Comentando Ming
Do livro de Liu
I-ming, O Despertar para o Tao
(versão de Thomas Cleary), São Paulo, Pensamento, parece ser edição de 1992
(sobre original americano de 1988), podemos comentar estas passagens, nas
páginas citadas:
·
‘SEMPRELIDADE’ DO TAO (p. 118):
“O Tao é para sempre. Se lhe falta perseverança, não se aplique ao acaso. As
pessoas perguntam sobre o Passo Misterioso no instante em que passam pelo
portão; elas querem começar antes de aprenderem como. No começo são diligentes,
mas terminam por relaxar, não têm vontade firme. Piedosos por fora, mas
secretamente diabólicos, muitos cometem blasfêmias”. Veja que na Rede Cognata (Rede e Grade Signalíticas, Livro 2) Tao
= EQUILÍBRIO = TODO, etc., de modo que o equilíbrio é para sempre, o centro
onde se reúnem os pares de opostos/complementares. É uma reta que atravessa o
universo de cabo-a-rabo, do alfa ao ômega, do começo ao fim, um eixo de
existência.
·
INDEPENDÊNCIA (p. 136): “O Tao é independente. Independência
significa ter de amar a si mesmo. Se você está presente, as coisas não podem
perturbá-lo. Se você mesmo está ausente, a sua essência é obscurecida. Em
última análise, se você mesmo sempre estiver em casa, o próprio rei da morte
recuará surpreso”. O equilíbrio é independente - significa ter de fazer o
esforço HUMANO de se amar. Como dizia a Clarice Lispector, a falta de amor por
si é o começo do ódio para com tudo. Estar ausente de si é estar alienado, fora
de si, como tantas vezes ficamos, nos transferindo para carros, casas,
piscinas, viagens, roupas e o resto das tranqueiras. Se você estiver em si
mesmo, em sua casa-corpo e mente, nem a morte nem as doenças poderão tocá-lo.
·
A GRANDE RESTAURAÇÃO (p. 134): “O Tao não é de viés – quando a
essência e a vida são cultivadas, completa-se a grande restauração. No começo,
há o fazer, para aperfeiçoar a jóia da Vida; no final, há o não-fazer, para
compreender o céu da essência. Quatro yins e yangs se dividem em verdadeiro e
falso; dois estágios da obra têm antes e depois”. Veja aí as quatro forças
fundamentais e os quatro vértices do quadrado de base (aquele mesmo consignado
por Aristóteles em sua Lógica) da pirâmide – dois são verdadeiros e dois são
falsos. A Jóia da Vida é o próprio Tao = JÓIA = EQUILÍBRIO = VIDA (se V = B) =
TERRA = BUDA, etc. O equilíbrio não é de viés, não é de lado, ele é de frente,
é enfrentamento, é postar-se completamente centralizado.
·
O TESTEMUNHO DO TAO (p. 137): “O Tao deve ser testemunhado. Tendo-o
testemunhado, ponha-o em prática e você não sentirá fadiga no caminho”. Não é como
o Testemunhas de Jeová, em que as pessoas saem por aí fazendo pregações e
tentando converter, pois o Tao, podendo ser atingido por muitos, tanto pessoas
quanto ambientes, é em cada caso individual, a pessoa só pode dar testemunho de
si, isto é, pode confessar-se internamente apenas a si. Tornando-se equilibrada
a pessoa não sentirá fadiga no andar, porque não é andar que pese à esquerda ou
à direita, vai pelo centro, com o mínimo possível de esforço.
·
A DISSOLUÇÃO DOS VENENOS (p. 137): ”Essa é a coisa mais sagrada, mais
espiritual – os três venenos da ambição, da agressão e da estupidez se
dissolvem; não há calamidades nem dificuldades, todas as estações são a
primavera”. Ambicionar é pretender o excesso de si, agredir é suprimir os
outros eus, estupidez é inadequação em relação ao universo. Pela supressão dos
outros egos o universo fica menor, pelo excesso de si a mente fica pesada, pela
inadequação as respostas são dissonantes. Maior peso num volume menor, pressão
maior, corpomente curvado, choques com o universo – que conjunto de coisas
poderia ser pior que isso? Opressão com sensação de impertinência – verdadeiro
horror, esse conjunto de venenos. Se, pelo contrário, os venenos se dissolvem,
há leveza do ser, aumento de si com a ampliação livre dos outros, identidade
com o ambiente – isso é a felicidade.
Já deu para ver que o Tao é
verdadeiramente poderoso, quando interpretado justamente. E que, ao contrário,
quando é visto pelas almas menores, elas nada tiram dele. É como disse Fernando
Pessoa: tudo é grande quando a alma não é pequena (ou vice-versa: tudo é
pequeno e sombrio quando a alma é diminuta e escura).
Em resumo, as pessoas não estudaram o
Tao ou Equilíbrio e já saíram por aí dizendo isso e aquilo da falta
inexistente. O resultado foi que a negação tornou o mundo muito menor, pois
esses leitores ruins lançaram seus três venenos sobre a humanidade, tornando-a
pesada, diminuta e inadequada – oprimida e impertinente.
Já passou do tempo de mudar, voltar à
Primavera do Ser.
Vitória, quarta-feira, 02 de julho de
2003.
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