terça-feira, 28 de março de 2017


A Natureza da Percepção

 

                        Como é que percebemos?

                        Fora das questões que dizem respeito à maneira de perceber, vou tratar aqui do ESFORÇO DE PERCEPÇÃO.

                        Tudo depende de memória do Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática), especialmente do conhecimento fino das pontescadas; e quanto mais refinado for ele mais se poderá dizer NAS PONTAS, pois tanto existe o conhecimento geral quanto o particular. De um lado a outro há graduação, gradação, cada geral tendo dentro de si um particular menor, como os hólons de Koestler (de HOLO, todo, e ON, parte; partodo ou todoparte, no modelo). De fato a reunião de uns tantos particulares pode ensejar a construção de um geral, pelo salto indutivo, enquanto o movimento contrário é dedutivo – do maior para o menor. Completam-se no movimento dedutivindutivo, como está dito no modelo. É um círculo-espiral, um círculo que cresce, indo de um lado a outro do par polar oposto/complementar.

                        Posta a memória há a operação inteligente, a REUNIÃO VIÁVEL de cenários. Veja, há uma quantidade de construções maiores ou menores, que podem ser juntadas, formando os complexos de Kant. Por exemplo, se os bolos vêm em fôrmas grandes que devem ser partidas com o uso de facas, que ficarão sujas, precisando ser lavadas, o que gasta sabão e água, que devem ser obtidos, por quê não colocar os bolos em copinhos de café ou copos plásticos de água ou quaisquer fôrmas geométricas, regulares ou não? Fiz isso e registrei a idéia num cartório.

                        Como chegamos a isso?

                        Meditando. Na realidade, não conhecemos o mecanismo que lá por dentro junta o conteúdo dos neurônios e produz a imagem nova. Ele fica oculto de nossa consciência, é coisa ainda por descobrir e explicar ao mundo. Mas o fato é que vemos o problema e daí imaginamos a solução. Por quê não oferecem bolos que já venham na medida certa de serem comidos, sem o auxílio de talheres?

                        Tudo depende de meditar, de fixar o pensamento no problema, e aí a solução magicamente (pois não existe explicação tecnocientífica para isso) emerge. Para isso devemos buscar as memórias, porque sem elas nada poderá ser feito. Então, todo pensador é um colecionador de fatos e depende de bibliotecas, ou seja, de memórias de pensamentos alheios. Essas bibliotecas vêm através da mídia (TV, Rádio, Revista, Jornal, Livro/Editoria, Internet, conversas, folhetins, a própria presença de objetos – os meios são em enorme número), o que transporta ou transfere os quadros isolados que devem ser fundidos. Por isso nenhum grande pensamento se fará na ausência das MEMÓRIAS DE PROBLEMAS. Os problemas ou enigmas precisam ser apresentados, daí podermos dizer que, se não se faz futuro sem a solução de problemas, não se acha soluções sem a apresentação dos problemas, o que nos remetes aos primeiros-problemas, do primeiro mundo, e assim por diante. Problemas pequenos levarão a soluções pequenas, como disse Fernando Pessoa de outro modo: “tudo é grande quando a mente não é pequena”. Mas grande mente aí quer dizer tanto grande inteligência quanto grande memória. No quarto ou quinto mundos teremos apenas quartas-soluções ou quintas-soluções, que já foram apresentadas antes, mormente se os capítulos resolvedores, os conjuntos empenhados na solução de problemas são dependentes do primeiro e do segundo mundos.

                        Portanto, a percepção depende de empenho, de incisiva e continuada meditação (daí que, se Euler resolveu tantos problemas e escreveu tanto – mais de 40 mil páginas de densa matemática – isso se deve a ele ter meditado tanto), depende da inteligência que resolve e depende da memória prévia, de onde parte tal inteligência. Tivesse Einstein vivido no Zaire a inteligência dele continuaria a mesma, mas as memórias que lhe seriam apresentadas teriam sido outras e possivelmente ele não teria resolvido os mesmos problemas.

                        Então, se você se candidata a solucionar problemas, BUSQUE MEMÓRIAS GRANDES (quantitativa e qualitativamente), isto é, problemas grandes. E pense diuturnamente sobre eles. Um bom momento é imediatamente antes do sono, quando você está separado de sociedades, ou no banheiro, quando você estiver sozinho, ou em qualquer lugar isolado.
                        Vitória, quarta-feira, 22 de outubro de 2003.

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