sexta-feira, 3 de março de 2017


Pedagogia da Liberdade

 

                            É uma das contestações mais assustadoras a de que nunca tenha aparecido explicitamente, em parte alguma, até onde sei, uma ESCOLA DA LIBERDADE, consagrada a ensinar a liberdade que já seja conhecida e a pesquisar as outras que estão faltando.

                            Nunca, em sociedade/civilização/cultura algumas pessoas (indivíduos, famílias, grupos ou empresas) se reuniram para conspirar pela liberdade, só contra ela. Você pode pensar que sim, mas na verdade as pessoas se juntaram para combater os opressores, o que é anúncio da preparação de defesa, não da ativa e alegre antecipação do gozo. Pode-se preparar uma festa sem atinar que por trás dela se mostrará a liberdade, pode-se construir um ginásio, pode-se erigir uma estátua da Liberdade Alada, mas nunca teremos ouvido falar de gente se aproximando para trabalhar a liberdade como conceito e forma.

                            Agregamo-nos para ler obras (por exemplo, as de Marx, na minha juventude um anunciador da liberdade), para constituir família, mas acho que ninguém olhou a liberdade cara-a-cara (ou, como dizem os americanos, face-to-face). Ninguém se preparou para ela, assim como se supõe que todos saibam como praticar o sexo. Mas não ensinam (no Oriente, que é mais esperto, sim) a respirar, a fazer exercícios, a enfrentar os dias com disciplinas ditas marciais? O contrário seria como supor que podemos ser os melhores homens para as mulheres só por desejá-las, de que na comermos todo dia haveria já embutido o paladar longamente treinado dos goumerts. Nós não saberemos degustar os mais finos sabores da liberdade, a menos que nos preparemos para tal, o que quer dizer começar logo.
                            Vitória, quarta-feira, 25 de junho de 2003.

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