quinta-feira, 30 de março de 2017


A Felicidade do Anarquista

 

                            No modelo coloquei que a seqüência dos modos políticadministrativos é: Escravismo, Feudalismo, Capitalismo, Socialismo, Comunismo e Anarquismo, todo “ismo” sendo sinal de doença ou sobreafirmação do dominante info-controlador no presente modo terrestre da humanidade. A superafirmação da Anarquia (sem-chefe) geral não é anarquia mesmo, é ainda domínio, é um pouco antes das anarquias vigorarem.

                            Não foi só porque me declaro anarco-comunista, foi porque o tempo apresentou assim a seqüência e porque parece ser a lógica mesmo, de vários pontos de vista.

                            A felicidade do anarquista não viria, então, de ser a última das classes de aprendizado não apenas a mais avançada, o que seria prova de orgulho, nem de ele poder ver isso desde tão de trás, de classes muito antigas na linha, não de poder enxergar a formatura, por assim dizer, mas da antecipação da renúncia derradeira, do maior dos abandonos. Não é possível chegar lá sem passar pelos modos anteriores todos, que nem sequer se sabem atrasados. E o anarquista terá de fazer a escolha final de renunciar ao “ismo”, à doutrina, ao seu papel de doutrinador, de condutor dos destinos humanos. Ele sabe que os outros são atrasados e sabe que ele também é atrasado, porque está contaminado e só depois da cura poderá curar-se a si mesmo, desvestir-se dos trapos do poder para ser isento de toda condição de domínio.

                            É como um santo do Céu que se sabe o menor de todos daquele lugar especial, mas que onde está, entre os demônios, parece muito puro e brilhante apenas porque não está sendo comparado com outros níveis mais elevados.

                            A alegria do anarquista não pode ser a da pessoa que vivendo entre os que desconhecem a escova e a pasta de dente sonha com esse prazer e utilidade, e vive considerando os outros atrasados por sequer serem capazes de sonhar; ele vê que essa satisfação de sonho também é pecado do orgulho que faz uns quererem ser maiores que outros, sem entender.

                            Então, a verdadeira satisfação e alegria do anarquista deve ser a de imaginar a situação em que todos nós estejamos curados e sejamos como Um Só, sem maiores e melhores, sem polarização vivenciada como necessidade. A polarização, por ser desenho de mundo, existirá sempre – mas há de chegar aquele dia em que as pessoas não a viverão em suas vidas como desejo a valorizar.

                            Vitória, domingo, 02 de novembro de 2003.

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