A Troca de
Info-Controle
De onde moro pode-se
ouvir os gritos de crianças, meninos e meninas, no pátio do SESI, Serviço
Social da Indústria, sustentado pela federação das indústrias, nacional, e por
sua seção capixaba, a FINDES, Federação das Indústrias do ES.
São gritos e
gritinhos excitados, de crianças maiores e menores, praticando vários jogos e
brincadeiras.
No livro Visões do
Futuro (como a ciência revolucionará o século XXI), Rio de Janeiro, Rocco,
2001, o autor, Michio Kaku diz, à página 117: “Mesmo ‘diversão’ tem um
importante papel evolutivo. Qualquer um que já tenha observado crianças
brincando terá notado que suas brincadeiras imitam complicadas
interações sociais adultas. As regras de comportamento aceitável da sociedade
adulta são bastante complexas, tendo sido desenvolvidas ao logo de milênios; as
brincadeiras englobam uma faceta minúscula da sociedade humana e a tornam digerível por crianças.
É porisso que elas brincam de ‘polícia e ladrão’, ‘médico’, ‘professor’ e assim
por diante.
“Somos, é claro,
inconscientes de tudo isso. Uma vez perguntei a uma criança por que ela estava
se ‘divertindo’ com uma brincadeira de ‘professor’, sugerindo que talvez isso
ajudasse a explicar o complicado processo de aprender na escola. Ela olhou para
mim, como se eu fosse de Marte, e respondeu autoritariamente: ‘Divertido é
divertido. Estou me divertindo porque é divertido’. Pareceu satisfeita consigo
mesma, como se tivesse acabado de me dar a explicação definitiva do
‘divertido’”, grifo, itálico e negrito meus.
Como nós somos
bobocas!
Veja que a criança
surge sem uma língua psicológica, só com as formestruturas biológicas básicas
da nossa espécie, tendo, portanto, apenas as estruturas que permitirão
aprendê-la. Se você tem um carro nada garante que vá aprender a usá-lo. Você
deve fazer o esforço de aprendizado. Aprender a língua é incomparavelmente mais
difícil que aprender a dirigir. Tanto é assim que milhões, bilhões passam a
vida sem consegui-lo.
Depois, há a
formestrutura em camada dos mundos, que são quatro, do primeiro mundo ao
quarto. Há distinções sutilíssimas de país a país, sendo eles em volta de 220.
Observe que são,
segundo dizem, 6,5 mil as profissões, e cada ser humano deve fazer sua escolha,
com base nos condicionamentos das classes de riqueza (ricos, médios-altos,
pobres e miseráveis), de sexo (masculino, feminino, pseudo-homens e
pseudomulheres), de raça (sujeições dos negros/africanos, dos
índios/americanos, dos amarelos/asiáticos e dos brancos/europeus), das classes
de trabalho (operários, intelectuais, financistas, militares e burocratas), de
estatura psicológica (embora haja sete níveis – povo, lideranças,
profissionais, pesquisadores, estadistas, santos/sábios e iluminados -, pelo
livre arbítrio cada um pode rejeitar sua posição natural e lutar por outra), de
inserção no conhecimento (alto: Magia, Teologia, Filosofia e Ciência; baixo:
Arte, Religião, Ideologia e Técnica, e no geral Matemática), na construção de
sua psique: Figura (quem ele será?), Objetivos (para quê?), Economia/Produção
(com quê?), Sociologia/Organização (como?) e Geo-História (ou espaçotempo:
quando e onde?), segundo as chaves do SER (CS: memória, inteligência e
controle/comunicação) e do TER (CT: matéria, energia e informação), enfim, do
info-controle ou IC.
E aí vem a Bandeira
Elementar: quais são as relações corretas e aceitáveis com o ar, a água, a
terra/solo e o fogo/energia, e no centro com a Vida, e no centro do centro com
a Vida-racional?
