Exclusão da Natureza
No mesmo livro de
Henneman, p. 9/10, ele diz:
“Descartes negava
que os animais tivessem mente, considerando-os como máquinas intrincadas
capazes de comportamento muito complexo, é verdade, mas incapazes de raciocinar
como o homem. (...). Nem poderia estudar devidamente o comportamento animal,
uma vez que os animais não possuem mente. Na verdade, o psicólogo não teria
necessidade de laboratórios, pois como poderia observar e medir entidades
físicas que não têm extensão nem localização? ”
Como vimos no artigo
deste Livro 36, Descartes e Einstein,
Descartes teve meio de vida lá pelo começo do século XVII, há quase 400 anos, e
durante esse tempo o pensamento dele contaminou toda a Filosofia/Ideologia e a
Ciência/Técnica, com alguma resistência na Teologia/Religião e mais na
Magia/Arte. O resultado palpável foi que tal tipo de raciocínio, juntando-se ao
mandamento bíblico que manda a humanidade multiplicar-se e dominar as feras,
causou dano extraordinário à Natureza e à humanidade mesma, na medida em que
esta se insere numa rede extraordinariamente complexa de direitos e deveres
biológicos.
Com tal autorização
os animais foram considerados seres à parte, que é possível maltratar e matar.
Se nós, humanos, já fazemos mal aos nossos semelhantes (inclusive filhos e
filhas, as mulheres aos maridos, e muito mais vice-versa), que dirá aos
dessemelhantes? Tivéssemos considerado os animais dotados de mente (que sejam
programas menos complexos que os humanos, ainda estão lá, em diferentes patamares
expressivos), teríamos lhes dado considerável atenção a mais, e consideração,
atores de um mesmo drama e comédia cósmicos. Seríamos como que irmãos mais
velhos e mais novos, mais espertos e menos sabidos, mas irmãos filhos do mesmo
Pai, Deus, e da mesma Mãe, Natureza. Como toleramos muito mais de nossos irmãos
e irmãs, assim teríamos procedido com os primatas e os animais, e até com as
plantas e os fungos.
Essa exclusão
cartesiana da Natureza fez um mal considerável tanto aos seres pré-humanos
quanto à humanidade, e tornou o mundo muito feio, haja vista nossa liberdade
ampliada de causar danos, sem qualquer remorso (dado que os animais não
possuíam mente, segundo o raciocínio falho dele). Só que o modelo diz que a
soma é zero – agora mesmo estamos pagando o negativo daquela autorização
pérfida.
Vitória,
quarta-feira, 02 de julho de 2003.
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