quinta-feira, 30 de março de 2017


Fazenda Cemitério

 

                            Os números foram escolhidos para produzir resultados com muitos zeros, divisões exatas na base decimal.

                            Se imaginarmos que um lote de 480 m2 num bairro mais procurado pode custar fácil 120 mil reais ou uns 40 mil dólares, com esse mesmo dinheiro podemos comprar vários alqueires no ES (48 mil m2), cada um por 20 mil reais, um sexto daquele preço da cidade, o que é até muito, dando 100 lotes urbanos por 1/6 dos recursos, ou seja, a relação de preços rurais/urbanos é da ordem de 1/600. Ou seja, na cidade o preço seria de 250 reais por m2, ao passo que no campo seria de 0,417 reais por m2, naquela relação já mencionada, 1/600.

                            Cemitérios são construídos agora nas periferias, imitando os americanos e ficando mais bonitos (para os que estão morrendo, nem que seja um pouco, os que vão ver – pois os que são levados para enterrar já estão mortos – e precisam ser alegrados), porque os terrenos centrais têm preços proibitivos. Não custa nada levá-los às fazendas, onde partes de terras poderiam ser arrendadas ou vendidas às famílias, sendo elas urbanizadas com estacionamentos, restaurantes, capelas, áreas de serviços, o que for.

                            Sendo terra mais barata o dinheiro pode ser aplicado em embelezamento e vários serviços que podem ser prestados aos vivos, na proporção de 600/1, uma parte da fazenda-cemitério sendo pública, paga pela comunidade (pela prefeitura, pelo estado, pela nação ou pelo mundo, como for), e a outra privada (seja de indivíduos, de famílias, de grupos ou de empresas), paga pelas pessoas.

                            Não há razão para os cemitérios serem essas coisas tétricas e deprimentes que são no terceiro mundo, como os americanos viram primeiro. A dor dos que ficaram deve ser aliviada, seguramente, pois o transe da morte de um ente querido é pesado.

                            Vitória, quarta-feira, 05 de novembro de 2003.

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