sexta-feira, 3 de março de 2017


Exclusão da Natureza

 

                            No mesmo livro de Henneman, p. 9/10, ele diz:

                            “Descartes negava que os animais tivessem mente, considerando-os como máquinas intrincadas capazes de comportamento muito complexo, é verdade, mas incapazes de raciocinar como o homem. (...). Nem poderia estudar devidamente o comportamento animal, uma vez que os animais não possuem mente. Na verdade, o psicólogo não teria necessidade de laboratórios, pois como poderia observar e medir entidades físicas que não têm extensão nem localização? ”

                            Como vimos no artigo deste Livro 36, Descartes e Einstein, Descartes teve meio de vida lá pelo começo do século XVII, há quase 400 anos, e durante esse tempo o pensamento dele contaminou toda a Filosofia/Ideologia e a Ciência/Técnica, com alguma resistência na Teologia/Religião e mais na Magia/Arte. O resultado palpável foi que tal tipo de raciocínio, juntando-se ao mandamento bíblico que manda a humanidade multiplicar-se e dominar as feras, causou dano extraordinário à Natureza e à humanidade mesma, na medida em que esta se insere numa rede extraordinariamente complexa de direitos e deveres biológicos.

                            Com tal autorização os animais foram considerados seres à parte, que é possível maltratar e matar. Se nós, humanos, já fazemos mal aos nossos semelhantes (inclusive filhos e filhas, as mulheres aos maridos, e muito mais vice-versa), que dirá aos dessemelhantes? Tivéssemos considerado os animais dotados de mente (que sejam programas menos complexos que os humanos, ainda estão lá, em diferentes patamares expressivos), teríamos lhes dado considerável atenção a mais, e consideração, atores de um mesmo drama e comédia cósmicos. Seríamos como que irmãos mais velhos e mais novos, mais espertos e menos sabidos, mas irmãos filhos do mesmo Pai, Deus, e da mesma Mãe, Natureza. Como toleramos muito mais de nossos irmãos e irmãs, assim teríamos procedido com os primatas e os animais, e até com as plantas e os fungos.

                            Essa exclusão cartesiana da Natureza fez um mal considerável tanto aos seres pré-humanos quanto à humanidade, e tornou o mundo muito feio, haja vista nossa liberdade ampliada de causar danos, sem qualquer remorso (dado que os animais não possuíam mente, segundo o raciocínio falho dele). Só que o modelo diz que a soma é zero – agora mesmo estamos pagando o negativo daquela autorização pérfida.

                            Vitória, quarta-feira, 02 de julho de 2003.

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