verbas por políticos do Legislativo, pelos governantes do Executivo e pelos juizes do Judiciário; as obras faraônicas; o “caixa dois” das empresas, ou seja, a corrupção endêmica da sonegação fiscal e a negação geral de informações; as proteções de mercado que subjugaram os brasileiros por décadas em favor de minorias privilegiadíssimas; os empréstimos desnecessários ou de aplicação duvidosa que os governos fazem a juros altíssimos para beneficiar os sistemas bancários interno e externo; enfim, tudo de errado que há nessa grande pátria desalmada e des-amada, como disse Cazuza.

                            Aquela coisa que não anda, cujas rodas estão fincadas no barro mole, na lama, em tudo que é podre e vicioso, em tudo que é engano e demência, em todo tipo de atraso e malícia, em toda condição de infelicidade humana para 80 % dos habitantes, um índice altíssimo de insatisfação. Aquela coisa amarrada, que não vai para frente por mais que façamos força, que está sobrecarregada de coisas que foram encomendadas por outros povelites ou nações ou culturas, além do peso morto próprio das elites superexploradoras locais, as burguesias indecentes daqui. Uma carroça supercarregada de inutilidades monstruosas que o povo não pediu nem quis, mas se esforça para levar assim mesmo como burro de carga da felicidade alheia.

                            Resulta que os brasileiros somos os animais de tração dessa coisa pesada, atrasada, rangente e atolada no lodaçal da ineficiência. Admira que reclamemos?

                            Vitória, sábado, 01 de novembro de 2003.

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