A Fonte Ideológica
No Conhecimento
(Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e
Matemática) apareceu claramente que há duas pirâmides, uma alta e uma baixa,
ambas centradas pela Matemática; a Filosofia, por exemplo, é a Ideologia alta,
enquanto a Ideologia é a Filosofia baixa.
O que quer dizer isso?
É que a Filosofia é a
fonte de onde emana ou sai teoricamente a Ideologia (assim como a Técnica emana
ou sai autorizadamente da Ciência), pois é preciso pensar largamente o domínio
políticadministrativo enquanto domínio de idéias que são geradas de modo aberto
e total na Filosofia. A Ideologia que sai de si mesma é a prática, a que se
pode pensar sem grande empenho, a TEORIA QUANTITATIVA, enquanto a teoria é a
PRÁTICA QUALITATIVA, meditada, intensificada, profunda.
A filosofia prática, que
é a ideologia, acaba por apequenar os assuntos só porque não se detém neles
grande tempo, não se questiona profunda e intensamente. A filosofia teórica é
que é a porção alta. Desse modo, a Ideologia é sempre daqueles que se apressam
em apresentar os conceitos e assim ficam na superfície, na forma, na
exterioridade. Porisso é que os políticos do Legislativo, os governantes do
Executivo, os juizes do Judiciário não aderem à Filosofia – eles têm pressa!
Estando assim apressados não querem pensar e vêem em todo aquele que pensa um
incômodo, um possível torturador, uma ameaça à estabilidade de sua CONDUÇÃO
BAIXA dos assuntos humanos. Todos os filósofos são, para eles, inimigos reais
ou potenciais, inimigos que já estão listados como tais ou pessoas (indivíduos,
famílias, grupos e empresas – neste caso sempre universidades e institutos) que
poderão comprometer as facilidades da vida, se dê esta sem ou com apossamento
do alheio. Filósofos são sempre suspeitos, porém ideólogos podem ser ou não
inimigos; serão desconfiáveis os do mesmo partido ideológico e possíveis (mas
nem sempre) adversários os dos outros partidos – eventualmente cairão na classe
dos inimigos toleráveis e compreensíveis, que se poderá com algum esforço ou em
alguma necessidade entender e aceitar e acolher. Mas não os filósofos, esses
sempre tiram os tapetes de baixo dos pés. Desde que os demais vértices não
questionam PROFUNDAMENTE os pareceres superficiais dos políticos eles podem ser
aberta ou veladamente amigos: no que cientistas são perigosos para os
políticos?
Então, a Filosofia não é
a fonte primária da Ideologia. É-o QUANDO REBAIXADA, quando privada de sua
consciência. Assim, a Ideologia é a Filosofia inconsciente, sentimental, não-racional.
Para ser ideologia certa posição filosófica DEVE SER REBAIXADA e para isso há
uma classe de quase-filósofos, de pretendentes, de pesquisadores e professores,
que faz a conversão ideológica das tensões filosóficas, isto é, de pelegos que intermedeiam
o desestressamento, digamos assim, das questões filosóficas, reduzindo-as ao
legível, ao que pode ser absorvido sem dano pelos ideólogos e pelos políticos.
A Ideologia é, conseqüentemente, apenas corpo, e a Filosofia é com toda certeza
a mente.
Quem faz esse
rebaixamento?
São aqueles
“intelectuais orgânicos” de que falava Gramsci. Eles não estão apenas colados,
não são apenas decalques das crenças capitalistas, eles são seus construtores.
Eles se organizam para tal, eles constroem as pontes ideológicas. Pois os
políticos não poderiam viver sem justificativas. Como não podem estudar
atentamente posições verdadeiras dos filósofos, nem têm competência para o
processo CUIDADOSO e verossímil de rebaixamento, para produção das
justificativas, devem incumbir outros. Ao contrário dos filósofos, sempre uma
pedra no sapato, esses “outros” são queridos e louvados, pois os políticos não
viveriam sem eles. E assim eles são pagos, mais do que com dinheiro: com
adulações, com bajulações, julgando-se todos grandes seres humanos.
Vitória, domingo, 26 de
outubro de 2003.
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