As Duas Vias
Esse tipo de coisa
só acontece na China.
Em 1984, nos acordos
dos governos da China e do Reino Unido para reincorporação da Hong Kong,
falou-se em “um país, dois sistemas”,
o que já vinha de Deng Xiaoping, o qual se apoderou do poder depois da morte em
1976 de Mao Zedong (Tsé Tung), chamado de O Grande Timoneiro, ou condutor.
Na luta subseqüente com
o Bando dos Quatro, a ala moderada saiu vencedora e iniciou as reformas a
partir de 1978, no que ficou sinalizado como “economia socialista de mercado” ou “as duas vias”: a China segue socialista, mas adota uma economia de
mercado, próxima do ocidental, o que proporciona crescimentos seguidos de mais
de 10 % ao ano (ao contrário do “milagre brasileiro”, o impulso dura até hoje,
mais de duas décadas de explosão econômica).
Quem já viu uma
coisa dessas?
Em toda parte a
mínima abertura ao Ocidente levou à queda da sócioeconomia local, mas lá, não.
Resistem já há 24 anos. E, ao contrário do que esperavam os analistas
apressados, a China não sucumbiu às promessas ocidentais. Com 1,3 bilhão de
indivíduos e 9,5 milhões de km2 de área segue lépida e faceira, como um
menininho recém-acordado, cheio de energia, numa sociedade que de existência
contínua tem uns 3,5 mil anos, fora o período dos reinos para trás,
estendendo-se até seis mil anos antes de Cristo.
Em vez de seguir com
uma perna só, seguem com duas, mantendo o equilíbrio do corpo e da mente.
Não é à toa que se
dizem o Império do Centro, quer dizer, entre esquerda e direita.
Dispõe de uma
religião sem Deus, importada da Índia e desenvolvida ali até os limites, o
budismo, de Sidarta Gautama, o Buda (563-483 a.C.), o Iluminado. De uma
autêntica religião do Estado só
compreendida e aplicada lá, o confucionismo, de Kong Fu Tsé, Confúcio (551-479 a.C.).
E de uma religião que não apenas não tem Deus, mas está até além dos mundos,
uma teoria do equilíbrio, do T, o taoísmo, de Lao Tsé (por volta de 600 a.C.).
Embora o Estado tenha renunciado às religiões, é certo que elas continuam
impregnando as elites e o povo, e os governempresas, com uma postura
característica altamente firmada em bloco. A extrema proteção do Estado do
confucionismo misturada com uma prática dos ciclos do taoísmo, tudo junto do
empírico balanceamento das personas do budismo. De um lado o budismo dá comedimento
às pessoas (indivíduos, famílias,
grupos e empresas), do outro o confucionismo estabiliza os ambientes (municípios/cidades, estados, nação e mundo exterior),
enquanto o taoísmo pelo centro diz que o T, ou equilíbrio, é permanente. Além
disso, dizem que CRISE é caractere composto de PERIGO + OPORTUNIDADE.
Planeja para prazos
curtos que no Ocidente seriam julgados longos. Não se assusta com os choques,
sabendo que a volta dialética (impressa no taoísmo) trará a incorporação e
assimilação dos estrangeiros.
É sem dúvida alguma
um povelite/nação diferente, um país que deve ser estudado.
Quando ameaçado pelo
Ocidente, em primeiro lugar criou a República em 1911, depois a República
Democrática ou Comunista em 1949 e, em 1978, sob nova ameaça, as Duas Vias. Em
vez do monolítico sistema soviético, aceitou “abrir-se” ao estrangeiro, quer
dizer, absorvê-lo, o que está se completando com as reincorporações de Hong
Kong em 1997, de Macau em 1999 e as conversações com Taiwan, envoltas em falsa
crise, por via das quais vai aspirando toda a tecnociência ocidental e
japonesa, sequer pagando os direitos de patente, simplesmente copiando tudo. E
quem ousa falar alguma coisa?
O resultado é que
vai emergindo uma verdadeira superpotência permanente, diferente da URSS,
estável por si mesma, com a qual não se pode mexer (porque quem gostaria de
herdar a carga alimentar de 1,3 bilhão de indivíduos?).
Que criaturas!
Vitória,
terça-feira, 07 de maio de 2002.
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