terça-feira, 28 de março de 2017


A Voz da Casa

 

                        Desde quando percebi no Modelo da Caverna que homens e mulheres constituem duas espécies opostas/complementares dentro da espécie única homulher, vi que há duas línguas ou pelo menos dois falares da mesma língua humana: a Língua da Mulher e a Língua do Homem. É da lógica que mulheres falem mais, com mais abundância de substantivos e de tudo, porque sua experiência foi inicialmente maior e mais variada, de espaço e de plano da coleta, que a masculina, de linha e de ponto da caça. Assim, embora ambos tenham vozes, propriamente denominaremos Voz, em maiúscula, a dominância, que é neste setor da mulher.

                        Ora, sempre me intrigou que nos descasamentos haja estranheza quanto ao homem que fica só, mas não quanto à mulher. Uma parte da estranheza vem de todos começarem a pensar se o fulano está se tornando veado, homossexual, ao passo que outra parte remanescia inexplicada. Agora vejo que na ausência de mulher as outras mulheres deixam de ter acesso ao lar, não podem conversar com as outras cavernas, sentem-se cegas, inadmitidas a uma seção do ser humano, a masculina.

                        Miguel Pinto Lobo era um colega fiscal que dizia: “segredo não se conta a homem casado/ ele conta para a mulher/ que espalha para o povoado”. Ou seja, contou à mulher todos vão saber, é uma COMUNIDADE DE INFORMAÇÕES. Ter empregada doméstica, raciocinamos Gabriel e eu, é ter um JORNAL DAS EMPREGADAS, porque tudo percorre o coletivo, todos ficam sabendo de nossas coisas, de tudo mesmo que chegar ao ouvido dela.

                        Agora penso que os homens que por qualquer motivo não se casam de novo ofendem o correio feminino, porque ficam retirados das fofocas, do manuseio da vida alheia, abstraem-se do conhecimento público – e constituem, porisso mesmo, uma ameaça a todas e cada uma, porque inacessíveis e incontroláveis. Elas acabam passando isso aos maridos e aos filhos, o que causa tremendas dificuldades de relacionamento.

                        Vejo agora que re-casar é apenas manter a sanidade social.

                        Vitória, segunda-feira, 27 de outubro de 2003.

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