sexta-feira, 3 de março de 2017


Arquitetura do Caos

 

                            No livro de Guitta Pessis-Pasternak, A Ciência: Deus ou o Diabo? São Paulo, UNESP, 2001, p. 39 e seguintes, a autora entrevista David Ruelle, título Os Paradoxos do Caos. Na página 41 ele diz:  “(...), mas, em certas doenças graves do coração, observamos, em contrapartida, um movimento regular. Uma maneira de interpretar esses fenômenos seria dizer que um movimento ‘caótico’ corresponde à situação fisiológica normal, e que um movimento regular corresponde a uma patologia”

                            Pensando agora em como os incas construíam seus muros que sobreviveram a centenas de anos de terremotos, instalando pedras divergentes em lugar de superordenadas à maneira européia, podemos raciocinar que o caos redireciona as tensões (compressões e distensões) para sua anulação NATURAL, ao passo que o modo ordenado força o caos a se exprimir em direções e sentidos PREFERENCIAIS que sobretensionam centos pontos escolhidos (racional ou sentimentalmente).

                            Além disso, a sobreposição ocidental levou a que as retas se destacassem às curvas, que foram quase que suprimidas em nome da eficiência e dos tempos mínimos, das racionalidades, por contraposição aos sentimentos e emoções, quase que totalmente afastados. Ou seja, o superracional levou a palma, se tornou vitorioso, exigindo que entre dois pontos esteja sempre a reta, esta que é o programa contrário ao da Natureza. Nem tanto à terra nem tanto ao mar, fiquemos na praia onde podemos ter o melhor dos dois mundos: nem segurança demais do solo nem insegurança excessiva da água.

                            Os projetos de arquitetura e de engenharia, de arquiengenharia em geral, projetos formestruturais, levam a subutilização das formas ou das estruturas, com prejuízo de um ou de outro lado, ou de ambos, exatamente por não juntar as DUAS CULTURAS, esquerda e direita, curvo e reto, círculo e linha em circulinha ou onda ou campartícula. Como vimos, se o coração ou a criação está em ritmo falso-caótico está sarado e se está em extrema ordem está doente, como deve estar TODA A TECNARTE DO PROJETO, tanto ocidental quanto oriental.

                            Seria preciso introduzir na arquiengenharia, como foi feito na geometria, o caos, quer dizer, tornar o caos CO-OPERANTE da ordem, permitir que coabitem o mesmo espaçotempo ou geo-história humana.

                            Vitória, terça-feira, 29 de julho de 2003.

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