sábado, 17 de dezembro de 2016


Wuvei Brasileiro

 

                            Há uma música brasileira cantada pela Joyce que diz assim: “a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo”, que não sei de quem é.

                            Em todo caso, é oportunidade de raciocinarmos sobre a chance de aparecimento disso que denominei “wuvei brasileiro”. Wuvei é “inação” no taoísmo, surgido na China por volta de 600 antes de Cristo. Wuvei não significa não-ação, que é o contrário de ação, sendo esta obra, ato, atuação. Não-ação seria não obrar, não agir, não atuar, não movimentar (nem a si nem ao ambiente), estar parado.

                            Wuvei não é isso.

                            É ação na não-ação e não-ação na ação, é caminho do centro, como a China se diz o Império do Centro, no sentido de equilíbrio = T = TAO, na Rede Signalítica. É estar parado em movimento e estar em movimento, parado. É agir no momento certo e só fazer o mínimo necessário, o suficiente de máximo rendimento.

                            Ora, o que precisamos para o minimax, máximo com mínimo?

                            A receita está dada na música.

                            1) a mente quieta: raciocínio minimax.

                            2) a espinha ereta: postura minimax;

                            3) o coração tranqüilo: percepção minimax.

                            Pela MENTE QUIETA devemos ter um modelo de mundo sem excesso de categorias, como pedia Occan. Pela ESPINHA ERETA devemos manter-nos firmes em nosso propósito ou linha-de-vida, categoricamente decididos a trilhar o caminho desde cedo estabelecido. Pelo CORAÇÃO TRANQÜILO devemos seguir nossa criação, estando em harmonia com o ambiente onde vivemos sem sujeição, com agudeza de espírito.

                            Então, é uma excelente receita de vida.

                            O raciocínio ou entendimento ou inteligência ou juízo calado, sem rebuliços, sem tropeços, sem abusos, sintanalisando os objetos, os ambientes e as pessoas sem ataques de orgulho de si ou desprezo aos outros.

                            A postura ou atitude, ou caráter ou estilo, ou jeito ou opinião, ou maneira de ser ou posicionamento digno, correto, honesto, honrado, incorruptível, sem soberba, sem empáfia, sem fatuidade, colada à nobreza do ser e do ter, do estar-no-mundo.

                            A percepção ou apreensão, ou sensação ou entendimento, ou abrangência aguda sem ser excessiva ou exagerada, mantendo-se rente à utilidade perfeita.

                            No conjunto isso é o próprio taoísmo, e é budismo também, uma receita poderosa do Oriente. E leva ao melhor do cristianismo, aquilo mesmo que Cristo pregou, ou seja, concepção, conceituação ou razão perfeita, dignidade ou decoro ou compostura ou nobreza de gestos ou brio perfeito, e percepção perfeita do todo. Mente ou inteligência ou razão quieta, coração ou memória ou sentimento tranqüilo e espinha ou equilíbrio ou controle/comunicação ereta, ou T, entre mente e corpo, as “trezentas mil folhas tremendo na árvore tranqüila”.

                            Quem poderia querer mais que isso?

                            A Joyce diz: “monsieur Binot, aprendi a sua lição, respirar sempre pelo nariz”, etc. Enfim, a letra é um sacramento da sabedoria musical nacional. Induz todo um estado do SER/TER/ESTAR belíssimo, que poucos ouvirão e muito menos seguirão.

                            Vitória, domingo, 16 de junho de 2002.

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