A Felicidade do Anarquista
No modelo coloquei
que a seqüência dos modos políticadministrativos é: Escravismo, Feudalismo,
Capitalismo, Socialismo, Comunismo e Anarquismo, todo “ismo” sendo sinal de
doença ou sobreafirmação do dominante info-controlador no presente modo
terrestre da humanidade. A superafirmação da Anarquia (sem-chefe) geral não é
anarquia mesmo, é ainda domínio, é um pouco antes das anarquias vigorarem.
Não foi só porque me
declaro anarco-comunista, foi porque o tempo apresentou assim a seqüência e
porque parece ser a lógica mesmo, de vários pontos de vista.
A felicidade do anarquista
não viria, então, de ser a última das classes de aprendizado não apenas a mais
avançada, o que seria prova de orgulho, nem de ele poder ver isso desde tão de
trás, de classes muito antigas na linha, não de poder enxergar a formatura, por
assim dizer, mas da antecipação da renúncia derradeira, do maior dos abandonos.
Não é possível chegar lá sem passar pelos modos anteriores todos, que nem
sequer se sabem atrasados. E o anarquista terá de fazer a escolha final de
renunciar ao “ismo”, à doutrina, ao seu papel de doutrinador, de condutor dos
destinos humanos. Ele sabe que os outros são atrasados e sabe que ele também é
atrasado, porque está contaminado e só depois da cura poderá curar-se a si
mesmo, desvestir-se dos trapos do poder para ser isento de toda condição de
domínio.
É como um santo do
Céu que se sabe o menor de todos daquele lugar especial, mas que onde está,
entre os demônios, parece muito puro e brilhante apenas porque não está sendo
comparado com outros níveis mais elevados.
A alegria do
anarquista não pode ser a da pessoa que vivendo entre os que desconhecem a
escova e a pasta de dente sonha com esse prazer e utilidade, e vive
considerando os outros atrasados por sequer serem capazes de sonhar; ele vê que
essa satisfação de sonho também é pecado do orgulho que faz uns quererem ser
maiores que outros, sem entender.
Então, a verdadeira
satisfação e alegria do anarquista deve ser a de imaginar a situação em que
todos nós estejamos curados e sejamos como Um Só, sem maiores e melhores, sem
polarização vivenciada como necessidade. A polarização, por ser desenho de
mundo, existirá sempre – mas há de chegar aquele dia em que as pessoas não a
viverão em suas vidas como desejo a valorizar.
Vitória, domingo, 02
de novembro de 2003.
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