A Natureza da Percepção
Como é que percebemos?
Fora das questões que
dizem respeito à maneira de perceber, vou tratar aqui do ESFORÇO DE PERCEPÇÃO.
Tudo depende de memória
do Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica
e Matemática), especialmente do conhecimento fino das pontescadas; e quanto
mais refinado for ele mais se poderá dizer NAS PONTAS, pois tanto existe o
conhecimento geral quanto o particular. De um lado a outro há graduação,
gradação, cada geral tendo dentro de si um particular menor, como os hólons de
Koestler (de HOLO, todo, e ON, parte; partodo ou todoparte, no modelo). De fato
a reunião de uns tantos particulares pode ensejar a construção de um geral,
pelo salto indutivo, enquanto o movimento contrário é dedutivo – do maior para
o menor. Completam-se no movimento dedutivindutivo, como está dito no modelo. É
um círculo-espiral, um círculo que cresce, indo de um lado a outro do par polar
oposto/complementar.
Posta a memória há a
operação inteligente, a REUNIÃO VIÁVEL de cenários. Veja, há uma quantidade de
construções maiores ou menores, que podem ser juntadas, formando os complexos
de Kant. Por exemplo, se os bolos vêm em fôrmas grandes que devem ser partidas
com o uso de facas, que ficarão sujas, precisando ser lavadas, o que gasta
sabão e água, que devem ser obtidos, por quê não colocar os bolos em copinhos
de café ou copos plásticos de água ou quaisquer fôrmas geométricas, regulares
ou não? Fiz isso e registrei a idéia num cartório.
Como chegamos a isso?
Meditando. Na realidade,
não conhecemos o mecanismo que lá por dentro junta o conteúdo dos neurônios e
produz a imagem nova. Ele fica oculto de nossa consciência, é coisa ainda por
descobrir e explicar ao mundo. Mas o fato é que vemos o problema e daí
imaginamos a solução. Por quê não oferecem bolos que já venham na medida certa
de serem comidos, sem o auxílio de talheres?
Tudo depende de meditar,
de fixar o pensamento no problema, e aí a solução magicamente (pois não existe
explicação tecnocientífica para isso) emerge. Para isso devemos buscar as
memórias, porque sem elas nada poderá ser feito. Então, todo pensador é um
colecionador de fatos e depende de bibliotecas, ou seja, de memórias de
pensamentos alheios. Essas bibliotecas vêm através da mídia (TV, Rádio,
Revista, Jornal, Livro/Editoria, Internet, conversas, folhetins, a própria
presença de objetos – os meios são em enorme número), o que transporta ou
transfere os quadros isolados que devem ser fundidos. Por isso nenhum grande
pensamento se fará na ausência das MEMÓRIAS DE PROBLEMAS. Os problemas ou
enigmas precisam ser apresentados, daí podermos dizer que, se não se faz futuro
sem a solução de problemas, não se acha soluções sem a apresentação dos
problemas, o que nos remetes aos primeiros-problemas, do primeiro mundo, e
assim por diante. Problemas pequenos levarão a soluções pequenas, como disse
Fernando Pessoa de outro modo: “tudo é grande quando a mente não é pequena”.
Mas grande mente aí quer dizer tanto grande inteligência quanto grande memória.
No quarto ou quinto mundos teremos apenas quartas-soluções ou quintas-soluções,
que já foram apresentadas antes, mormente se os capítulos resolvedores, os
conjuntos empenhados na solução de problemas são dependentes do primeiro e do
segundo mundos.
Portanto, a percepção
depende de empenho, de incisiva e continuada meditação (daí que, se Euler
resolveu tantos problemas e escreveu tanto – mais de 40 mil páginas de densa
matemática – isso se deve a ele ter meditado tanto), depende da inteligência
que resolve e depende da memória prévia, de onde parte tal inteligência.
Tivesse Einstein vivido no Zaire a inteligência dele continuaria a mesma, mas
as memórias que lhe seriam apresentadas teriam sido outras e possivelmente ele
não teria resolvido os mesmos problemas.
Então, se você se
candidata a solucionar problemas, BUSQUE MEMÓRIAS GRANDES (quantitativa e
qualitativamente), isto é, problemas grandes. E pense diuturnamente sobre eles.
Um bom momento é imediatamente antes do sono, quando você está separado de
sociedades, ou no banheiro, quando você estiver sozinho, ou em qualquer lugar
isolado.
Vitória, quarta-feira,
22 de outubro de 2003.
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