quarta-feira, 1 de março de 2017


Comentando Ming

 

                            Do livro de Liu I-ming, O Despertar para o Tao (versão de Thomas Cleary), São Paulo, Pensamento, parece ser edição de 1992 (sobre original americano de 1988), podemos comentar estas passagens, nas páginas citadas:

·        SEMPRELIDADE’ DO TAO (p. 118): “O Tao é para sempre. Se lhe falta perseverança, não se aplique ao acaso. As pessoas perguntam sobre o Passo Misterioso no instante em que passam pelo portão; elas querem começar antes de aprenderem como. No começo são diligentes, mas terminam por relaxar, não têm vontade firme. Piedosos por fora, mas secretamente diabólicos, muitos cometem blasfêmias”. Veja que na Rede Cognata (Rede e Grade Signalíticas, Livro 2) Tao = EQUILÍBRIO = TODO, etc., de modo que o equilíbrio é para sempre, o centro onde se reúnem os pares de opostos/complementares. É uma reta que atravessa o universo de cabo-a-rabo, do alfa ao ômega, do começo ao fim, um eixo de existência.

·        INDEPENDÊNCIA (p. 136): “O Tao é independente. Independência significa ter de amar a si mesmo. Se você está presente, as coisas não podem perturbá-lo. Se você mesmo está ausente, a sua essência é obscurecida. Em última análise, se você mesmo sempre estiver em casa, o próprio rei da morte recuará surpreso”. O equilíbrio é independente - significa ter de fazer o esforço HUMANO de se amar. Como dizia a Clarice Lispector, a falta de amor por si é o começo do ódio para com tudo. Estar ausente de si é estar alienado, fora de si, como tantas vezes ficamos, nos transferindo para carros, casas, piscinas, viagens, roupas e o resto das tranqueiras. Se você estiver em si mesmo, em sua casa-corpo e mente, nem a morte nem as doenças poderão tocá-lo.

·        A GRANDE RESTAURAÇÃO (p. 134): “O Tao não é de viés – quando a essência e a vida são cultivadas, completa-se a grande restauração. No começo, há o fazer, para aperfeiçoar a jóia da Vida; no final, há o não-fazer, para compreender o céu da essência. Quatro yins e yangs se dividem em verdadeiro e falso; dois estágios da obra têm antes e depois”. Veja aí as quatro forças fundamentais e os quatro vértices do quadrado de base (aquele mesmo consignado por Aristóteles em sua Lógica) da pirâmide – dois são verdadeiros e dois são falsos. A Jóia da Vida é o próprio Tao = JÓIA = EQUILÍBRIO = VIDA (se V = B) = TERRA = BUDA, etc. O equilíbrio não é de viés, não é de lado, ele é de frente, é enfrentamento, é postar-se completamente centralizado.

·        O TESTEMUNHO DO TAO (p. 137): “O Tao deve ser testemunhado. Tendo-o testemunhado, ponha-o em prática e você não sentirá fadiga no caminho”. Não é como o Testemunhas de Jeová, em que as pessoas saem por aí fazendo pregações e tentando converter, pois o Tao, podendo ser atingido por muitos, tanto pessoas quanto ambientes, é em cada caso individual, a pessoa só pode dar testemunho de si, isto é, pode confessar-se internamente apenas a si. Tornando-se equilibrada a pessoa não sentirá fadiga no andar, porque não é andar que pese à esquerda ou à direita, vai pelo centro, com o mínimo possível de esforço.

·        A DISSOLUÇÃO DOS VENENOS (p. 137): ”Essa é a coisa mais sagrada, mais espiritual – os três venenos da ambição, da agressão e da estupidez se dissolvem; não há calamidades nem dificuldades, todas as estações são a primavera”. Ambicionar é pretender o excesso de si, agredir é suprimir os outros eus, estupidez é inadequação em relação ao universo. Pela supressão dos outros egos o universo fica menor, pelo excesso de si a mente fica pesada, pela inadequação as respostas são dissonantes. Maior peso num volume menor, pressão maior, corpomente curvado, choques com o universo – que conjunto de coisas poderia ser pior que isso? Opressão com sensação de impertinência – verdadeiro horror, esse conjunto de venenos. Se, pelo contrário, os venenos se dissolvem, há leveza do ser, aumento de si com a ampliação livre dos outros, identidade com o ambiente – isso é a felicidade.

Já deu para ver que o Tao é verdadeiramente poderoso, quando interpretado justamente. E que, ao contrário, quando é visto pelas almas menores, elas nada tiram dele. É como disse Fernando Pessoa: tudo é grande quando a alma não é pequena (ou vice-versa: tudo é pequeno e sombrio quando a alma é diminuta e escura).

Em resumo, as pessoas não estudaram o Tao ou Equilíbrio e já saíram por aí dizendo isso e aquilo da falta inexistente. O resultado foi que a negação tornou o mundo muito menor, pois esses leitores ruins lançaram seus três venenos sobre a humanidade, tornando-a pesada, diminuta e inadequada – oprimida e impertinente.

Já passou do tempo de mudar, voltar à Primavera do Ser.

Vitória, quarta-feira, 02 de julho de 2003.

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