domingo, 5 de março de 2017


Disputa

 

                            No mesmo livro de John Henry, página 86, ele diz:

                            “Muitas vezes é possível verificar que filosofias naturais fundamentalmente divergentes se fundam em pressupostos básicos opostos com relação à natureza da providência de Deus. A teologia voluntarista supõe que a vontade de Deus é seu atributo dominante, ao passo que a teologia intelectualista enfatiza a razão de Deus. O voluntarista se recusa a admitir qualquer coisa que possa circunscrever a onipotência de Deus, ao passo que o intelectualista acredita que há algumas verdades eternas ou preexistentes que conduzem Deus a agir de certas maneiras por meio de sua razão. Os voluntaristas supõem que o que Deus decide é bom, já os intelectualistas acreditam que Deus decide o que é bom. O voluntarista não aceita que o mundo possa ser racionalmente construído. A vontade arbitrária de Deus pode ter introduzido nele toda sorte de contingência, de modo que é preciso descobrir o sistema do mundo empiricamente. O intelectualista, em contraposição, acredita ser possível, pelo menos em certa medida, ‘pensar os pensamentos de Deus à maneira dele’ e assim chegar a uma compreensão racional do mundo”, negrito e colorido meus.

                            Disputa inútil, porque o diâmetro, no qual se opõe o par polar oposto/complementar, tem no centro a solução, quer dizer, o centro comporta visões opostas (que são complementares).

                            Pois, veja, como ficou definido no outro artigo deste Livro 37, Duplo, Deus é dois, é duplo, tanto Natureza quanto Deus, voluntário e intelectual, Aquele UM no qual há o que denominei VONTADE MAJORITÁRIA, isto é, a própria vontadintelectual, que é ao mesmo tempo vontade-sem-compromisso e autocontrole. Evidentemente Deus, por definição, é onipotente (vontade toda-potente), onisciente (saber todo-sapiente), onividente (todavisão), etc. Sua vontade coincide TOTALMENTE com as possibilidades do Pluriverso, o berço das sementes dos duploversos universais-antiuniversais. Os seres de dentro, quaisquer racionais e sencientes, estando aquém do poço infinito, além do qual se encontra Deus, não podem perceber as construções senão como oposições ou pares, não percebem as complementações senão parcialmente, isto é, vão imaginar que a compactação total ou completude não pode dar-se. No entanto, pode, como se dá na esfera, que é bem a representação das possibilidades harmonizadas do Pluriverso. Ou, por outra, haverá sempre dissonâncias para os racionais. Haverá sempre DOR DE PERCEPÇÃO, porque percepção falha, in-completa, in-suficiente, necessária sempre, apenas. Somente em Deus a necessidade se iguala à suficiência - sendo assim Deus AO MESMO TEMPO necessário, voluntarioso, e suficiente, regrado. As regras de Deus são a sua vontade, a que TODOS os seres, sejam anjos, demônios e deuses menores na escala do Ser, devem obedecer. Assim, Deus diz na Bíblia: EU (vontade) SOU (contido = ABSOLUTO = CENTRO, na Rede Cognata), EU SOU MINHA VONTADE, e MINHA VONTADE SOU EU. Tem de ser assim.

                            Porém, quando os incompletos (o que traz a prostração completa de todos os entes e é um anúncio de insuficiência e conseqüentemente de eterna gratidão) que são todos os racionais olham, não vêem senão a parcialidade. Porque vêem somente a parcialidade não são capazes de se satisfazerem NUNCA e sempre desejarão, sendo o desejo justamente a indicação de incompletude. Só o mergulho no Ser auto-suficiente pode trazer a paz derradeira, por causa disso: todo Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica, exceto a Matemática que é, esta, a própria mente de Deus) É INSUFICIENTE, por melhor e maior que seja. Ele só pode mesmo trazer, em qualquer campo, por mais avançado que seja, a insatisfação e o sentido da insuficiência e incompletude, cujo rendimento é a aceitação daquela Douta Ignorância.

                            Os dois atributos são dominantes, tanto a vontade quanto as contingências, os limites, as constantes, pois Deus É SUAS CONSTANTES. Assim sendo, ao desenhar O Mundo, Deus doa a liberdade, o livre-arbítrio, que só existe enquanto Deus o deseja, isto é, SE DESEJA. Se Deus parar de se desejar O Mundo geral ou os mundos particulares desapareceriam.

                            O que Deus decide é bom PORQUE Deus decide o que é bom = DEUS. E Deus decide o que é bom PORQUE o que Deus decide é bom, POR DEFINIÇÃO, por terminação. Não existe nem pode existir nada fora disso. O sistema do mundo (= PADRÃO DO MODELO de Deus) pode ser descoberto tanto empírica ou experimentalmente quanto judicialmente, através do pensamento ou razão PORQUE os seres JÁ SÃO DEUS, no entanto distorcendo-se dele PELO EXERCÍCIO DO LIVRE ARBÍTRIO. E não podem renunciar ao exercício porque a própria renúncia seria já livre arbítrio. Assim sendo, aqueles que renunciam, que dizem estar meramente cumprindo ordens, estão também exercendo (mal e covardemente) sua liberdade, bem como os que se dizem não-políticos, não-livres, distantes de todo interesse pela liberdade batalhada.

                            Diferentemente de todo ser, os limites do Ser SE SÃO, não estão fora – o próprio Ser JÁ SE É, razão daquela extraordinária manifestação bíblica: EU SOU, SOU EU.

                            Como se pode ver não há nenhuma razão para disputa ou choque.

                            Deflui daí que as religiões, para verem Deus, tem de estar todas juntas, PORQUE Deus é tudo aquilo e muito mais, é todas as oposições. Assim como os cinco cegos só podem compreender o elefante se juntarem suas percepções e só vão dialogar se perceberem que embora cegos não são nem surdos nem mudos.

                            Além disso, as verdades eternas e preexistentes SÃO DEUS, isto é, Deus é preexistente (de um modo que os racionais não podem saber) e eterno, quer dizer, Deus é tempespaço eterninfinito.

                            Vitória, sábado, 26 de julho de 2003.

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