O Assassinato do Suicida
No livro de
Francisco Daudt da Veiga, O Aprendiz de
Liberdade, São Paulo, Cia. das Letras, 2000, p. 143, há esta passagem:
“(...) e só o superego nos ameaça o bastante para que a gente prefira se matar!
”
Bom, é necessário
investigar essa afirmação sob a ótica do modelo, que é de pares polares
opostos/complementares, de pronto superego e não-superego (que se dividiria
então em dois: ego e id, que formam outro par polar). O superego é tudo que
está fora. Dos AMBIENTES (municípios/cidades, estados, nações e mundo) e das
PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) só o indivíduo está dentro, é
não-inimigo por definição (mas mesmo assim sofre paranóias e demências que
colocam sua mente contra seu corpo e, conseqüentemente, contra todo ele, dado
que se o indivíduo se mata ele mata tanto o corpo quanto a mente – ambos param
de funcionar ao mesmo tempo).
Assim, a favor estão
1/8 - desde quando estávamos quase sozinhos há milhões de anos atrás, ou éramos
poucos, há 50 mil anos, quando apareceu nossa espécie - e contra 7/8, na
presente situação de evolução. A pressão desses 7/8 de antiliberdade relativa
(pois é antiprisão também, dado que amplia nossa liberdade incomensuravelmente)
é tremenda e se a pessoa mergulha naquilo que há três décadas ou mais venho
chamando de POÇO DE IMPROBABILIDADES (quando se afigura improvável algum
caminho) e mais fundo no POÇO DE IMPOSSIBILIDADES (quanto TODOS se afiguram
improváveis), então ela está caminhando para o suicídio, o que poderia ser medido
por graduação daquele caminho.
Daí que o suicida é
seu próprio executor 1/8 e é assassinado 7/8. Contudo, devemos levar em conta
que o exterior está próximo de nós, ou seja, está introjetado, só uma fração, e
eu tendo a acreditar que haja soma zero 50/50 entre interior e exterior, mesmo considerando
a presença racionalizada do exterior, que muda o Gerador de Autoprogramas, GAP,
para torná-lo circuito cada vez mais fechado.
Devemos, então, ver que
os ambientes e as outras pessoas matam o suicida, fornecendo-lhe motivos por
vezes imperiosos.
Se os ambientes
fornecem esses motivos, são co-autores, e podemos dizer que os superegos
ambientais e os superegos pessoais são tanto mais culpados quanto relativamente
à população geral os suicidas sejam mais numerosos. Deve haver uma lista de
países, de estados ou províncias, de municípios/cidades que coloca alguém em
primeiro, digamos a Noruega, que deve porisso se a nação mais restritiva,
embora não pareça, pois há restrição POR PRESENÇA e restrição POR AUSÊNCIA,
quer dizer, devido à falta de amor e lig/ação, ato permanente de ligar. Diz-se
desses lugares que são “frios”, distantes, não são próximos e “quentes” como os
tropicais e mediterrâneos e latinos.
Enfim, que ambientes
e pessoas matam os suicidas?
Quem pula da ponte
ou do prédio, quem toma veneno, quem se joga diante do trem, quem corta os
pulsos ou comete qualquer das modalidades corriqueiras ou mais elaboradas de
suicídio é o suicida mesmo, o indivíduo na ponta da ação, mas há um agente
remoto geral 7/8.
Vai daí que o Daudt
Veiga não esteja totalmente certo: o superego empurra-nos 7/8 ou 50 %, mas o
suicida vai por conta própria 1/8 ou 50 %. Assim, o tratamento para cura deve
ser tanto dos ambientes e das pessoas outras quanto do indivíduo.
Vitória, domingo, 02
de novembro de 2003.
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