quarta-feira, 1 de março de 2017


A Perfeição Obsoleta

 

                            Na enciclopédia Barsa de papel (São Paulo, 1993), p. 222 do volume 13, está escrito: “Na maioria dos casos, a régua de cálculo oferece resultados aproximados, com grande rapidez. Mesmo nos modelos comuns, realiza multiplicação, divisão, quadrados e cubos, extrai raízes quadradas e raízes cúbicas, determinando logaritmos e funções trigonométricas”, negrito e colorido meus.

                            Quando estava no cursinho do Colégio Salesiano de Vitória em 1971 deram aulas de régua de cálculo para nós, um grupo pasmado de estudantes. Depois, nunca mais se viu, o que mostra quanto a Barsa está defasada, aproveitando artigos do passado, já em 1993 com mais de 20 anos.

                            Além disso, eis um exemplo notável de algo que foi se aperfeiçoando tanto até cair na obsolescência.

                            Depois que John Napier (dos logaritmos neperianos), escocês, 1550 a 1617, 67 anos entre datas, trouxe ao conhecimento do mundo os logaritmos em 1614, deles apareceram as réguas de cálculo, a primeira apresentada por Willian Oughtred em 1633, a primeira com lingüeta, de Robert Bissaker em 1654, com sucessões de Seth Partridge em 1657, de Henry Coggeshall em 1677 e Thomas Everard em 1683, surgindo a régua Soho em 1779. Coisas avançadíssimas, como a eletrola, a antena parabólica grande (que durou uns 10 anos como evidência: chegou a custar 600 a 700 dólares, sendo preciso fazer consórcio para adquirir uma) e tantos objetos caíram em desuso. Tanto avançaram que se tornaram inúteis. A substituição das réguas veio daqueles UNIVAC que ocupava salas inteiras e fazia algumas centenas de operações por segundo, até que 30 anos depois as máquinas de calcular cabiam na palma das mãos, uns tijolões que faziam as quatro operações e raiz quadrada e depois se tornaram potências que possibilitam a operação de 300 funções por 150 reais (30 dólares). Das baratas compra-se agora um repolho e se ganha uma de brinde, mil vezes mais poderosa e precisa que as réguas de cálculo mais avançadas.

                            Isso nos lembra duas coisas: 1) o poder coletivo de construção pela humanidade; 2) tudo que julgamos muito avançado pode de repente caducar – o que nos recorda também da necessidade de acelerar.

                            Vitória, quinta-feira, 03 de julho de 2003.

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