sexta-feira, 3 de março de 2017


Exagero da Forma

 

                            Como já disse lá nos textos em que comentei a camuflagem, ela tem valor de sobrevivência, isto é, dá sobrevida a quem usa o artifício. A Natureza se espalha em (2,5 + 47,5 + 47,5 + 2,5) %, segundo o modelo, de modo que metade usará o artifício e metade não. Um lado necessita do outro, a forma vivendo da estrutura, parasitando-a – dizendo de outra maneira, as belas usam os feios como suporte de vida, os sem beleza usam as bonitas como amparo do gozo.

                            Evidentemente, se a formestrutura segue vivendo em acordo coerente há 2,5 % de cada lado que é exagero, sobreafirmação, doença do infocontrole, agoraqui a humanidade. Há o formalismo, excesso de forma, e há o estruturalismo ou conceitualismo ou concepcionalismo ou idealismo, superafirmação da estrutura, do conceito, da concepção, da idéia.

                            Do lado do formalismo, do excesso de forma ou superfície ou imagem, há os que como os travestis (agora chamados no exagero do exagero de DRAG QUEENS) - e todos os que superimpõe-na como “forçamento de barra”, como diz o povo, o que por vezes é constrangedor, para além da liberdade própria - precisam dessa insistente presença na tela de apresentação, essa angústia de sobremostrar-se. Muitos gestos, muitos brilhos, muitos sons, muitos abraços, muitas adulações, muito de tudo, demasiado de tudo.

                            Esse é mais um dos fenômenos que não foram estudados pela Academia. Por quê alguns são compulsivamente superformalistas? De onde vem a necessidade de hiperformalizar? Por quê esses acham que a superpresença da forma garantirá sobrevivência? É claro que garante, pois, os gestos continuam exagerados, superlativos, mas não para toda a metade, pois de outro modo metade faria, e não faz, são poucos. Mas do lado daqueles 2,5 % os outros 47,5 % sustentam. As populações não foram entrevistadas e não foram triadas as PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) hiperformais. Qual o papel que cumpre nas fitas de heranças psicológicas a superafirmação formal? Por quê a Natureza psicológica/p.3 precisa dela? Os programas racionais não vêm à tona a troco de nada, há sempre uma razão. As perguntas que vinham sendo feitas são tolas, infantis, pouco profundas.

                            Vitória, segunda-feira, 30 de junho de 2003.

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