O pai do Daudt
Veiga, como ele conta no seu livro já citado, p. 131, fazia vistorias em suas
obras de engenharia e deparou com um piso torto no boxe do chuveiro, chamou o
mestre, que explicou ter ficado mal-assentado porque no dia anterior o
profissional encarregado faltou e ele colocou outro menos dotado para fazer o
serviço, ao que o pai sugeriu que o mestre escrevesse isso na parede para o
proprietário comprador ficar contente em saber.
Na página seguinte o
Veiga diz: “A necessidade de explicar supõe o desejo de absolvição do outro, ou
a sua cumplicidade”, e mais abaixo coloca: “(...) mas pedir desculpas significa
implicitamente acreditar em culpas e dar ao outro o poder de te acusar”.
Sempre acreditei que
pedir desculpas não está certo, por dois motivos: 1) se você está errado seria
a tentativa de ocultar o erro; 2) se você está certo, se o outro acha que é
erro, mas não sua opinião não é, então não há motivo. De fato, é dar cartas ao
outro para que ele jogue com elas. Você fica refém e enfraquecido. Em geral,
nessas condições, os outros zombam. Às vezes a gente parece rude, porém é
condição de vida – não se pode prosseguir sem desagradar, em desenho de mundo
50/50, a metade das opiniões, daí que é bom nem tentar. E depende do que seja o
outro.
Entrementes, no
nível familiar, com esposa e amigos, ou com filhos e filhas, o comportamento
não pode ser o mesmo, pois as explicações devem ser dadas e elas sempre soam
como pedidos de aceitação, quer dizer, implicitamente como desculpas. Que fazer,
o amor é assim mesmo, um jogo em que parece haver diminuição. Essa é a
definição. É porisso que o Daudt Veiga não está completamente certo. Sem
desculpas, quando for condição de enfrentamento, e com desculpas quando for
condição interna, de viver com os seus, os que estão próximos e não são
“outros”, porque aí não-explicar seria exteriorizar, colocar para fora, no caso
as pessoas que vivem em nível de intimidade.
Vitória, domingo, 02
de novembro de 2003.
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