quinta-feira, 30 de março de 2017


Sem Desculpas

 

                            O pai do Daudt Veiga, como ele conta no seu livro já citado, p. 131, fazia vistorias em suas obras de engenharia e deparou com um piso torto no boxe do chuveiro, chamou o mestre, que explicou ter ficado mal-assentado porque no dia anterior o profissional encarregado faltou e ele colocou outro menos dotado para fazer o serviço, ao que o pai sugeriu que o mestre escrevesse isso na parede para o proprietário comprador ficar contente em saber.

                            Na página seguinte o Veiga diz: “A necessidade de explicar supõe o desejo de absolvição do outro, ou a sua cumplicidade”, e mais abaixo coloca: “(...) mas pedir desculpas significa implicitamente acreditar em culpas e dar ao outro o poder de te acusar”.

                            Sempre acreditei que pedir desculpas não está certo, por dois motivos: 1) se você está errado seria a tentativa de ocultar o erro; 2) se você está certo, se o outro acha que é erro, mas não sua opinião não é, então não há motivo. De fato, é dar cartas ao outro para que ele jogue com elas. Você fica refém e enfraquecido. Em geral, nessas condições, os outros zombam. Às vezes a gente parece rude, porém é condição de vida – não se pode prosseguir sem desagradar, em desenho de mundo 50/50, a metade das opiniões, daí que é bom nem tentar. E depende do que seja o outro.

                            Entrementes, no nível familiar, com esposa e amigos, ou com filhos e filhas, o comportamento não pode ser o mesmo, pois as explicações devem ser dadas e elas sempre soam como pedidos de aceitação, quer dizer, implicitamente como desculpas. Que fazer, o amor é assim mesmo, um jogo em que parece haver diminuição. Essa é a definição. É porisso que o Daudt Veiga não está completamente certo. Sem desculpas, quando for condição de enfrentamento, e com desculpas quando for condição interna, de viver com os seus, os que estão próximos e não são “outros”, porque aí não-explicar seria exteriorizar, colocar para fora, no caso as pessoas que vivem em nível de intimidade.

                            Vitória, domingo, 02 de novembro de 2003.

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