Faça o favor de
notar que a criança deve enfrentar milhares de situações no decorrer de sua
vida, observando o que os adultos fazem. PARA TODO SER, e especialmente todo
ser humano, a
questão é sempre de decisão, quer dizer, há uma encruzilhada em cada segundo,
pedindo escolha. Veja que uma pessoa adulta, de 77 anos (como minha mãe, que
nasceu em 18 de agosto de 1924) já viveu até hoje, 23 de maio de 2002, 28.402
dias, dos quais 1/3 de decisões inconscientes, e 2/3 de decisões conscientes,
grosso modo. Tomando as horas de vigília, seria coisa de 18,9 mil dias, uns 68
milhões de segundos. Agora, tendo acumulado experiência, ela pode usar o
passado como balizamento, como tabela de construção do futuro. A cada segundo
ela se guia pelas experiências anteriores, e é menos refém das dúvidas.
Uma criança, não.
Quando ela emerge do útero, onde esteve superprotegida, só tem experiências de
ser alimentada e superprotegida. Do lado de fora deve começar toda uma luta nova.
No primeiro segundo tem 1/n do potencial do adulto de maior e melhor
experiência, e tempo de vida. Que heranças sociais/civilizatórias/cultas ela
recebeu? Não é a mesma coisa uma criança norueguesa supercuidada, que não deve
tomar decisão alguma de extrema relevância para a sobrevivência biológica, e
uma outra dos lugares mais miseráveis e famintos da Terra.
Por outro lado, as
crianças dos lugares mais ricos (em todos os sentidos) deve preparar-se com
maior voracidade para enfrentamento das pessoambientes (pessoas: indivíduos,
famílias, grupos e empresas; ambientes: municípios/cidades, estados, nações e
mundo).
Quando a gente vê
por este ângulo, não é de admirar que as crianças fiquem excitadas. Não é mesmo
nada de admirar. Elas NÃO ESTÃO imitando as interações adultas, estão decidindo
sobre estas segundo a segundo. Se as crianças fossem os idiotas que os adultos
imaginam, como elas poderiam se tornar as criaturas tão espertas que os adultos
pensam que são? Pelo contrário, as pessoas, à medida que vão crescendo,
tornam-se sempre mais bobas e menos criativas. PORISSO Jesus disse: “sede como
crianças”, isto é, participativas, inquisitivas, curiosas, devotadas aos jogos,
abertas, etc.
As crianças são
espertíssimas, os adultos é que somos bobocas.
O mundo não se torna
mais complexo à medida que vamos crescendo, se torna mais simples. Ele é
incomparavelmente mais complexo no primeiro segundo, e todas as infinitas
relações dois-a-dois devem ser deslindadas em 1/∞ do tempo (quer dizer, 0 +
épsilon, um infinitésimo de cada vez). Claro que, na prática, não é infinito,
pois se trata de um universo contingente, mas mesmo assim é um número muito
grande.
Eis porque as
crianças estão excitadas. Elas não estão só jogando bola, que é a visão
formestrutural mais externa, estão trocando info-controle/comunicação, ou seja,
comunicando decisões de aprendizado geral sobre o banco de informações
oferecido pelas pessoambientes. Não foi à toa que a criança disse estar se
divertindo. Se não fosse divertido, se fosse aborrecido, ela não teria dito,
porque quando se é criança vai-se direto ao ponto, não há tempo a perder. São
os adultos que perdem tempo, que se refreiam, como estúpidos que são.
Elas ficam excitadas
porque não há impedimento, não há limites, e o aprendizado é feito em ritmo
aceleradíssimo, intensíssimo, em velocidade que os adultos não sabem
acompanhar. Eu me cago de rir quando vejo como os adultos quase todos tratam as
crianças, transformando-as em novos adultos mentalmente deformados e sempre
desinteressantes. Como aquelas incríveis criaturinhas, belas e deslumbrantes,
são colocadas em talas de estreitamento mental, tornando-se esses adultos
insossos que vemos, sem um pingo de curiosidade.
Como o mundo fica
feio, meu Deus!
Vitória,
quinta-feira, 23 de maio de 2002.
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