Sem Tios
A China tem 1,3
bilhão de habitantes e mesmo o crescimento de 0,71 % ao ano significa mais 9,2
milhões ao ano, de modo que os 175 milhões de brasileiros são somados em menos
de 19 anos. Como a população do Espírito Santo é de cerca de 3,2 milhões em
45.597 km2, a China produz por ano quase três vezes nosso
contingente – para alimentar, vestir, abrigar, dar racionalidade (o que seria
equivalente a multiplicar nossa densidade demográfica por três no primeiro ano).
É um portento.
Mas toda aquela eficácia
em contenção social tem gerado esse excedente populacional, de modo que o
governo foi obrigado a restringir a quantidade de nascimentos a um filho por
família, o segundo filho custando, segundo Gabriel, os rendimentos familiares
de oito anos.
Desse jeito gerações
e gerações de chineses crescerão com somente um filho por família; vimos que as
crianças não terão irmãos e irmãs e Gabriel teve o insight de que será uma
nação sem experiência de conviver com tios e tias. Deverão buscar companhia nas
outras famílias e os tios e as tias deverão ser substituídos pelos pais e mães
das outras crianças, o que é uma experiência única no mundo em volume.
Mais que isso, a
concentração de renda se dará num ritmo acelerado, relativamente ao modo como a
China conta o tempo, nas gerações a seguir, homem e mulher fundindo-se para
legar a produção de dois a um e assim sucessivamente. Sobre o crescimento
continuado de dois dígitos percentuais ao ano virá essa funilização, essa soma
de dois para um, a seguir de quatro para um, de oito para um, até que daqui a
um século a China terá sabe-se lá “apenas” algumas centenas de milhões de
moradores e altíssima concentração de riqueza. Um fenômeno correlato será o
desaparecimento de nomes familiares, desde que os das mulheres são absorvidos
pelos dos homens.
É um fenômeno novo,
que não sei se teve investigação das possibilidades. O que acontecerá a todo um
povo vivendo sem parentesco lateral?
Vitória,
quinta-feira, 23 de outubro de 2003.
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