Vasco, o Herói
Assassino
Do livro de Hart já
citado, p. 476, onde ele fala de Vasco da Gama (os portugueses e espanhóis
sempre colocados por último, aliás), 86º da lista de 100, ele diz: “Seu
comportamento nessa expedição foi absolutamente implacável. Ao largo da costa
da Índia tomou um navio árabe que passava e, depois de retirar-lhe a carga, mas
não os passageiros, queimou-o no mar. Todos a bordo – várias centenas de
pessoas, inclusive mulheres e crianças – morreram”.
Não que os
americanos, os ingleses e os povos europeus em geral fossem melhores. Não que
os orientais, sejam chineses, japoneses ou outros fossem melhorem. Considerando
tudo, listando detalhadamente todos os assassinatos, todas as atrocidades,
todas as perversidades, todas as canalhices geo-historicamente praticadas, acho
que os povos quase todos foram mais perversos que os portugueses. Se você
começar a fazer o levantamento, provavelmente concluirá que os portugueses
foram um dos povos mais compassivos.
Contudo, ainda será
um dos mais assombrosos fatos que ao lado da coragem exigida pela projeção do
heroísmo tenham os heróis essa capacidade de destroçar, de matar, de aleijar
impiedosamente as almas e os corpos, na busca da realização de seus propósitos,
acolhendo as ordens alheias como eixos das metas de enriquecimento, de fama, de
glória – ao contrário dos santos e sábios, que estão acima deles e que,
sistematicamente, apenas morrem, depois de atingido o estágio de santidade.
O que é que faz de
um lado da figura a face heróica e do outro essa horripilante face feroz de
Vasco de Gama, de Francisco Pizarro, de Hernán Cortez e de tantos outros?
Assim, para nos lembrar nossa natureza falível e como nós mesmos poderíamos ter
tido as mesmas atitudes, nas mesmas situações, devemos construir uma estátua de
dupla face, de um lado rejeitando e de outro recebendo de braços abertos os
venenos.
De um lado tão alto
e do outro tão baixo e rastejante!
Vitória,
quinta-feira, 03 de julho de 2003.
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