quinta-feira, 30 de março de 2017


Mundo Atômico

 

                            Desde a explosão das bombas no Japão em 1945, mas com mais firmeza nas décadas dos 1950 e 1960 tudo tinha tendência, dizia-se, de ser atômico, porque estávamos na Era Atômica; haveria uma conversão geral – peguei a propaganda remanescente – dos objetos quase todos à condição atômica e os que não fizessem a passagem estavam destinados a caducar irremediavelmente.

                            Submarinos atômicos, aviões atômicos, carros atômicos e até fogões atômicos. O futuro televisor, atômico, naturalmente, teria uma “pilha atômica” que duraria cinco mil anos sem precisar trocar e tudo funcionaria à base de energia atômica, com o símbolo (errado, de uma imagem antiga) dos elétrons rodeando o núcleo colado em tudo que fosse futurível e próspero pela capacidade de adesão. De que dimensões seria o “motor atômico” das coisas? Bem pequeno, diziam, embora as usinas fossem enormes. Embora os televisores da época fossem muito maiores que os miniaturizados depois pelos japoneses, com certeza reduziriam as pilhas atômicas de modo a caberem neles, e isso a ponto de depois podermos ter liquidificadores atômicos, até mesmo carrinhos miniaturas atômicos. Era uma beleza! Tudo daria certo, todos os problemas acabariam, viveríamos todos, inclusive ou principalmente os pobres e miseráveis, como nababos, sem precisar mais trabalhar.

                            Promessas, promessas, promessas.

                            A um certo tempo a burguesia se encheu de entusiasmo e esqueceu que estava voando muito alto.

                            Na realidade, hoje, as usinas não passam de mausoléus muito caros que é preciso manter à custa da energia das termelétricas a carvão e a gás, ou das hidrelétricas, e onde as usinas atômicas ainda existem em grande proporção, como na França, não passam por enquanto de retratos do remorso, até que venha a renovação alvissareira. Evidentemente nenhuma das promessas de motores atômicos se cumpriu. Eles existem em submarinos, que custam uma fortuna incalculável (falar em um bilhão de dólares não quer dizer que o saibamos calcular).

                            Acho que bem valeria a pena fazer um livro mostrando as notícias da época, toda aquela falsa alegria esfuziante, e como todo o povo do mundo foi enganado, inclusive os que falavam e acreditavam no que diziam, naquilo que se revelou uma farsa.

                            Vitória, sexta-feira, 31 de outubro de 2003.

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