sexta-feira, 3 de março de 2017


O Ser Humano

 

                            A tese do Altamiro (Borges Pires) é que o ser humano, de centro que era, foi progressivamente alienado pelo aparecimento das ciências e dos conhecimentos todos, que no modelo chamaríamos de Conhecimento (genericamente Magia-Arte, Teologia-Religião, Filosofia-Ideologia, Ciência-Técnica e Matemática).

                            A Filosofia quer que só haja humanidade sancionada por ela, a Economia diz que só é humano o que for econômico e produtivo, a Religião só aceita como válido o que tiver sido indexado por ela (as palavras são minhas) e assim por diante.

                            A tese não só é muito boa, não só é verdadeira, como é a mesma do modelo, postas as diferenças: pois este prega a existência de um EIXO DO FALAR, de uma só fala, de um só ser humano, em nome do qual foram feitas todas as coisas como culminação, isto é, para o cristal na ponta da flecha da Criação (por enquanto, até que venha o além-do-ser-humano), naquele sentido teilardiano de preocupação mor do Nous, a esfera-racional, através da qual Deus, digamos assim, opera.

                            A motivação, que seria a humanização, perdeu-se nalgum ponto perverso, e ficou apenas o conhecer como motivo, o conhecer pelo conhecer, alienado, posto fora do ser humano. No mundo pervertido não é o conhecimento que serve o humano, é o humano que acumula para o conhecimento.           

                            De fato, o modelo também prega que pela aceitação do eixo único sejamos capazes de recuperar a Fala primeva, o primitivo expressar total, o dizer completo, inteiro, não apenas da união dos pares polares de opostos/complementares, como a centralização indubitável que escorraçará o falar descentrado, excêntrico, alienado, distanciado dos valores mais úteis e verdadeiros.

                            Aí nossos dizeres começam a convergir, o modo dele falar e o meu, pois não se deve ter um centro na Psicologia, outro no Direito, outro na Física, cada um querendo ser O CENTRO, pois este deve ser apenas um, como qualquer um pode entender. Paremos de falar em causa própria e falemos na causa geral.

                            Vitória, sexta-feira, 18 de julho de 2003.

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