segunda-feira, 19 de dezembro de 2016


Comodidades

 

                            No seu jeito peculiar de escrever, Juan Enriquez, em O Futuro e Você (como a genética está mudando sua vida, seu trabalho e seu dinheiro), São Paulo, Negócio, 2002, diz na página 54: “O mercado mundial está inundado de grãos, leite, aço, plástico, petróleo... De 1845 a 1998, o preço básico das commodities flutuou de maneira significativa... Mas a tendência tem sido inflexível. A média das commodities vale hoje 1/5 do que valia há um século e meio”.

                            Ou seja, redução a 20 % em 150 anos.

                            Enquanto isso os países do primeiro mundo vêm colonizando os demais com o poder da mente, da inteligência, das patentes.

                            Por acaso estive folheando o Atlas Geográfico Melhoramentos, do Padre Geraldo José Pauwels, 53ª. Edição, São Paulo, Melhoramentos, 1990. Veja que 1990 – 53 (supondo que foi uma edição por ano) = 1937. Isso era dito com satisfação, anteriormente, ao passo que agora vemos que é uma aberração. É uma commoditie = comodidade, uma conveniência, um conforto para quem produz, pois pouco é preciso modificar a cada ano. Entrementes o mundo mudou muito em 53 anos e mais ainda de 1990 a 2002, mais 12 anos. Não vou me admirar nada se a Melhoramentos estiver na 65ª. edição do Atlas.

                            De 1990 para frente nos EUA e de 1995 para frente no Brasil entrou a Internet. Podemos encontrar nela, agora, mapas excepcionais, fantásticos mesmo, sem falar no novo Atlas da Microsoft, o Encarta eletrônico. E sem mencionar minhas propostas de modificação, queira ver.

                            Mas, antigamente alguém fazia uma coisa e ia repetindo indefinidamente, como os professores das universidades federais, que trabalhavam para montar uma apostilha nos primeiros dois anos e depois passavam mais 28 (aposentadoria aos 30 anos de serviço para professores). Tudo mudou, mais recentemente, principalmente nas escolas privadas, onde os salários são maiores e a competição é acirrada, levando ou prometendo levar os alunos das escolas públicas (eles só não saem porque é de graça e ainda têm alguns bons professores).

                            Isso levou ao comodismo, ao excesso de comodidade, à superafirmação do conforto de viver dos louros do passado.

                            Em conseqüência disso, é lógico, o mundo decaiu notavelmente em muitas partes acomodadas do planeta, inclusive no Brasil com cultura de fundo português.

                            O resultado foi trágico para o aprendizado e para todas as áreas socioeconômicas, com considerável atraso frente às congêneres do mundo inteiro, diante dos competidores que não ficaram dormindo no ponto.

                            Quem ficou no “feijão-com-arroz” de sempre perdeu. Quem só plantou café, sem melhorar as estirpes, perdeu. Quem ficou colhendo cobre na Natureza, como o Chile, perdeu, tendo que produzir cada vez mais por cada vez menos dinheiro. Quem acreditou no conforto, quem desacreditou da competição como sustento do futuro, perdeu muito, perdeu até tudo, como a URSS, que virou ex-URSS em favor dos predadores que estão consumindo a CEI, Comunidade dos Estados Independentes, e todos os países das redondezas, fora alguns que se lançaram à corrida.

                            Perdeu, está perdendo, perderá.

                            Afinal de contas, também na sócioeconomia existe a competição pela sobrevivência e a sobrevivência dos mais aptos, dos menos acomodados, dos não ficam para sempre deitados em berço esplêndido.

                            Vitória, terça-feira, 30 de julho de 2002.

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